Artigo publicado na revista Science aponta que marco zero da pandemia está relacionado a uma vendedora em 11 de dezembro, e não a um contador; relatório reacende debate sobre origem do coronavírus.
O primeiro caso conhecido de Covid-19 no mundo foi de uma vendedora que trabalhava em um mercado de frutos do mar da cidade chinesa de Wuhan, e não um contador que vivia a quilômetros de distância e parecia ter alguma relação com o local, de acordo com estudo publicado na revista Science nesta quinta-feira (18.nov).
O estudo reacendeu o debate sobre a origem do coronavírus, que permanece inconclusiva. A busca pelo marco zero da pandemia contribuiu para especulações de que o vírus poderia ter vazado por acidente durante experiência com vírus originários de morcegos no Laboratório de Virologia de Wuhan, o que elevou as tensões entre Estados Unidos e China.
Um estudo conjunto da China e da Organização Mundial de Saúde (OMS) neste ano descartou a teoria de que o Sars-Cov-2 vazou do laboratório. A pesquisa apontava que a hipótese mais provável era a infecção natural de humanos, provavelmente por meio do comércio de animais selvagens, que também era vendidos no mercado de Wuhan.
Uma equipe de especialistas liderada pela OMS passou quatro semanas em Wuhan e seus arredores com cientistas chineses e disse em um relatório conjunto em março que o vírus provavelmente foi transmitido de morcegos para humanos por meio de um animal intermediário, mas indicou que mais pesquisas eram necessárias.
OMS destaca investigação
Agora, o cientista Michael Worobey, chefe de ecologia e biologia evolutiva da Universidade do Arizona e um dos principais especialistas em rastrear a evolução de diferentes vírus, encontrou discrepâncias na linha do tempo ao investigar informações já tornadas públicas em periódicos médicos e meios de comunicação. Ele argumenta que os laços da vendedora com o mercado e uma nova análise das primeiras conexões dos pacientes hospitalizados sugerem fortemente que a pandemia começou ali.
Uma série de especialistas, entre eles um investigador destacado pela OMS, afirmaram que o trabalho de Worobey é sólido, e endossaram a tese de que o primeiro caso conhecido de Covid-19 é potencialmente a vendedora de frutos do mar.
O contador, que antes foi considerado a primeira pessoa infectada pelo coronavírus, afirmou que seus primeiros sintomas apareceram em 16 de dezembro, vários dias depois do inicialmente relatado, segundo Worobey. O estudo aponta que a confusão foi causada por um problema dentário que o homem teve em 8 de dezembro. Conforme a publicação, a maioria dos primeiros casos sintomáticos estava ligada ao mercado.
Worobey foi um dos especialistas que defendeu a consideração da tese de que o vírus poderia ter vazado do laboratório em Wuhan. No artigo publicado nesta quinta-feira, ele sustenta que a nova pesquisa “fornece fortes evidências da origem da pandemia no mercado de animais vivos”.
— Nesta cidade de 11 milhões de habitantes, metade dos primeiros casos está relacionada a um lugar do tamanho de um campo de futebol — disse Worobey ao jornal americano The New York Times. — É muito difícil explicar esse padrão se o surto não tiver começado no mercado.
A OMS propôs no mês passado um novo painel de especialistas para complementar a investigação da origem do coronavírus.
*Informações/OGlobo