João Eduardo de Lima Carvalho –
Primeiramente, é fundamental deixarmos de lado o pensamento de que eleições são pacíficas e tranquilas. Isso é pensamento de amador. Eleição é guerra.
A dinâmica eleitoral mudou e não foi apenas a pandemia da Covid-19 que fez com que ela mudasse. A forma com que a campanha eleitoral é realizada vêm sofrendo mudanças significativas ao longo dos pleitos e isso se deve por uma série de fenômenos: a internet, a ascensão das redes sociais, o desenvolvimento tecnológico e, também, neste ano, pela própria pandemia.
A velha concepção das eleições sendo representadas por um “jogo de xadrez” não faz mais o menor sentido diante das mudanças no jogo eleitoral. A ação eleitoral atual está ligada a uma postura de quem mais sabe utilizar a informação (ou a desinformação) ao seu favor, visto que estas estão cada vez mais rápidas e as postagens em redes sociais podem, em um curtíssimo espaço de tempo, modificar, drasticamente, o resultado do pleito. Além de ter uma boa estratégia, um cronograma de campanha e profissionalismo na condução da eleição, é fundamental que o candidato e sua equipe saibam aproveitar as oportunidades que aparecerem no decorrer da disputa, e quando essa oportunidade não estiver disponível, que se crie uma (claro, sempre diante da assistência de um profissional jurídico ligado à área eleitoral). Somente paciência e estratégia resultará na derrota. Uma campanha moderna depende de estudar o seu adversário e usar tudo que é legalmente permitido ao seu favor. Neste sentido, a condução da campanha se torna muito mais dinâmica, rápida e volátil.
Esta eleição, muito provavelmente, será quase que inteiramente digital e o candidato que estiver preparado (e possuir postura para operar nas redes sociais) terá uma significativa vantagem. E neste sentido é fundamental que tenhamos em mente que a internet não é “terra sem lei”, aliás os cuidados para a campanha digital são maiores do que na campanha física, uma vez que basta um simples printscreen para ensejar uma verdadeira disputa judicial perante a Justiça Eleitoral, cujas penas podem ser pesadíssimas, tanto para a vida política do candidato, como para seu bolso. Portanto, a campanha digital demanda uma maior preparação e um maior planejamento, de modo que, uma vez publicada nas redes sociais, por exemplo, a informação será transmitida com uma velocidade enorme para um número gigantesco de destinatários.
Aproveitar essa velocidade de difusão de informações em um período extremamente curto para um número altíssimo de pessoas demonstra como é essa nova dinâmica eleitoral. Um exemplo muito interessante disso é a divulgação de ideias do pré-candidato (ou candidato, quando este passar pela convenção partidária). Antes, essa divulgação era feita pessoalmente ou pelos meios de comunicação tradicionais. Com a ascensão das redes sociais, essas informações enfrentam uma dualidade: um maior espaço para a divulgação de ideias e, em contrapartida, uma maior incidência de possíveis críticas e comentários negativos. É fundamental que o candidato tenha maturidade para observar estes feedbacks para que, com essas informações, sua campanha cresça, angarie mais votos e, por objetivo final, obtenha a vitória no pleito.
Essa mudança na forma de se fazer propaganda eleitoral jamais foi vista ou, quiçá, cogitada em alguns anos atrás. Quem, em seus maiores delírios, poderia imaginar que uma campanha presidencial poderia ser definida através de pequenos aparelhos eletrônicos (notebooks, tablets, smartphones)? Ou ainda, que uma nação, por meio de plebiscito, decidisse sair de uma união econômica e política, por conta de informações torrenciais (muitas vezes, falsas, é verdade) e utilização de mineração de dados de comunicação estratégica (vide caso da Cambridge Analytica), como o caso do Brexit?
Todos esses exemplos demonstram como o método eleitoral mudou. Essa nova realidade vai favorecer quem está preparado e vai devorar quem não estiver. A velha mentalidade de “turnos do oponente”, em que cada um espera pacientemente o movimento do adversário, esperando que este cometa uma falha para, aí sim, contra-atacar, está no passado. O darwinismo eleitoral desintegrou o “tabuleiro eleitoral tradicional” e as peças estão mortas.
- João Eduardo de Lima Carvalho – Advogado pós-graduado em Direito Eleitoral, graduando em Ciência Política e colaborador deste Diário. Reside em Jales/SP.