Alberto Martins Cesário, professor e escritor
Eu sempre gosto de pensar no conhecimento como um grande rio. Um rio que não para de correr, que segue seu curso por onde encontra espaço, sempre fluindo em direção ao mar da sabedoria. Quando me deparo com essa imagem, lembro que a educação, como o rio, também tem sua correnteza, seus obstáculos, mas, principalmente, sua imensa importância para a formação das novas gerações. E no meio dessa jornada, o papel do professor é como o do guia, aquele que conhece as águas e as correntes, que prepara o caminho para que o aluno nade e siga seu curso.
Porém, ao contrário do que muitos pensam, não é fácil ser esse guia. Ser professor, principalmente na geração atual, é um dos desafios mais complexos e, ao mesmo tempo, mais nobres que existem. A cada dia, as águas dessa correnteza educacional se tornam mais turbulentas, repletas de novos obstáculos, e, muitas vezes, os professores se sentem como navegadores solitários, com a missão de manter a navegação segura, sem perder o rumo.
Mas, mesmo diante de tudo isso, é preciso seguir. O rio não para de correr, e nós, professores, também não podemos parar de ensinar, de guiar, de lutar pela educação.
O desafio de ensinar para uma geração em transição é grande, pois temos uma geração diferente. Eu, como professor, posso sentir isso a cada dia, em cada sala de aula. Eles não são mais os mesmos alunos de dez ou quinze anos atrás. Hoje, as crianças e adolescentes convivem com a tecnologia de uma forma que poucos de nós, educadores, imaginávamos. Vivemos numa era digital, onde tudo é instantâneo, onde a informação está ao alcance de um clique. Isso, por um lado, é maravilhoso, mas também traz grandes desafios para quem está na linha de frente da educação.
Antigamente, era possível segurar a atenção de uma turma com livros, quadro negro e a voz do professor. Mas hoje? É preciso muito mais do que apenas palavras para conquistar a atenção dos estudantes. O celular, o tablet, o computador está presente o tempo todo. A distração é quase constante. O aluno não está mais apenas ouvindo, ele está interagindo com o mundo digital, onde tudo é rápido, visual e envolvente. E aí entra o grande desafio para o professor: como prender a atenção de um aluno que tem o mundo inteiro na palma da mão?
Eu diria que a primeira chave é a compreensão. O professor precisa entender que não se trata de lutar contra a tecnologia, mas de utilizá-la ao nosso favor. Por exemplo, ao invés de ver o celular como um inimigo, o professor pode transformá-lo em uma ferramenta para enriquecer o aprendizado. Existem inúmeras plataformas digitais que ajudam os alunos a entenderem melhor as matérias, a aprender de forma interativa, dinâmica e até divertida.
Mas, é claro, não podemos cair na tentação de acreditar que a tecnologia resolve tudo. O desafio maior continua sendo o humano. O ensino de qualidade nunca pode ser substituído por um aplicativo ou um vídeo no YouTube. O professor continua sendo o pilar essencial dessa construção.
E, como se não bastasse os desafios diários da sala de aula, ser professor também exige uma dose de resistência emocional que poucos compreendem. O desgaste que o educador enfrenta muitas vezes é invisível aos olhos da sociedade. São horas de preparação de aulas, reuniões, avaliação de trabalhos, além do esforço constante para manter o engajamento dos alunos. A cada dia, é um novo desafio. Cada turma tem suas peculiaridades, suas dificuldades, e o professor deve ser capaz de lidar com todas elas com dedicação e carinho.
Sem contar que, muitas vezes, o professor é um verdadeiro “multiprofissional”: ele é psicólogo, conselheiro, amigo, e ainda precisa se reinventar para ser pedagogo, instrutor, motivador. E tudo isso com um salário que muitas vezes não condiz com a responsabilidade da função. No entanto, a paixão pela profissão é o que mantém a chama acesa.
Quem é professor sabe do que estou falando. Cada olhar, cada sorriso de um aluno que aprendeu algo novo, cada momento de superação de um estudante, é uma recompensa que não tem preço. E mesmo com todos os desafios, o professor se sente impulsionado a seguir em frente, porque entende que sua missão é maior do que qualquer obstáculo. Daí surge a importância de ensinar o “nadar” nas águas do conhecimento.
Quando falo que o conhecimento é como um rio, é importante entender que, como educadores, nosso papel não é simplesmente empurrar os alunos para a água, esperando que eles nadem sozinhos. O nosso papel é guiá-los, é ajudá-los a desenvolver a confiança necessária para que se lancem nessas águas com segurança e autonomia.
Em um mundo tão volátil e imprevisível, o papel do professor é mais importante do que nunca. Não se trata apenas de ensinar a multiplicação ou as fórmulas da física, mas de ensinar a pensar, a refletir, a questionar, a ter curiosidade. E essa é uma habilidade essencial para qualquer ser humano, independentemente da profissão ou área de atuação. O professor ensina a navegar nas águas do pensamento crítico, a fluir com as ideias e a tomar decisões conscientes.
E isso exige paciência, porque o aprendizado não acontece da noite para o dia. O conhecimento é um rio que leva tempo para ser desbravado, que precisa ser cuidadosamente cultivado. O professor não pode esperar que o aluno simplesmente se jogue no rio e nade como um profissional desde o início. O caminho até a maturidade acadêmica e intelectual é longo, e cabe ao educador dar o primeiro empurrãozinho.
Por isso vivemos nos adaptando às novas realidades, buscando soluções criativas no ensino. Uma das qualidades mais impressionantes dos professores é a sua capacidade de adaptação. Diante de tantas dificuldades, os educadores têm se mostrado incansáveis na busca por novas formas de fazer a educação funcionar. Mesmo com a falta de recursos, a estrutura deficiente em muitas escolas e as questões emocionais envolvendo os alunos, os professores continuam a inovar. É impossível não admirar essa resiliência.
Em tempos de pandemia, por exemplo, quando o ensino remoto virou realidade, muitos professores se reinventaram. Eles se lançaram em plataformas online, aprenderam novas tecnologias e tentaram criar formas de manter o vínculo com seus alunos, mesmo à distância. E o mais impressionante é que, com o passar do tempo, muitos desses professores perceberam que o ensino remoto também tem suas vantagens. Mesmo quando voltaram para o presencial, continuaram a usar as ferramentas digitais como complemento.
Hoje, a utilização de aplicativos educativos, gamificação, vídeos interativos e até mesmo o ensino híbrido são soluções encontradas para atender às necessidades de uma geração que exige respostas rápidas, mas também precisa de profundidade. A criatividade dos professores é a chave para que o conhecimento continue fluindo, mesmo quando o cenário parece desafiador.
Um rio nunca para de correr e o mais belo de tudo isso é saber que, apesar de todos os desafios, a correnteza da educação nunca para. O conhecimento continua a ser transmitido, o aprendizado continua a acontecer. E é isso que torna a profissão de professor tão especial: apesar das dificuldades, o impacto de um bom educador vai além do que podemos ver ou medir.
Hoje, ao olhar para a nova geração, sinto um imenso orgulho do que conseguimos, como professores, realizar até aqui. O mundo pode ser incerto, mas o conhecimento continua a ser a chave que abre portas, que transforma vidas. E, como um rio que nunca cessa de fluir, os professores continuarão a guiar seus alunos pelas águas do conhecimento, sempre em busca de um futuro melhor. O rio nunca para de correr, e nós, educadores, também não devemos parar de ensinar.
Por fim, meu querido leitor, quero que entenda que a educação não é apenas um trabalho para nós, professores; é uma dedicação sem medidas. E mesmo que a correnteza seja forte e a travessia difícil, nós continuamos, com coragem e muita força de vontade, a navegar pelas águas do conhecimento, acreditando no poder transformador da educação. Porque, no final das contas, somos nós que, com humildade e amor, guiamos a correnteza e ajudamos os alunos a aprender a nadar.