O Professor e o Prego: Como Fixar o Conhecimento em Terrenos Difíceis

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Alberto Martins Cesário, professor e escritor - Foto: Reprodução

Alberto Martins Cesário, professor e escritor

Instagram: @alberto.prof

Certa vez, em uma sala de aula cheia de energia e potencial, me vi em uma analogia inusitada, me comparei com um prego. Talvez você esteja pensando que isso parece um pouco forçado, mas deixe-me explicar. Imaginem por um momento que cada um de nós, professores, seja como um prego que deve se firmar em uma superfície às vezes complicada e imprevisível. Essa analogia me ajuda a refletir sobre o nosso papel diante dos alunos mais desafiadores, aqueles que testam nossa paciência e exigem mais de nossa criatividade.

Vou começar compartilhando uma experiência pessoal, algo que acredito que muitos de vocês já enfrentaram. Em uma manhã quente de um dia de muito calor, entrei na sala de aula com a esperança de que o dia seria produtivo. No entanto, logo percebi que a situação estava longe do ideal. Havia um grupo de alunos que parecia decidido a transformar cada atividade em uma competição para ver quem conseguia desviar mais a atenção da turma.

Enquanto tentava abordar a matéria de maneira envolvente, vi um aluno atrás de outro se levantar para ir ao banheiro, perguntar se podia ir beber água ou simplesmente olhar para o relógio com uma expressão que sugeria um profundo tédio. Não se tratava apenas de uma questão de comportamento. O desafio estava em como manter a estrutura da aula e, ao mesmo tempo, lidar com o caos iminente.

Me senti naquele momento como um prego, lutando para me firmar na superfície irregular do meu papel como educador. A analogia do prego não é apenas sobre a firmeza, mas também sobre a adaptação e a resistência. Às vezes, o prego precisa ser batido mais fundo, às vezes é necessário ajustar a abordagem para garantir que ele se encaixe bem, sem sair do lugar.

Lidar com alunos difíceis, aqueles que se recusam a prestar atenção ou desrespeitam as regras, pode ser como tentar fixar um prego em uma peça de madeira torcida. O esforço pode parecer desproporcional ao resultado imediato, mas é fundamental para criar um ambiente de aprendizado funcional e positivo.

Eu aprendi, ao longo dos anos, que a chave para lidar com esses desafios é a paciência, a criatividade e, acima de tudo, a empatia. Um prego que é batido com força, sem considerar a textura da superfície, pode acabar entortando. Da mesma forma, um professor que não leva em conta o contexto emocional e psicológico dos alunos pode encontrar resistência e desmotivação.

Uma abordagem que tem se mostrado eficaz é a criação de um ambiente onde os alunos se sintam valorizados e compreendidos. Em vez de ver os comportamentos desafiadores como uma afronta pessoal, procuro entender o que está por trás deles. Muitas vezes, esses comportamentos são sinais de dificuldades que os alunos enfrentam fora da sala de aula, que vai desde problemas familiares até uma simples necessidade de mais atenção e compreensão.

Um exemplo claro dessa abordagem aconteceu em uma de minhas turmas. Tínhamos um aluno, que parecia sempre estar à margem, com dificuldade para se concentrar e muitas vezes causando interrupções. Em vez de simplesmente repreendê-lo, decidi investir um tempo extra para conhecê-lo melhor. Descobri que ele estava passando por uma fase difícil em casa e que seu comportamento estava profundamente ligado a esses problemas pessoais. Ao mostrar-lhe apoio e adaptar a forma como interagia com ele, consegue não apenas ajudá-lo a melhorar seu comportamento, mas também a envolvê-lo mais nas atividades da aula.

Além disso, é essencial para o professor se manter flexível e adaptável, tal como um prego que precisa ser ajustado ao ambiente em que está sendo inserido. Em vez de lutar contra a maré, procure ajustar sua abordagem de ensino para atender às necessidades da turma. Isso pode significar mudar a dinâmica das aulas, incorporar atividades mais interativas ou mesmo trabalhar em pequenos grupos para garantir que cada aluno receba a atenção necessária.

Outro ponto crucial é a importância da comunicação clara e consistente. Em minha experiência, estabeleci regras e expectativas desde o início do ano letivo, mas sempre estive aberto ao diálogo com os alunos. Muitas vezes, ao explicar o porquê de certas regras e ouvir as preocupações dos alunos, conseguimos chegar a um entendimento mútuo que facilita a cooperação.

Por exemplo, em um projeto recente, tivemos uma série de discussões sobre como trabalhar em equipe e como cada um pode contribuir para o sucesso coletivo. Os alunos tiveram a oportunidade de expressar suas ideias e preocupações, e isso criou um senso de pertencimento e responsabilidade. A colaboração e a participação ativa foram significativamente aumentadas, e os desafios de comportamento diminuíram.

A analogia do prego também nos lembra da importância de reconhecer e celebrar os pequenos sucessos. Cada vez que um aluno que costumava ser desatento participa ativamente ou demonstra um comportamento positivo, é como bater um pouco mais o prego, firmando-o na superfície. Esses momentos devem ser reconhecidos e valorizados, pois são sinais de progresso e conquistas, mesmo que pequenos.

Em resumo, ser professor é um desafio constante, e lidar com alunos difíceis pode parecer uma tarefa impossível. No entanto, é crucial lembrar que, assim como um prego que precisa se ajustar ao material em que está inserido, nós também precisamos nos adaptar e ser resilientes. A empatia, a comunicação eficaz e a flexibilidade são ferramentas indispensáveis para garantir que, apesar das dificuldades, possamos criar um ambiente de aprendizado positivo e produtivo.

Ao refletir sobre essas experiências, percebo que cada desafio é uma oportunidade para crescer e aprimorar nossa prática. Assim como o prego, que, quando bem fixado, contribui para a estrutura e a estabilidade, nós, professores, desempenhamos um papel vital na formação e no desenvolvimento dos nossos alunos. A nossa capacidade de lidar com as dificuldades e de encontrar soluções criativas é o que realmente define o impacto que teremos em suas vidas.

Portanto, continuemos a nos firmar, ajustar e, acima de tudo, a acreditar no potencial transformador da educação. Cada esforço que fazemos para superar os desafios é uma prova do nosso compromisso e paixão pela profissão. E, como qualquer bom prego sabe, é o trabalho árduo e a dedicação que realmente sustentam a estrutura que construímos. Assim, ao final de cada dia, quando olhamos para a sala de aula e vemos o progresso, por menor que seja, saibamos que o trabalho árduo vale a pena. Porque, como o prego, é a nossa persistência e dedicação que realmente sustentam a estrutura da educação e moldam o futuro de nossos alunos.

Grande abraço e continuem firmes a cada martelada…

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