Com apoio do PT, aliado de Tarcísio e Valdemar é reeleito presidente da Alesp 

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Deputado estadual de SP André do Prado (PL) — Foto: Bruna Sampaio/Alesp

André do Prado (PL), ex-prefeito de Guararema, cidade de 30 mil habitantes na região metropolitana de São Paulo, recebeu 88 dos 94 votos da assembleia.


O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp)André do Prado (PL), foi reeleito para cargo no último sábado (15.mar), em votação no Palácio 9 de Julho, sede do Poder Legislativo estadual. Foram 88 votos favoráveis. Prado foi reeleito com apoio do PT e da base do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), incluindo bolsonaristas, consolidando sua influência na Alesp e abrindo caminho para pretensões eleitorais em 2026. Pupilo de Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, ele busca se viabilizar como vice de Tarcísio em uma eventual reeleição do governador ou como cabeça de chapa, caso ele dispute a Presidência.

Está é a primeira vez que um chefe Legislativo estadual é reconduzido ao cargo na mesma legislatura, o que era proibido até uma mudança na Constituição de São Paulo. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) foi proposta pelo deputado Carlos Cezar (PL) e aprovada no final do ano passado.

A modificação ocorreu no parágrafo segundo do artigo 11 da Constituição do Estado de São Paulo para permitir a reeleição. No entanto, um terceiro mandato consecutivo está vetado.

Prado enfrentou a candidata Paula da Bancada Feminista (PSOL), único nome de oposição para a disputa da principal cadeira da Casa, que obteve quatro votos. Veja como ficou a composição do comando da Assembleia.

Mesa Diretora

  • Presidente: André do Prado (PL)
  • 1º secretário: Maurici (PT)
  • 2º secretário: Barros Munhoz (PSDB)

Mesa substituta

  • 1º vice-presidente: Gilmaci Santos (Republicanos)
  • 2º vice-presidente: Milton Leite Filho (União)
  • 3º vice-presidente: Fábio Faria de Sá (Podemos)
  • 4º vice-presidente: Paulo Correa Jr. (PSD)
  • 3ª secretaria: Gil Diniz (PL)
  • 4ª secretaria: Léo Oliveira (MDB)

A sessão preparatória que reelegeu Prado teve clima descontraído, com os deputados já cientes do resultado antes mesmo da votação. Em contraste com embates acalorados do passado — alguns que até viraram caso de polícia —, o ambiente foi marcado por trocas de afagos entre parlamentares do PL e do PT. 

Logo no início da sessão, o líder da federação PSOL e Rede, Guilherme Cortez (PSOL), defendeu que a única adversária de Prado, Paula da Bancada Feminista, tivesse o direito de discursar. O pleito, sem respaldo no regimento interno, foi apoiado por Prado, que citou o Mês da Mulher ao justificar o gesto. 

O pedido foi acatado pelos demais líderes, e Paula começou seu discurso lembrando que nunca houve uma mulher à frente do Legislativo paulista em seus 190 anos de existência. Ela lembrou que a atual legislatura elegeu 25 mulheres, um número recorde. “O meu desejo é que um dia a Assembleia Legislativa tenha, sim, uma presidente mulher”, disse ela, que também pediu paridade nos cargos da Mesa Diretora. 

A parlamentar do PSOL aproveitou sua fala para criticar a aprovação de projetos do governo Tarcísio de Freitas na Casa, citando a privatização da Sabesp, a PEC que flexibiliza gasto com educação em São Paulo e o projeto que cria escolas cívico-militares no estado. “A Alesp não pode ser uma forma de chancelar o projeto de avanço da extrema direita no estado de São Paulo. E é por isso que, hoje, o PSOL coloca a candidatura própria”, afirmou ela. “Nós queremos muito que essa casa cumpra um papel independente”, acrescentou. 

Em outro momento, o deputado petista Eduardo Suplicy protagonizou um momento hilário. “Eu me distrai um pouco e vim sem paletó e gravata, mas o meu líder Paulo Fiorilo me emprestou paletó e gravata, então, aqui estou”. 

A votação foi nominal, ou seja, os deputados declararam seu voto um a um no microfone. A situação gerou desconforto para os petistas, que precisaram justificar o apoio a um candidato do PL. Muitos alegaram que votaram no atual presidente da Casa em respeito a um acordo e ao “princípio da proporcionalidade”, já que o PL tem a maior bancada. A deputada Professora Bebel (PT) foi uma das poucas a destoar e afirmou: “Nunca fui impedida de ser oposição nesta casa. Sou mulher de posição e oposição. Por isso, reafirmo meu voto em André do Prado”. 

Os raros discursos contrários à reeleição de André do Prado criticaram o alinhamento da Alesp ao governo de São Paulo. Em dois anos de mandato, Tarcísio não sofreu nenhuma derrota na Casa. 

O presidente da Alesp nutre proximidade com o governador Tarcísio, o que contribuiu para alinhavar a vitória. Em entrevista ao Estadão publicada em 9 de janeiro último, ele admitiu a proximidade com o chefe do Poder Executivo. 

“Realmente, a gente é alinhado. Eu tenho que ser alinhado, apesar de não ser alienado”, disse ele. “Existe harmonia, mas também uma grande independência. Nós mexemos no orçamento [do estado] e nunca votamos tantos projetos de parlamentares nesta Casa como agora”. 

Prado se candidatou pela primeira vez em 2004, quando foi eleito prefeito de Guararema, na região metropolitana de São Paulo, com cerca de 30 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2022. Depois, elegeu-se deputado estadual quatro vezes seguidas (2010, 2014, 2018 e 2022). 

Como mostrou o Estadão, embora filiado ao partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, Prado vive uma situação inusitada na Alesp: é visto com bons olhos pela oposição, em especial, pelos deputados do PT. Parlamentares petistas ouvidos reservadamente pela reportagem disseram que ele tem uma postura mais “democrática” do que seus antecessores e consegue manter diálogo com todos os deputados e atender às demandas da oposição. 

É exatamente pela boa relação que tem até mesmo com o PT, que a vitória neste sábado para mais dois anos no comando da Casa foi facilitada. O PT, inclusive, ficará com a primeira secretaria. 

Depois de um racha interno pela disputa do posto, Mauro Maurici (PT) teve caminho pacificado para ser eleito. A disputa interna ocorreu com Beth Sahão (PT), que declarou no final de fevereiro que “há 30 anos que a prerrogativa para indicação da primeira secretaria é do meu partido, por uma questão numérica de assentos na Casa, mas nunca uma mulher ocupou este cargo”. 

Na queda de braço, Beth retirou a candidatura. O primeiro vice-presidente será Gilmaci Santos (Republicanos) e o segundo secretário, Barroz Munhoz (PSD). 

‘Pé no chão’ 

Sobre a possibilidade de disputar o governo de São Paulo em 2026, André do Prado afirmou que se sente honrado por ter seu nome lembrado, mas afirmou ter “pé no chão”. Segundo ele, a sucessão será debatida no momento certo, e o PL terá papel central nessas discussões. 

“Hoje temos o governador Tarcísio, que deve ser candidato à reeleição para o governo do Estado. O restante das vagas será discutido com a aliança que é formada por vários partidos no momento oportuno. Seria muita audácia da minha parte já falar em sucessão neste momento”, afirmou. 

André do Prado também destacou que um dos projetos prioritários para o próximo mandato é a privatização do sistema de travessias de balsas do Estado de São Paulo, uma iniciativa do governo estadual que, segundo ele, será discutida nos próximos dias. Além disso, prometeu pautar projetos polêmicos que não têm consenso e trabalhar junto à Casa Civil para reduzir o número de vetos do Executivo. 

*Com informações do Estadão