EFEMERIDADE

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Nilson Caligiuri Filho

A doce criança nasceu!

Os ansiosos familiares e impertinentes curiosos dela se aproximam.

Tadinha! Mal consegue respirar!

Após tanta turbulência, lá estava a criança,

na tenra infância, a desfrutar a fase mais reluzente da existência.

Desfrutar?

Num piscar de olhos, já na adolescência se encontrara;

momento, pois, de se compenetrar-se nos estudos

e preparar-se para a vindoura entrada no mercado de trabalho;

estágio vital, também, a apaixonar-se pelo primeiro AMOR

(pobre adolescente: sua ingenuidade não lhe permite

enxergar quão rara e profunda é essa MÁGICA palavra!).

Apaixonar? Compenetrar?

Mal se apaixonara, mal se compenetrara,

lá estava: na fase adulta!

Fase da “maturidade”, da “consolidação”,

da “estabilidade”, da “resignação”.

Maturidade? Resignação?

Logo, se adentrou no declínio da vida,

em elevada idade, vendo que, outrora,

de nada gozava de maturidade.

E, de igual forma, agora, finalmente,

aprendera acerca de resignação,

haja vista o iminente precipício,

à sua espreita como um foraz e intrépido dragão!

Mas, e a “consolidação”, e a “estabilidade”?

Quanto a essas, não as conhecera!

Não as conhecera, durante nenhum dos estágios vitais!

A celeridade dos dias não lhe permitiram

estabilização alguma, tampouco, consolidação de nenhuma ordem!

Agora, lá estava ela, o fato inevitável: a MORTE!

Sim, o mais intrépido e cruel monstro,

chamado MORTE!

A criança, então, a ela sucumbiu!

Quão efêmera é a vida!

Entre o nascimento e a “hora da verdade”,

há um interstício tão curto quanto um piscar de olhos,

uma velocidade tão agressiva quanto um trem-bala!

Adeus, doce criança!

Lá se foi ela!

Levando consigo, porém, NADA de arrependimento,

pois, sabiamente, passara a vida SEM QUERER agradar a ninguém!

Palavras da salvação!!!

 

NILSON CALIGIURI FILHOadvogado, escritor e colunista do Diário de Votuporanga