Museu ‘Edward Coruripe Costa’ passa pela maior requalificação de sua trajetória

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O acervo do Museu Edward Coruripe Costa reúne milhares de itens que registram a vida e a memória de Votuporanga. (foto Secretaria Municipal de Cultura e Turismo)

Com investimento viabilizado pelo ProAC, projeto moderniza expografia, reorganiza acervo, amplia acessibilidade e convoca a comunidade a participar da construção de uma nova narrativa para a cidade; inauguração está prevista para o primeiro semestre de 2026

 

Petulia Nogueira, museóloga e produtora cultural com duas décadas de experiência, coordena o projeto de requalificação do museu. (foto arquivo pessoal)

@caroline_leidiane

O Museu Edward Coruripe Costa, guardião oficial da história de Votuporanga desde meados do século XX, está passando pelo maior processo de requalificação já realizado em sua trajetória. Viabilizado pelo Governo do Estado de São Paulo por meio de edital do ProAC da Secretaria da Cultura, Economia e Indústrias Criativas, o aporte inédito para o projeto contempla a atualização da exposição permanente, reorganização do acervo, revisão da narrativa histórica, inserção de novos objetos na reserva técnica e ampliação das estratégias de acessibilidade física, comunicacional e atitudinal.
Embora seja uma instituição municipal instalada no Parque da Cultura, o museu não possui equipe técnica própria. Assim, todas as etapas da requalificação estão sendo conduzidas por profissionais especializados em história, artes, museologia, design e curadoria.
A coordenação do projeto está nas mãos da museóloga e produtora cultural Petulia Nogueira, que há 20 anos atua no setor cultural e já integrou equipes de importantes museus do país. Ela ressalta que seu trabalho não é interno ao museu, mas como proponente externa.
“Eu não sou funcionária do museu, sou uma pessoa externa, proponente de projetos culturais que propôs um projeto para o museu. Então não é um projeto do museu, é um projeto para o museu”, explica.
A requalificação atual é o terceiro movimento consecutivo de fortalecimento institucional: o primeiro projeto organizou fisicamente a reserva técnica; o segundo elaborou diagnóstico e plano museológico; e este, em andamento, promove a reformulação integral da área expositiva — um marco histórico para a instituição.
“É um salto enorme para a instituição. Mas é importante lembrar que o trabalho cotidiano de um museu exige continuidade; sem investimentos permanentes, muitos avanços se perdem”, alerta Petulia.

Narrativa revisada e acervo em expansão
Uma das frentes mais sensíveis e desafiadoras do processo é a revisão da narrativa histórica. A museóloga salienta que a atualização parte de múltiplas fontes e tem como objetivo refletir a pluralidade e complexidade da formação de Votuporanga, incluindo trajetórias e grupos historicamente ausentes das exposições. Segundo ela, valorizar também a própria trajetória institucional do museu é essencial.
“Estamos revisando a narrativa a partir de múltiplas fontes, incorporando grupos, trajetórias e memórias que antes não estavam representados”, afirma.
Ela destaca ainda a importância de recontar a própria história do museu — iniciada em 1950 com a coleção formada por Edward Coruripe Costa, o “Costinha”, e marcada por passagens em diferentes sedes, como o Almoxarifado Municipal, a Algodoeira Matarazzo e, mais recentemente, o Parque da Cultura.
“Essa história também compõe a memória da cidade e deve estar presente na exposição. É importante reconhecer e valorizar o trabalho de todas as pessoas que contribuíram ao longo das décadas para que o museu chegasse até aqui”, enfatiza.
O acervo, que já ultrapassa milhares de itens entre fotografias, objetos de trabalho, peças domésticas, documentos e registros da vida votuporanguense, está sendo revisitado em profundidade.
A equipe identificou lacunas importantes, sobretudo no que diz respeito ao cotidiano da população, transformações urbanas, bairros, festas populares, associações e trajetórias pessoais que foram pouco ou nada documentadas.
“O acervo é amplo e muito interessante, mas boa parte de sua coleta não foi estruturada conforme critérios museológicos, o que dificulta a identificação e a contextualização de vários objetos”, elucida Petulia.
Para suprir essas lacunas e ampliar a representatividade da coleção, a equipe da requalificação lançou um convite público: famílias e moradores que possuam fotografias, objetos, documentos, registros de trabalho, histórias pessoais ou memória de associações e tradições locais podem contribuir com doações, empréstimos ou mesmo digitalizações — sem a necessidade de ceder o item original.
Todas as contribuições passam por análise técnica cuja relevância, procedência e estado de conservação são avaliados e recebem termo formal de doação ou empréstimo.
“Orientamos as pessoas a fornecer o máximo de informações possível sobre a origem e o uso do objeto. Após a avaliação, formalizamos o processo por meio de um termo de doação ou de empréstimo emitido pela Secretaria de Cultura e Turismo, garantindo a segurança, a transparência e o registro adequado no acervo”, detalha a museóloga.
O contato pode ser feito diretamente no museu ou pelo telefone da equipe do projeto: (17) 98229-9773.

Expografia renovada e acessível
A nova expografia, já em desenvolvimento, promete transformar a experiência de visitação e reposicionar o Museu “Edward Coruripe Costa” no circuito museológico regional. Para isso, estão sendo incorporados recursos digitais, conteúdos interativos, materiais táteis e dispositivos acessíveis que tornam a visita mais sensorial e inclusiva.
“Nosso objetivo é que o museu seja um espaço vivo, em permanente construção, atualizado continuamente com a colaboração das pessoas que fazem parte de Votuporanga”, planeja a museóloga.
O projeto também amplia fluxos acessíveis, renova sinalizações, incorpora audiodescrição e legendas expandidas e prevê formação continuada para equipes locais, de modo a consolidar práticas inclusivas como eixo permanente.
Além da modernização expositiva, a requalificação reforça a necessidade de o município garantir continuidade às ações previstas no plano museológico — da manutenção do acervo à agenda educativa, passando pela ampliação da equipe técnica.
“A ausência de uma equipe fixa compromete a continuidade do trabalho e a manutenção dos procedimentos museológicos conquistados. A estruturação e o fortalecimento desses três eixos — gestão, educação e quadro técnico — são imprescindíveis para que todo o investimento realizado não se perca ao término do projeto”, contextualiza Petulia.
Em contrapartida, ela ressalta o esforço da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo que sempre manteve o museu ativo ainda que sem estrutura técnica contínua.

Novo capítulo para 2026
Com previsão de inauguração no primeiro semestre de 2026, o novo Museu “Edward Coruripe Costa” será, segundo a museóloga, o momento mais significativo de sua história institucional, colocando Votuporanga em sintonia com grandes museus do país.
“O público encontrará um museu completamente renovado, com narrativa atualizada, acervo reorganizado, recursos tecnológicos e uma linguagem expográfica moderna”, afirma.
O projeto ultrapassa a simples reorganização de vitrines e a chegada de novos objetos, propondo um museu dinâmico. Local que convoca encontro, pertencimento e reflexões, aberto às múltiplas memórias da cidade e ao diálogo constante com seus moradores e turistas. Um museu que não apenas preserva o passado, mas que respira o presente e projeta o futuro.