Sidnilson Cardoso (PP) teria conseguido uma vaga para o sogro ‘por fora’ junto ao AME e coagido servidores; ele negou qualquer irregularidade e afirmou que se trata de perseguição política.
O vereador de Pontes Gestal/SP, Sidnilson Cardoso (PP), é acusado de ter ‘furado fila’ para o atendimento médico do sogro por meio de uma vaga conseguida ‘por fora’ junto ao AME (Ambulatório Médico de Especialidades) de Votuporanga/SP. A denúncia foi registrada na Polícia Civil, com representações formuladas à Câmara Municipal e no Ministério Público da Comarca de Cardoso/SP. Parlamentar também é acusado de ter coagido uma médica que trabalha da UBS (Unidade Básica de Saúde) do município.
De acordo com uma cópia do boletim de ocorrência, registrado nesta segunda-feira (4.set) e enviada a redação do Diário, a secretária municipal da Saúde, Cássia Fernanda Martins da Silva, afirma que “ao chegar do almoço, no seu local de trabalho, estava em uma ligação telefônica resolvendo problemas de escala de plantões de médicos, quando ao chegar em sua sala encontrou-se com Sidnilson à aguardando pois queria conversar em particular com Cássia, pois no dia 31/08/2023 houve um problema administrativo interno, relacionado a uma vaga de cardiologia que foi agendada de forma não corriqueira ao sogro de Sidnilson, o qual gerou por parte da declarante uma representação na Câmara Municipal, uma vez que Sidnilson é vereador, como também no Ministério Público da Comarca de Cardoso/SP.”
Ainda conforme o texto registrado na Delegacia de Pontes Gestal: “Sidnilson se dirigiu a declarante tentando conversar em particular dizendo” quero falar com você, é só cinco minutinhos”, Cássia disse que infelizmente não poderia, pois tinha uma reunião agendada para aquela hora e as agentes de saúde estavam aguardando sua chegada para dar início. Sidnilson então se dirigiu a declarante em tom ameaçador dizendo algumas palavras com relação ao ocorrido no dia 31/08/2023. Cássia então respondeu que não iria falar com Sidnilson. Sidnilson então saiu dizendo que iria fazer uma representação contra Cássia na Câmara de Vereadores de Pontes Gestal. Cássia informa ainda que se sentiu constrangida e com medo após a ‘visita’ de Sidnilson.”
Ao Diário, o vereador explicou que não havia sido notificado do assunto, salientou que o sogro enfrenta problemas graves de saúde, mas negou de maneira categórica qualquer ameaça ou coação contra servidores: “Não ameacei ou coagi ninguém. Conversei sim, mas nada desse tipo, até mesmo porque se tivesse notado qualquer coisa, teria pedido desculpas. Isso é perseguição política, me tiraram da presidência da Câmara e agora querem tirar minha cadeira como vereador. Deve ser medo de eu sair candidato a prefeito nas próximas eleições.”
“Essa conversa de furar fila, isso é um absurdo. Quem conversou sobre vaga foi o AME e a médica da Unidade Saúde, eu não tenho poder para isso, tanto que quem levou meu sogro não foi eu, foi a ambulância da Prefeitura. Só fui lá na UBS e levei ele para atendimento, ele ficou tomando soro. Na primeira regulação ele iria para Votuporanga, mas depois disseram que precisava de uma avaliação com um neurocirurgião que teria que ser no Hospital de Base, de Rio Preto, isso porque em Votuporanga não tem. Mas, eu não tenho nada com isso, não tenho como intervir nisso, a conversa foi entre a médica e o AME, se quiserem mais informações procurem o AME. Ontem me falaram que tinha conversa na cidade, procurei a médica e perguntei: ‘Em algum momento eu pressionei a senhora? Ela disse: ‘Em nenhum momento, você não me pressionou.’ Eu tenho isso gravado’. Mas vou procurar me informar sobre o que está acontecendo”, emendou Sidnilson.
Procurado pela reportagem, a administração do AME Votuporanga, respondeu em nota que: “A Santa Casa de Votuporanga, organização social de saúde que administra o AME Votuporanga, informa que o atendimento ao paciente seguiu o fluxo usual de todos os usuários do serviço. A vaga em questão foi cedida pelo Sistema Informatizado de Regulação do Estado de São Paulo (SIRESP), após agendamento pelo município de origem, sem causar nenhum prejuízo aos demais pacientes.”
Representação na Câmara
O nome de Sidnilson volta aos holofotes, recentemente o vereador foi destituído da presidência do Legislativo, desta vez, a representação assinada pela secretária da Saúde e por Gabriel Fedoce Laranja – secretário municipal de Administração e Finanças, afirma que “trata-se de ato aparentemente de ilícito gravíssimo cometido pelo Sr. Sidnilson Cardoso, em que ele, no uso de seu cargo, ou derivado do poder e status dele, cometeu contra servidores desta municipalidade. O vereador em questão procurou a UBS de Pontes Gestal informando que seu sogro havia caído e precisava de atendimento médico especializado, sequer levando o paciente junto a ele. Na oportunidade, vez que não conhecia a médica, buscou constantemente intimidá-la, mesmo que de forma subjetiva, para que ela entendesse que ele era agente político do município. Informado que este precisava levar o paciente, que necessitava ser diagnosticado e ser eventualmente encaminhado, levou e foi encaminhado para a Santa Casa de Votuporanga. Lá, identificaram que não se tratava de caso de urgência ou internação e o paciente, Sr. Antenor, retornou para casa. Uma vez constatado que não era emergência, este, como todos os pacientes, retornou para Pontes Gestal para ser acompanhado pela ESF, pois lá é sua responsabilidade. Uma vez estando no ESF, lá é enviado pedido ao CROSS para agendamento de eventual especialista que o médico da Estratégia da Família entendeu necessário.”
Ainda segundo a representação, “o vereador pressionou os servidores da ESF para marcar o especialista para o sogro dele, buscou inúmeras vezes, mandou seu filho, que também é servidor, ligar e cobrar, para colocar o avô em atendimento urgente, momento em que pai e filho foram avisados que não era possível, pois haviam outros casos na frente e que não era à toa que estes estavam antes dele na fila, pois a distribuição de vagas se dava pelo estado do paciente, tendo pacientes mais urgentes esperando na frente dele a semanas. Ora, sem pudor, sem entender haver problemas, este informou que a senhora Marcela, do AME, já havia marcado e que precisava da guia para a médica assinar. Vez que este procedimento é completamente errado, nunca aconteceu, os servidores Ysa, Lisléia, informaram que não era o padrão e, então, este chegou com o telefone ligado e no outro lado da chamada supostamente estava a senhora Marcela, que orientou a forma que deveria ser feito no sistema; segundo a servidora Lisléia, tratava-se do ato de cadastrar, indo para o fim da fila, porém, momentos depois, a vaga do sogro do Sr. Sidnilson tinha saído para o dia 1º de setembro de 2023, menos de 24 horas.”
Ainda na representação, os denunciantes pedem a cassação do mandato de Sidnilson pela “prática de atos de corrupção ou de improbidade administrativa, devidamente comprovada, nos termos da lei, com amplo direito de defesa.”
“Nesse sentido, considerando tratar-se de objeto que contempla Improbidade Administrativa por atentar contra os princípios da Administração Pública, resta demonstrada a relevância social que merece a intervenção imediata deste Ministério Público com as medidas cabíveis”, afirma o documento protocolado na Câmara de Pontes Gestal.
Ao Diário de Votuporanga, Cássia Fernanda Martins da Silva explicou de forma taxativa: “Nesse momento, tudo o que é referente a esse assunto já foi entregue ao Ministério Público, à Polícia, à Câmara Municipal, à Controladoria Interna do Município, e será devidamente apurado. Como pessoa é inaceitável esse tipo de conduta [tentar furar fila], o SUS (Sistema Único de Saúde) existe para universalizar o acesso das pessoas à saúde, de forma organizada e independente de qualquer outro fator.”
Representação rejeitada
Ainda segundo o apurado pelo Diário, durante sessão da Câmara de Pontes Gestal realizada na noite desta terça-feira (5), os vereadores rejeitaram a representação por 8 votos a 0.