Idioma internacional agrega até milhões de adeptos ao redor do mundo e em Votuporanga existe uma escola voluntaria especializada neste idioma
Bandeira do Esperanto
Livro que revela os macetes da língua
ANDREA ANCIAES
Uma língua criada para ser o idioma universal de comunicação entre os povos, pois não pertence a qualquer país, tem gramática e não possui exceções, pode ser aprendido em um quarto de tempo necessário a qualquer outro idioma e que está presente no mundo inteiro é o que conta Carmen Ferraz que trabalha voluntariamente ministrando aulas de Esperanto aqui em Votuporanga.
Ela relata que aprendeu o idioma através de um curso à distância, “naquela época a tecnologia de hoje não existia, então fiz o curso todo por correspondência e recebi o meu diploma no ano de 1972”.
“Sempre busquei o conhecimento e um dia entrei em um sebo e observei um livro jogado, perguntei ao vendedor que livro era aquele e ele me disse: esse livro ninguém tem interesse, então deixei encostado ali porque nunca quiseram comprá-lo”, foi o bastante para que despertasse seu interesse.
“Peguei o livro imediatamente e quando comecei a folhear às páginas fiquei fascinada, então comprei o livro e através dele comecei a montar meu próprio material para poder dar início às aulas que iria ministrar”.
“Durante meu aprendizado, observei que muitos esperantistas consideram o Esperanto uma língua perfeita e que a mesma não precisa mudanças, percebi que a língua funciona perfeitamente”.
“Posso dizer que aprender Esperanto é tão fácil que, se todas as pessoas, em qualquer canto do mundo, quisessem aprender Esperanto, em muito pouco tempo esse idioma se tornaria a língua mais falada para comunicação internacional”, conta com entusiasmo.
DV – Como a senhora ouviu falar do esperanto?
“Quando se fala (do Esperanto) na mídia, se fala com muito respeito. É positivo. Aqui no Brasil, se aparece o tema, é pra falar contra. A língua que não deu certo, língua artificial, coisas assim.
“Criado pelo médico polonês Lázaro Zamenhof em 1887 para ser um segundo idioma para todos. O esperanto é uma língua misteriosa, porém é universal e apaixonante. Acredito que daqui a 500 anos todos os idiomas serão extintos e o esperanto será a língua universal e através dela os povos estarão unidos novamente como aconteceu muito lá atrás na criação do mundo.”
DV – Quem escolheria aprender um idioma que não é de nenhum país? Quantas oportunidades você teria de usá-lo?
“Ao contrário do que se pensa o Esperanto não é uma língua morta nem inútil. Cerca de 2 milhões de pessoas no mundo falam o idioma, formando uma comunidade tão próxima quanto entusiasmada. A maioria das pessoas não sabe o que é o Esperanto, ou, se conhece, não tem conhecimento suficiente. Ouviu falar que o Esperanto é uma língua morta, que o esperanto é a língua que Jesus falava. Um monte de maluquice. Que o Esperanto quer acabar com todas as línguas do mundo, para que todos s[o se comuniquem por meio dele. Coisas absurdas”, diz sorrindo Dona Carmen.
Zamenhof, o criador, cresceu numa Polônia dominada pela Rússia, onde se falavam diferentes línguas e havia dificuldades de comunicação. Achava que esse problema poderia ser diminuído e as distâncias entre pessoas encurtadas se houvesse um idioma simples que todos pudessem falar. “Aí c Zamenhof criou uma língua usando elementos comuns das línguas que existem e regularizou as regras. Também procurou sons fáceis de pronunciar, bem definidos” ela conta.
“O Esperanto tem muito do latim, os radicais são bem parecidos. A gramática parece mais com a do chinês, por incrível que pareça é uma gramática muito simples, as palavras são muito derivadas. Quando você conhece um radical, como a palavra amor, transforma isso em 30, 40 palavras. Ele é feito de uma maneira que é fácil pra todo o mundo”, completa.
“Facilidade de aprendizado e neutralidade linguística são dois dos principais argumentos utilizados pelos esperantistas para explicar por que resolveram estudar a língua, escolha que seus conhecidos estranhavam no começo ‘não seria mais prático aprender logo o inglês?’ e continua. “O inglês é uma língua linda, sensacional, mas, como todas as línguas nacionais, possui várias exceções gramaticais, além de diversas complexidades de pronúncia e escrita, de modo que, se você não morar por alguns anos em um país que fale inglês, seu inglês dificilmente será tão bom quanto o de um nativo da língua”, diz. “E isso deixa as relações internacionais muito desiguais. Sempre americanos e ingleses vão ter mais vantagem, por terem aprendido o inglês desde bebês.”
“No caso do Esperanto, há poucas regras gramaticais e não há exceções. Se a palavra termina em ‘as’, por exemplo, é um verbo no presente. Se termina em ‘o’, é substantivo. Em ‘a’, é adjetivo. E por aí vai.”
Segundo Carmen aprender a pronunciar é simples também, já que cada letra é sempre dita da mesma forma e cada som corresponde a apenas uma letra.
“Desde a primeira aula, o aluno já consegue pronunciar qualquer palavra que lê, e consegue escrever corretamente qualquer palavra que escuta. Os tempos verbais também são aprendidos todos em um dia só: presente, passado, futuro, infinitivo e imperativo”, explica.
“No inglês todo dia eu encontro uma palavra nova, e nunca vai acabar. No esperanto não tem isso. Se alguém em um canto do mundo cria uma palavra nova, o resto vai reagir. Não pode. Todas as línguas evoluem, se transformam. Mas o Esperanto não se transforma, ou se transforma minimamente, porque tem uma comunidade ciente disso, de que é uma língua para todos”.
“A grande dificuldade de falar inglês, francês, ou mesmo espanhol, é conseguir pensar fora da língua materna. Com o esperanto é muito mais rápido”, diz Carmen. “É rápido de conseguir fluência, de conseguir pensar fora do português. Uma vez que você domina essa técnica, consegue adaptar pra outra língua.”
“Pra quem está interessado, tento mostrar como o esperanto pode ser útil em viagens, por exemplo, mas nunca desmereço a importância de aprender inglês também, é claro. Por estar no meio acadêmico, sei que o conhecimento do inglês é essencial, mas o problema é parar o aprendizado de línguas por aí. Aqui no Brasil a gente tem muito pouco conhecimento linguístico sobre a diversidade, e, como linguista, eu valorizo o aprendizado da maior quantidade de línguas possível”.
Para os esperantistas, a língua é também uma forma de dominação e o inglês é uma mercadoria, cuja disseminação favorece os países que o têm como idioma.
“É a neutralidade do esperanto a maior qualidade do idioma. É uma língua que não tem dono. O esperanto não é dos norte-americanos, nem dos espanhóis, nem dos franceses, nem dos russos. O esperanto é de quem o aprende. Não dá vantagem a nenhuma cultura sobre as outras, nem coloca as pessoas de uma nação acima das pessoas de outras nações. Nenhuma língua nacional pode ser verdadeiramente internacional, porque sempre vai oferecer vantagens para um lado, favorecer um lado, em detrimento do resto do mundo” explica Carmen.
Embora a língua ainda seja pouco conhecida no Brasil, os esperantistas são otimistas. “Cada vez mais os jovens estão se empolgando com a ideia de mudar o mundo, e o esperanto aparece cada vez mais como uma iniciativa moderna e entusiasmante, que eles querem muito aprender” finaliza a professora Carmem Ferraz.