Comunista!

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“E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e fazendas, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister” (Atos dos Apóstolos, capítulo 2, versículos 44 e 45), resume bem o ideal comunista. Na bíblia? Será?

O “comunismo”, ouso a dizer, é algo daquilo que nunca existiu e que mais foi perseguido politicamente no mundo e continua a sê-lo, principalmente em nosso país.

No Brasil, “progressismo”, “esquerda”, “socialismo”, “comunismo” são confundidos no balaio conceitual da ignorância política e são usados pejorativamente para se evitar discussões mais aprofundadas, talvez pela incapacidade de as fazermos.

Assim como já escrevi nessas colunas, não há apenas uma direita, há várias, também não há uma esquerda, há uma plêiade.

O comunismo é uma ideologia política e socioeconômica surgida no século XIX, tendo como precursores Marx e Engels. Defendia que o capitalismo, cuja posse privada dos meios de produção por alguns e da mão-de-obra por outros, geraria desigualdades sociais crescentes e um dia sua autodestruição.

Para que se transitasse do capitalismo ao comunismo, onde a sociedade seria igualitária, não haveria Estado, Direito ou classes sociais, deveríamos passar intermediariamente pelo socialismo, que seria implantado após a ditadura do proletariado.

Aqui já teríamos elementos suficientes para comprovar que o comunismo nunca existiu no mundo: os que tomaram o poder implantando uma ditadura do proletariado, baseada em ideais comunistas, pararam aí, estabelecendo uma ditadura contínua e um Estado totalitário. Assim foi na União Soviética, China e Cuba.

Mas não houve tentativas em comunidades menores? Sim, em Israel.

Os chamados Kibutz são seculares e baseados em um sionismo agrícola, com gestão democrática e lucro compartilhado pelos seus membros. Esses locais existem até hoje com algumas alterações e foram os primeiros alvos do Hamas na atual guerra.

Então os leitores se perguntariam: seria possível o comunismo ainda hoje? Minha resposta é que seria possível, mas o ser humano teria que ser diferente do que o que temos atualmente.

O sistema comunista em que cada um contribui com o que tem, sem necessidade de um poder estatal ou de um poder privado sobre as pessoas, compartilhando seus bens e necessidades é muito bonito, porém pressupõe um ser humano perfeito, pouco egoísta, e que doa de si à comunidade.

Por que então o termo comunista ainda é usado pelos reacionários brasileiros para taxar os mais à esquerda? Penso que seja por desconhecimento do que o termo realmente significa e porque é algo de grande impacto político, fácil de lembrar, já usado pelos fascistas e nazistas na década de 30 e que cria um inimigo utópico a ser combatido, aglutinando mais facilmente a militância. Já dissemos em outras colunas que as definições da ciência política nem sempre acompanham a prática e o uso para a militância.

No final das contas, o capitalismo é ainda o sistema mais adequado ao egoísmo humano, onde cada um tem medo que acabe a farinha para o seu pirão.

Com um ser humano perfeito, qualquer sistema decorrente também seria perfeito. Trabalhemos nossa moral.

Bruno Arena: Mestre em Direito Penal e Humanos pela Universidade de Salamanca (Espanha). Especialista em direito penal e direito eleitoral. Presidente do Rotary Club Votuporanga 2022/23. Vice-Presidente da ACILBRAS. Membro do Observatório da Democracia. Proprietário do Cine Votuporanga.  Autor e tradutor de livros. Advogado. Instagram @adv.brunoarena.