O ESTERIÓTIPO DA PERFEIÇÃO

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Abrimos as redes sociais e vemos uma enxurrada de corpos perfeitos, gente rica e bem-sucedida, viagens e restaurantes caros. Nossa! Como minha vida é ruim? Este é o primeiro pensamento que vem à cabeça.

A verdade é que as postagens visam atrair você para o belo. Quem não gosta do que é bonito? Quem não gosta de conforto? Quem não gosta de luxo?

Há quem diga não gostar de ostentação e que prefira as coisas simples da vida: sentar-se à beira de um rio e contemplar a natureza, ou uma casinha simples em um vale verdejante com um lindo riacho, ou talvez uma casinha no alto do morro, tal qual a música do Armandinho, com uma belíssima vista do mar.

Ora, a perfeição é subjetiva. Cada ser humano tem o seu modelo de vida perfeita, casa perfeita, parceiro perfeito, mas pasmem, luta com todas as forças para conseguir o intento de ter. A busca é frenética pelo ter, possuir, conquistar. Quando chega ao destino, vê-se, novamente, perdido em meio ao tédio e quer algo mais. Estranha a insatisfação do ser humano, não?!

Um estudo realizado pela Universidade da Virgínia, em 2014, colocou pessoas dentro de uma sala, trancadas por um período curto, sem nada para fazer, apenas um botão que dava choques leves. Acreditem ou não, as pessoas começaram a apertar o botão após um determinado tempo para conseguir vencer o tédio. A pesquisa revelou que, apesar de desagradável, o choque era preferível a ficar apenas com seus pensamentos. Quão torturante podem ser seus pensamentos? Então, o que quer o ser humano?

Acredito que ninguém saiba o que verdadeiramente quer. Segue em busca pelo inatingível ou por algo que, momentaneamente, julgue melhor, pois outro ostentou aquilo. Parece que tudo está em torno do desafio, do obstáculo. Esses parecem ser os motores de ignição que impulsionam o ser humano a acordar pela manhã.

Em busca da perfeição sonhada, seja em qual campo de atuação for, pais trabalham demais, mulheres arriscam-se em cirurgias, por vezes, desnecessárias, e a vida passa. O tempo é um cobrador cruel. Quando menos se espera, os filhos já são adultos, a saúde já não é a mesma, a disposição está em baixa, os bens, outrora ostentados, perderam valor de mercado.

Isso tudo nos faz perceber que não existe perfeição. Tudo está envolto ao nosso modelo de mundo atual. Os múltiplos estímulos diários nos fazem questionar a atual condição e nos transforme em máquinas de produtividade. Mas o que verdadeiramente importa está ali, diante dos nossos olhos, diariamente.

A luz da manhã e o entardecer seguem impossíveis. Pouco olhamos para contemplar a beleza do amanhecer. Saímos apressados e desperdiçamos cada momento: o cheiro de café pela manhã, o bom dia sorridente dos filhos, o cachorro que abana seu rabo, o gato que acarinha as pernas, o sol que entra pela janela. Tudo é tão remoto que nos tornamos máquinas do desejo e da perfeição.

Em meio a isso, esquecemos de vivenciar a verdadeira beleza. A possibilidade de acordar pela manhã e desfrutar de mais um dia de vida, já deveria ser motivo de comemoração. A presença da família, ainda que seja dos bichinhos, deveria ter o poder de preencher qualquer vazio. O emprego, a saúde, a escola, tudo é motivo de agradecimento.

Não estou afirmando que devemos deixar de lutar para alcançar sonhos, mas sim que podemos ser gratos por tudo o que já temos. Você já pensou em agradecer?

O universo é uma força incrível da criação. Como ele vive, sente a energia que emana de nós. Se reclamo, peço em dobro. Se agradeço, abro as portas para o novo. Tudo é energia. Tudo é vida e ela é perfeita do jeito que é.

Alexandra A.S. Fernandes: Graduada em Letras – Português/Espanhol pela UNIP. Pós-graduada em Metodologia de Ensino das Línguas Portuguesa e Espanhola pela UCAM. Autora do livro – Autismo – Ensinar aprendendo e aprender ensinando. Diretora Social e Acadêmica da ACILBRAS. Funcionária pública e Professora de Análise Linguística do Piconzé Anglo e HF Cursos Jurídicos. Escritora, Terapeuta Integrativa, Astróloga e Artesã.  Redes sociais: Instagram @profa_alexandra e @aora_terapias; Youtube Profa. Alexandra – Tirando dúvidas de português.