Dois detentos fogem de presídio no RN em 1ª fuga de unidade federal no Brasil

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Os detentos Deibson Cabral Nascimento (à esquerda) e Rogério da Silva Mendonça fugiram da Penitenciária Federal de Mossoró/RN — Foto: Reprodução

Fuga ocorreu nesta quarta-feira (14) e foi a primeira registrada no sistema penitenciário federal. Presos que fugiram são ligados ao Comando Vermelho e somam 155 anos em condenações.


Dois presos escaparam da Penitenciária Federal de Mossoró, na região Oeste do Rio Grande do Norte, nesta quarta-feira (14.fev). Esta é a primeira fuga registrada na história do sistema penitenciário federal brasileiro, desde sua criação em 2006. A PF abriu um inquérito para apurar as circunstâncias do caso.

Os dois homens são ligados ao Comando Vermelho, facção de Fernandinho Beira-Mar, que também está preso na unidade federal de Mossoró.

Quem são os criminosos e como fugiram

Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento respondem por crimes como homicídio, roubo, tráfico de drogas e organização criminosa. Saiba mais a seguir:

  • Rogério da Silva Mendonça, de 35 anos. Condenado a 74 anos de prisão, responde a mais de 50 processos, entre os quais contam os crimes de homicídio e roubo.
  • Deibson Cabral Nascimento, 33 anos, também conhecido como “Tatu” ou “Deisinho”. Seu nome está ligado a mais de 30 processos nos quais responde pelos crimes de organização criminosa, tráfico de drogas e rouboEle tem 81 anos de prisão em condenações.

Ligados ao Comando Vermelho, Rogério e Deisinho estavam no presídio de segurança máxima em Mossoró desde 27 de setembro de 2023. Eles foram transferidos após participarem de uma rebelião no presídio de segurança máxima Antônio Amaro, em Rio Branco, que resultou na morte de cinco detentos – três deles decapitados.

Como eles fugiram? 

O Ministério da Justiça não informou as circunstâncias exatas da fuga dos dois presos até a última atualização desta reportagem, mas desconfia que as obras que estão acontecendo na penitenciária de Mossoró podem ter favorecido a fuga.

Investigações preliminares conduzidas pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) e pela Polícia Federal indicam que os dois detentos escaparam na madrugada de quarta-feira (14).

  • Por volta de 3h, os dois saíram pelo teto das celas arrancando uma estrutura metálica de alumínio e cabos de energia ligados à iluminação da cela;
  • Em seguida, eles saíram para o pátio e, com alguma ferramenta cortante – possivelmente obtida do canteiro de obras de uma reforma em andamento no presídio – cortaram um alambrado e fugiram;
  • Câmeras do presídio registraram a passagem deles para o lado de fora, vestindo uniforme de preso;
  • A administração do presídio deu falta dos detentos por volta das 5h, duas horas depois da fuga.
Não há informações se havia alguém esperando do lado de fora da penitenciária para resgatá-los e sobre quantos agentes penitenciários atuavam na unidade no momento da fuga.

O que foi feito após a fuga?

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, determinou uma série de providências após a fuga dos presos, incluindo a revisão de todos os equipamentos e protocolos de segurança nas cinco penitenciárias federais do país. Também foram determinados:

  • O afastamento imediato da atual direção da penitenciária federal de Mossoró e a indicação de um interventor para comandar a unidade.
  • Abertura de inquérito para apurar as circunstâncias da fuga.

Deslocamento de uma equipe de peritos ao local, com objetivo de apurar responsabilidades e de atuar na recaptura dos dois fugitivos.

Atuação de mais de 100 agentes federais nas buscas — a forma como essa operação para recaptura ocorre, no entanto, não foi explicada.

O secretário André Garcia, da Senappen também viajou até Mossoró com uma comitiva do Ministério da Justiça para apurar o caso de perto.

A Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Norte informou que enviou um helicóptero para auxiliar nas buscas em Mossoró e colocou um outro, que está em Natal, à disposição.

A Secretaria de Administração Penitenciária do Rio Grande do Norte também informou que auxilia as operações para recaptura.

O que são penitenciárias federais?

O sistema penitenciário federal foi criado em 2006 com objetivo de combater o crime organizado, isolar lideranças criminosas e os presos de alta periculosidade. Há 5 prisões de segurança máxima espalhadas pelo Brasil, incluindo a de Mossoró. Esta é a primeira fuga registrada desde a criação do sistema.

Para ser transferido para um presídio federal, o detento precisa se enquadrar em alguns pré-requisitos:

  • ter função de liderança ou participado de forma relevante em organização criminosa;
  • ser membro de quadrilha ou bando, envolvido na prática reiterada de crimes com violência ou grave ameaça.

Os presos são incluídos no sistema penitenciário federal por três anos, mas o prazo pode ser prorrogado quantas vezes forem necessárias.

  • Como funcionam penitenciárias federais? As regras nos presídios de segurança máxima são rigorosas. Até mesmo dentro da cela individual, de 7 metros quadrados, há procedimentos a serem seguidos: O chuveiro liga em hora determinada no único horário disponível para o banho do dia. A comida chega através de uma portinhola. A bandeja é recolhida e em seguida vai para inspeção.
  • Onde ficam as prisões de segurança máxima no Brasil? Catanduvas/PR, Campo Grande/MS, Mossoró/RN, Porto Velho/RO e a mais recente, em Brasília/DF.

Como funciona a penitenciária federal de Mossoró?

Inaugurado em 2009, o presídio de segurança máxima de Mossoró tem capacidade para 208 presos. A unidade recebeu os primeiros detentos em fevereiro de 2010 – eram 20, transferidos do sistema penitenciário do Rio Grande do Norte.

Mossoró é a segunda maior cidade do RN. A penitenciária fica em uma área isolada, distante cerca de 15 quilômetros do centro da cidade, na altura do quilômetro 12 da rodovia estadual RN-15, que liga Mossoró a Baraúna.

A unidade foi a terceira penitenciária federal a ser construída pela União (há cinco no total), e passa por uma reforma que pode ter facilitado a fuga. É o que diz a Secretaria Nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça (Senappen).

Na reforma do presídio de Mossoró, está sendo construída uma muralha igual a da penitenciária federal de Brasília. Este novo equipamento de segurança está previsto para todas as cinco unidades federais.

Veja características da penitenciária:

  • Área total de 12,3 mil metros quadrados.
  • Celas individuais de 7m² divididas em quatro pavilhões. Dentro delas, há dormitório, sanitário, pia, chuveiro, uma mesa e um assento. Não há tomadas, nem equipamentos eletrônicos.
  • Mais 12 celas de isolamento para os presos recém-chegados ou que descumprirem as regras.
  • Cada movimento do preso é monitorado. O chuveiro liga em hora determinada, a comida chega através de uma portinhola e a bandeja é inspecionada.
  • As mãos devem estar sempre algemadas no percurso da cela até o pátio onde se toma sol.
  • Câmeras de vídeo reforçam a segurança 24 horas por dia, segundo o governo federal.
  • Dentro do presídio, ainda há biblioteca, unidade básica de saúde e parlatórios para recebimento de visitas e de advogados, além de local para participação de audiências judiciais.

*Com informações do g1