HISTÓRICO
FUNDAÇÃO DO POVOADO
Antes de vasculhar os arquivos da história de Valentim Gentil, visando à busca de informações para transcrever a história que narra à força, a fé, a esperança e a determinação de um povo, não poderíamos deixar de retornar ainda mais no tempo e buscar os por quês do surgimento de centenas de cidades, que compõem hoje a promissora região noroeste paulista. Nessa busca incessante, chegamos à conclusão que durante a ocupação da extensa e fértil área do extremo noroeste de São Paulo, limitada pelos rios Grande, Paraná e São José dos Dourados, deu-se a formação de povoados e a colonização ocupava mais de um terço do chão paulista. A princípio as rotas de penetração foram trilhadas pelas tropas de gado, que demandavam Barretos, procedentes de Mato Grosso. Em meados da década de 1930, os trilhos da Estrada de Ferro Araraquarense atingiram o município de Mirassol, e então se intensificou o desbravamento da região, com o fluxo de imigrantes em busca de terras novas para o cultivo do café.
As informações da existência de uma terra nova e cheia de oportunidades chegavam além do mar. Havia, portanto, mais que os portugueses, aqui presentes desde o descobrimento, os negros africanos, obrigados a cruzar o Atlântico como escravos e os índios, atraídos para a colonização do Brasil. Por motivos de ordem econômica e técnica, o traçado da Araraquarense seguiu rigorosamente o espigão que serve de divisor de águas dos rios São José dos Dourados e Grande. Por um lado, dava-se preferência aos solos apropriados à cultura cafeeira e, de outro, visava-se maior facilidade na execução do traçado, evitando obras de arte ou aterros e grandes cortes. Núcleos e povoados começaram a surgir, com decorrência do loteamento de terras que ia se processando, com a mata cedendo lugar à agricultura e a pecuária. O desenvolvimento agrícola exigia a destruição das matas. Em 1937 havia sido fundada Votuporanga, na década seguinte, outros povoados surgiriam, dando lugar mais tarde às cidades prósperas como Fernandópolis, Jales, Urânia e Santa Fé do Sul. Outras cidades só surgiram em consequência de uma necessidade financeira com a crise do café, que ocorrera por causa do declínio dos latifúndios, que passaram a ser loteados e vendidos a prestações mensais, como no caso de Votuporanga. Já o município de Valentim Gentil nasceu por causa da necessidade de se abrigar imigrantes que vinham atraídos por uma promessa de futuro no interior paulista, fronteira da civilização, onde ainda existiam terras virgens e populações selvagens.
A maior parte do estado já era cortada por quase três mil quilômetros de ferrovias. Mas o norte e noroeste estavam ainda povoados por índios das tribos dos Xavantes, Coroados e dos Guaranis, que se mesclaram com a população branca (caboclos). As tribos tinham como vizinhos os europeus e colonos. A população europeia conquistou o seu espaço, e lá onde, em tempos não remoto ostentava-se a mata virgem frondosa e impenetrável, existem hoje florescentes cidades.
O PIONEIRISMO
Movidos pela ânsia de conquista, os homens muitas vezes deixam a tranquilidade de seus lares e o aconchego de suas famílias e se arrojam pelo desconhecido em busca de aventuras, procurando riquezas ou apenas tentando a sorte. O senhor Raphael Cavalin foi um destes pioneiros. Nascido de família de imigrantes do norte da Itália, Província de Treviso, aos 15 de março de 1905, juntamente com sua abnegada esposa Helena, teve com ela nove filhos. Seu pai, Valentim Cavalin, chegara ao Brasil por volta de 1888, instalando-se na pequena cidade de Bonfim, próxima a Ribeirão Preto, onde passou a frequentar as lavouras de café, cultura que predominava naquela região. De Bonfim, a família transferiu-se para a cidade de Pitangueiras, onde também foram trabalhar em lavouras de café. Em seguida, foi para Olímpia, já como proprietário do seu primeiro pedaço de terra. Dessa propriedade, a família mudou-se para a cidade de Bálsamo, onde comprou uma grande fazenda, porém bruta, sem nenhuma benfeitoria. Formou toda em café e pecuária. O café era novo e como as terras eram férteis, chegou a colher até 50.000 sacas ano. E foi com a renda desses cafezais que em 1925, a família comprou mais ou menos 5.000 alqueires de terras. Essas terras foram divididas entre cinco irmãos, cabendo a cada um, mil alqueires. Em 1942, Raphael Cavalin mudou-se com sua família para a parte que lhe coube, e aí começou sua nova vida. Era uma gleba de terras de mil alqueires de mata virgem, e em meio a esta mata levantou sua casa. Assim, depois de muita luta e muito trabalho, quando se sentiu senhor daquela terra produzindo, entregou se a outra meta: a implantação de cidades, pois a região precisava se desenvolver com a vinda de mais gente. Em 3 de maio de 1943, fundou JACILÂNDIA, que mais tarde passou a se chamar Valentim Gentil depois fundou TURMALINA e por último, no dia seis de janeiro de 1960, fundou DIRCE REIS. Dirce em homenagem à segunda filha, e Reis aos Santos Reis (com muitos devotos na região). Com sua esposa Helena Pântano Cavalin, que também é filha de imigrantes da mesma região do norte da Itália, teve cinco filhos: Maria Sidney Cavalin, Josefa Dirce Cavalin, Antônio Roberto Cavalin, Neuza Maria Cavalin e Regina Célia Cavalin. Faleceu aos 82 anos, vítima de um ataque cardíaco no hospital Nossa Senhora da Paz, na cidade de São José do Rio Preto, no dia 15 de dezembro de 1987.
ORIGEM DO NOME – JACILÂNDIA
O povoado que deu origem ao posterior município de Valentim Gentil, chamava-se JACILÂNDIA, nome de origem indígena do Tupi antigo, IASY-LUA e do germânico, relativo à região de civilização alemã, LAND-TERRA que significa literalmente, “Cidade de Jaci, Terra da Lua”. Tendo sido seus fundadores os pioneiros que ficaram com honra e orgulho, nos anais da história da cidade: Raphael Cavalin, João Novaes e José Honório Filho, ao lado deles, dezenas de personagens anônimos, homens, mulheres e crianças que ali estavam animados pelo mesmo ideal, perseguindo o mesmo objetivo, um futuro promissor, um mundo melhor. Esta era a obstinação própria daqueles que não medem dificuldades quando se têm objetivos firmes e querem vê-los cumprido. Esses chegaram à região então inabitada e inóspita. Onde verdejantes matas desejavam ceder espaço às construções e ideologias progressistas, e aí levantaram no seio da mata o primeiro marco: a cruz invocando a proteção de São Sebastião, símbolo da humildade e da fé, no dia três de maio de 1943. Em volta do imenso e majestoso cruzeiro de madeira, os primeiros habitantes se reúnem para ouvirem o terço e festejarem o nascimento de um novo ponto de encontro, de apoio às atividades agrícolas. As preces num só coro erguiam se para o alto num terço rezado por dona Helena Pântano Cavalin, acompanhada por toda aquela gente tomada por uma sede incontida por um futuro melhor. E Deus lá das alturas abençoava a todos que ali estavam. A alegria era contagiante. Naquele dia, naquele momento, naquele lugar, uma nova era estava sendo implantada por aqueles homens de gestos simples, mas, de muita capacidade. Com a formação do primeiro núcleo habitacional, outras famílias foram atraídas, trazendo o progresso e o desenvolvimento para a localidade. A partir daí os senhores Raphael Cavalin e Ramon Céspedes Ramos, vendem a José Honório Filho uma gleba de terras de 28 alqueires. Procedeu-se o loteamento das terras e os 900 lotes foram todos vendidos em menos de um ano. O novo traçado era dotado de largas avenidas e ruas.
O desenho da futura cidade ficou a cargo do senhor José Honório Filho. As ruas foram demarcadas e eram erguidas as primeiras moradias e vendinhas. O comércio ia tomando forma e financiava o crescimento do vilarejo. Procediam de Mirassol as primeiras famílias povoadoras de Jacilândia. A primeira construção inaugurada em 4 de julho de 1944, foi o Hotel Jacilândia, de propriedade do senhor João Novaes, e a primeira farmácia, fundada na mesma época, de propriedade do senhor José Paracatu. No dia três de maio 1947, Jacilândia comemorava o seu quarto aniversário, nas primeiras horas da manhã, a população fora despertada com o toque de alvorada, executado pela banda local e fogos de artifícios. Ao entardecer foi organizada uma passeata, pelos senhores Horácio Faria e Gustavo Pantaleão de Lima. Durante as festas, ocupara o microfone do Cine Jacilândia, o Dr. Augusto Alves dos Reis, que saudou o povo e adiantou que se achava em andamento, na Assembleia Legislativa do Estado, os trabalhos de criação da lei que determinava que o povoado, seria elevado à categoria de Distrito, através do deputado Anísio Moreira. Concluindo, disse o orador: “Com menos de quatro anos de existência, Jacilândia contribui anualmente com mais de 300 mil cruzeiros para o Estado e Federação, e quase 200 mil cruzeiros para a municipalidade. Que a população aguarde tranquilamente a reivindicação de seus direitos, pois em breve o governo estadual atenderá suas mais justas aspirações”. Foram encerradas as festividades com um animado baile, no qual compareceram elementos de destaque da sociedade local.
DE JACILÂNDIA VALENTIM GENTIL
E em 1948, cinco anos após a chegada dos primeiros colonizadores, quando já possuía aspecto bastante diverso da época da fundação, com a estrutura de uma cidade adolescente que pretendia conquistar a maturidade, seu nome Jacilândia fora alterado para VALENTIM GENTIL, em homenagem póstuma ao Deputado Estadual e Presidente da Assembleia Legislativa – Valentim Gentil, político paulista da cidade de Itápolis. Mais do que ruas e avenidas, surgia um povo que com as enxadas e arados abriam o caminho da terra. Povo humilde e trabalhador, gerações que morreram para que a futura pudesse viver. Gerações que choraram para o amanhã sorrir. Gerações que perderam batalhas, mas jamais a guerra. Gerações que lutaram para o hoje existir. As primeiras construções de Valentim Gentilforam feitas com tijolos da olaria do senhor Victorio Cavalin, irmão de Raphael Cavalin. Em cada tijolo tinha as iniciais “V. C.”, que se referiam ao nome do proprietário da olaria. Com o passar do tempo, feroz devorador de vidas, o povoado também foi dotado de um inevitável cemitério.
CRIAÇÃO E EMANCIPAÇÃO DO MUNICÍPIO
A povoação que era localizada na região denominada Sertão do Rio Paraná, estava, então, subordinada ao município de Votuporanga. Travou-se pelos Valentim-gentilenses a luta para conseguir a sua emancipação política. O então prefeito de Votuporanga, João Gonçalves Leite, vendo o lucro que Valentim Gentil arrecadava para sua cidade, teve uma repreensão por parte do poder público, dificultando sua liberdade administrativa. E no dia 18 de novembro de 1948 o povo se revolta, com a presença da policia de Votuporanga. A população tomou o centro de Valentim Gentil, e fez de suas foices e enxadas as suas espadas, mas só mesmo o patriotismo poderia vencer aquela batalha em cada rosto uma única expressão: a da luta pela liberdade. As mulheres com bravura lideraram a manifestação, tendo como sua principal arma a esperança num dia melhor depois do amanhã. O horizonte quebrava os raios solares que iluminava aquela histórica tarde. A população marchou com a flâmula verde e amarela estampada no peito, cantando o hino nacional, demonstrando o orgulho de ser brasileiro, em direção a policia que não pode conter os populares. Um inesquecível dia em que valorosamente o espírito da coragem estava com cada um dos valentes e gentis personagens que deram mais um passo determinante para história da cidade. Mas, dado ao progresso que experimentavam as autoridades, e a pressão feita pela população, concedeu-lhe autonomia política, proporcionando o direito de decidir o seu próprio destino, como unidade municipal. E assim aconteceu, conforme o que determinava a Lei Estadual nº 233, de 24 de dezembro de 1948, de autoria da Comissão de Estatística, aprovada pela Assembleia Legislativa Paulista e promulgada pelo Governador Adhemar Pereira de Barros. A Lei só foi publicada no Diário Oficial do dia 28de dezembro de1948, e Valentim Gentil foi elevado à categoria de Município, com terras desmembradas do município de Votuporanga, tornando-se realidade o velho sonho de seus moradores. Um autêntico presente natalino aos pioneiros e aos que vieram depois, forjando o progresso a custa de mãos calejadas, e de muito suor derramado, estimulados pela fé no futuro, que só o trabalho constrói. A senhora Jesuína, foi quem liderou a manifestação pela “Liberdade Administrativa do Município” dona de casa e mãe do senhor Manoel de Sousa, um dos primeiros gerentes de banco da cidade.
- AUGUSTO ALVES DOS REIS
Coube ao Dr. Augusto Alves dos Reis instituir as fundações de um projeto chamado Valentim Gentil, que tinha como meta traçar uma nova identidade valentim-gentilense, mais arrojada e agressiva, e lançar a cidade na era da modernidade. Doutor Augusto Alves dos Reis foi um médico compromissado que fez do seu trabalho de salvar vidas sua principal catequese, mas não resistiu ao chamado da política, deixando então o bisturi, e abraçando a vida pública. Tornou-se o primeiro prefeito desta cidade, arquitetou a igreja e as primeiras ruas.E o aspecto urbano já ia tomando a pequena cidade. Valentim Gentil foi idealizada por homens trabalhadores que vislumbravam seu futuro.
REGISTROS DO HISTORIADOR – LINHA DO TEMPO
Os senhores Aurélio Pierobom, Braz Pesconi e Consuelo Padilha eram comerciantes.
O senhor Paulino Siminati, era dono de uma modesta padaria no povoado.
O senhor Felício Borlina, era o dono de um armazém.
O senhor Antônio Dutra Garcia, era proprietário de um pequeno bazar.
O senhor Salim Cury, era dono de um empório.
O senhor Carlito Gleriani, era dono de uma venda.
O senhor Josias de Souza, dono da venda A Caçulinha.
O senhor Aníbal Marcondes, popular Nenê, dono de uma oficina, e era técnico em iluminação a carbureto.
O senhor Horácio Pimenta, era proprietário de uma farmácia.
O senhor Aristides Simões, dono de uma pequena sorveteria.
O senhor Domingo do Pito, era dono de uma bomba de gasolina.
O senhor Manoel do Livramento, dono de um bazar.
O senhor Pedro Augustini, era dono de uma barbearia.
O Doutor Gustavo Pantaleão de Lima, era o dentista.
O senhor Silvio Sanvesso, foi o primeiro pedreiro, responsável pela construção da primeira Capela e do prédio do Grupo Escolar, atual Prefeitura.
O senhor Caticó, foi o primeiro inspetor de quarteirão.
O senhor Ézio Belini, foi o proprietário da primeira indústria do povoado. Fabricava cadeiras empalhadas com taboa.
O senhor Joaquim Beato, era o fabricante de urnas funerárias.
O senhor Ramon Chamorro foi o primeiro coveiro da cidade.
Os senhores Ernesto Eleotério e Cícero Usberti, foram os primeiros professores.
As senhoras Aparecida Santoro e Eugênia Dutra, as primeiras professoras.
A senhora Nilce Gavioli, foi a primeira telefonista.
O senhor Octávio Penachione, foi o primeiro carpinteiro da cidade.
O senhor Santo Cambrais, foi quem cedeu o prédio para instalação da prefeitura na primeira legislatura do município.
O senhor Joaquim Tesoro, era contador.
O soldado Barros era o responsável pela segurança da cidade.
Os senhores Liberato Zanovelli, João Garcia e Adão Lucatto, eram proprietários das máquinas de beneficiar de café.
O senhor Vergílio Reginaldo era o açougueiro.
O senhor Eduardo Vicente, foi um dos pioneiros responsáveis pela derrubada das matas para fundar Jacilândia.
O senhor José Safiotti, foi o primeiro alfaiate.
A senhora Dulce, a primeira costureira.
O primeiro Padre do município foi João Schultiwolter.
Os senhores Horácio Faria e Onézio José Lopes, tocavam acordeão e bombardino, nos eventos municipais.
O senhor Aristides do Amaral, era leiloeiro e também o responsável pelo gerador de energia do povoado, movido a óleo diesel.
As primeiras famílias de Valentim Gentil foram: Cavalin, Narvaes, Reginaldo, Batista, Graminha, Gavióli, Puga, Vicente, Borlina, entre outras.
FONTE: Memorial das Cidades (IBGE)