Cientista de Votuporanga vai integrar força-tarefa da Unicamp contra a Covid-19

1556
Pesquisador de 27 anos integra a Força-tarefa contra a Covid-19 da Unicamp — Foto: Gustavo Davanzo/Arquivo Pessoal

Recém-chegado de um doutorado sanduíche nos Estados Unidos, o biólogo votuporanguense Gustavo Davanzo, de 27 anos, filho do casal Marilei e Geraldo Davanzo, decidiu atuar na linha de frente contra o vírus na Universidade Estadual de Campinas (SP).

 

Gustavo Davanzo, o segundo à esquerda do grupo, com os colegas de laboratório em Campinas (SP) — Foto: Gustavo Davanzo/Arquivo Pessoal

“Um momento muito ímpar”. É assim que o cientista Gustavo Davanzo, de 27 anos, define sua participação na Força-tarefa contra a Covid-19 da Unicamp, em Campinas (SP). Recém-chegado de um doutorado sanduíche em Chicago (EUA), o pesquisador não via a família havia cerca de um ano, e decidiu prolongar o afastamento ao integrar a linha de frente da batalha contra o novo coronavírus no Brasil.

Graduado em biologia pela Unicamp, Gustavo colabora com a frente de pesquisa da força-tarefa, responsável por estudar as formas de contágio e o comportamento do Sars-CoV-2. A equipe do laboratório é autora de um estudo recente que desvendou o mecanismo agravador da doença em diabéticos.

“Eu e meus colegas temos trabalhado por volta de 12 horas por dia. Durante esses 90 dias, eu posso dizer que eu passei três finais de semana em casa. A gente tem trabalhado, basicamente, de segunda a segunda, domingo a domingo”, conta o cientista.

Perguntas sem respostas

Natural de Votuporanga (SP) e apaixonado por ciência desde a escola, Gustavo afirma ter entrado no curso de biologia em busca de respostas para perguntas científicas. “Meu café da manhã, almoço e jantar é pensar em hipóteses, no racional de uma pergunta e em como responder ela da melhor maneira possível”, diz.

Movido por questionamentos, o pesquisador se mudou para o Estados Unidos, onde permaneceu durante cerca de um ano e fez parte do doutorado em imunologia. Bolsista pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Gustavo viu sua vida tomar novos rumos após a emergência da pandemia.

“Em Chicago começaram a aparecer diversos casos. No momento em que apareceram casos lá e pessoas próximas a mim começaram a apresentar sintomas, apesar de não terem sido diagnosticadas [com a Covid-19], eu comecei a ficar receoso”, relembra.

Diante do cancelamento de voos e do fechamento de aeroportos, o doutorando decidiu antecipar a passagem de volta para o Brasil em 15 dias. No país, encarou uma encruzilhada: teve que escolher entre cumprir a quarentena com os pais ou ajudar voluntariamente na força-tarefa da universidade.

Dedicação à pesquisa

“Eu decidi ficar por aqui e tentar fazer algum tipo de pesquisa, que é o que eu gosto e o que eu sei fazer, e fazer disso algo que tenha retorno. […] Minha mãe ficou bem chateada com a minha decisão porque, querendo ou não, é mais de um ano que ela não me vê”, relata Gustavo.

Apesar da saudade, os resultados animadores presenciados em laboratório dão forças para continuar e trazem uma sensação de realização. Para ele, ajudar a sociedade é um forma de retribuir com tudo que aprendeu na universidade pública.

“Fui morador da Moradia, sou bolsista e fui bolsista durante todo esse tempo com dinheiro público, fiz meu intercâmbio com dinheiro público. Querendo ou não, estou devolvendo um pouquinho do que a sociedade me treinou”, afirma.

Desvalorização da ciência

Os cenários mundial e nacional diante da pandemia da Covid-19, por sua vez, trazem perspectivas menos esperançosas. “Quando a gente estava com cinco mil [mortos], eu não achei que a gente chegaria a dez. Agora, sinceramente, eu conto os dias para chegar a 100 [mil] e acho que a gente não vai parar em 100 [mil]”.

Ainda que o trabalho tenha resultados positivos, a desvalorização da pesquisa e das descobertas científicas no Brasil entristece, afirma Gustavo. “Ao meu ver, o que a gente tem visto na nossa sociedade é só uma consequência do mundo acadêmico e da ciência não saberem conversar com a população”, analisa.

“Eu espero, sinceramente, que a comunidade científica consiga mostrar para a população que evidências são muito maiores que a minha opinião, a sua opinião ou a opinião de qualquer pessoa”, complementa o cientista. (G1 – Campinas)