Caso Sadraque: Família pede Justiça, delegado reafirma isenção e carro é apreendido 

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Família pede Justiça, delegado reafirma isenção e carro é apreendido – Foto: Reprodução

Veículo envolvido no atropelamento, que estava liberado, foi apreendido pelo delegado Marco Aurélio da Silva Tirapelli, responsável pelo caso de homicídio culposo, que explicou também que optou por não ouvir o condutor no primeiro momento.


Na manhã da última sexta-feira (11.ago) a mãe do jovem Sadraque Muni Martins, de 24 anos, que morreu em decorrência de atropelamento na Avenida João Gonçalves Leite, no bairro Jardim Alvorada, em Votuporanga/SP, na madrugada do último domingo (6.ago), falou com a reportagem, expressando a dor da despedida e clamando por celeridade nas investigações.

Assistidos por Hery Kattwinkel, advogado da família, Dona Sônia, ainda em choque pela perda, afirmou: “Muita dor, ele era meu amor, meu anjo, quem cuidava de mim. O menino machucou muito ele, ficou muito machucado, foi largado igual a um cachorro lá, ficou jogado, não socorreu ele. Ele era muito bom, não tinha maldade nenhuma no coração, não merecia isso não.”

Conforme noticiado pelo Diário, o motorista envolvido no acidente, um jovem de 21 anos, abandonou o carro e fugiu. Testemunhas informaram que ele estava bêbado, no entanto, como não foi encontrado, não foi possível a realização do teste de alcoolemia.

Sadraque foi socorrido e posteriormente devido à gravidade dos ferimentos acabou transferido para o Hospital de Base. No dia 9, foi diagnosticado com morte encefálica, sendo que após o protocolo legal teve óbito anunciado pelo HB. A família autorizou a captação de órgãos, sendo o coração levado para a capital, fígado para Sorocaba/SP, além de rins e córneas que aguardam compatibilidade de receptores.

Ainda na sexta-feira, Hery Kattwinkel voltou a cobrar celeridade nas investigações: “Aqui ninguém tá clamando por nada que não seja Justiça. Ontem [quinta-feira] nós ligamos para a Polícia Civil e nos surpreendemos porque após quatro ou cinco dias, sequer havia instaurado o inquérito policial, sequer as imagens foram apuradas, a gente sabe que o investigado é filho de um perito da Polícia Civil, o que, independentemente precisa agir com imparcialidade. Vamos acionar a Corregedoria da Polícia Civil para que possa acompanhar de perto a elucidação desse caso.”

“Mas o que importa aqui é o que é justo, é o que é certo. Então atravessamos ontem, através da Delegacia Seccional de Polícia, uma petição solicitando que se instaure o inquérito policial. Eu já vi, já advoguei em partes diversas, onde a pessoa acabou praticando um acidente e se evadiu do local porque havia um clamor popular muito grande, em uma região periférica, o que não é o caso agora, as imagens que o Diário tem acesso demonstra claramente que ele chega no local, desce, vê a cagad@ que fez, a verdade é essa, monta no carro e vai embora. Em uma atitude covarde, em uma atitude de omissão de socorro”, emendou o advogado.

Ainda no final da tarde, o Diário esteve no 1º Distrito Policial, ouvindo o delegado responsável pelas investigações, Marco Aurélio da Silva Tirapelli, que reiterou a isenção do inquérito conduzido por ele: “O trabalho está sendo feito desde o momento do acidente. O local foi atendido logo após os fatos pela equipe que estava no plantão e o trabalho não parou em momento nenhum. Não podemos cair em desinformação ou politizar uma tragédia. Por isso quero deixar consignado que desde o domingo, a Polícia Civil de Votuporanga, primeiramente pela Central de Flagrantes, que atendeu essa ocorrência, e depois comigo, está diligenciando no sentido de ter os fatos cabalmente apurados. Tanto as causas desse acidente, como as circunstâncias que envolveram esse trágico atropelamento. Estou preocupado e a minha instituição também, sobre como as pessoas estão se utilizando dessa tragédia, por meio de redes sociais, principalmente, para trazer desinformação.”

O delegado informou ainda que o suspeito possui CNH (Carteira Nacional de Habilitação), esclarecendo também que determinou a apreensão do veículo VW/Gol, de cor preta, envolvido no atropelamento, inicialmente o carro foi periciado e liberado, porém agora permanecerá à disposição das autoridades. O motivo, segundo Tirapelli, seria afastar qualquer futuro questionamento.

Focado no inquérito com resultado morte, agora tratado como homicídio culposo (aquele que ocorre sem a intenção de matar) na condução de veículo automotor, o delegado que possui mais de 30 anos de experiência, aproveitou para categoricamente afastar qualquer suposto favorecimento em decorrência de parentesco do suspeito: “Jamais. É uma pena, pois todos nós temos família. Sou delegado de polícia e não nasci de chocadeira. Esse rapaz hoje investigado, o pai dele é um perito aposentado, que dignificou a instituição que ele representou e tem o meu maior respeito. Agora é mais uma leviandade, para não dizer maldade dessas pessoas que querem se utilizar para criar essas desinformações e essa situação que acaba querendo que as pessoas não acreditem nas instituições. Estou há mais de 30 anos na minha profissão e infelizmente esse não será o primeiro nem o último caso que vou apurar envolvendo pessoas que detém algum tipo de destaque na comunidade. Podem ficar tranquilos, porque isso infelizmente está sujeito a todos nós. Ninguém está imune a passar por uma tragédia. A minha instituição, a Polícia Civil do Estado de São Paulo, que detém a atribuição de apurar ilícitos e sua autoria, irá fazer de forma isenta a apuração de mais essa tragédia.”

Por fim, o delegado de polícia se colocou à disposição, inclusive, do advogado da família, para construir o inquérito, ‘um quebra-cabeças’ sobre os fatos ocorridos naquela madrugada.

“O inquérito seguirá seu curso, desde o dia dos fatos os investigadores estão diligenciando para colher imagens, arrolar testemunhas, inclusive, para poder passar para o Instituto de Criminalística essas informações para que o laudo pericial também seja feito de maneira efetiva. Advogados, familiares, já me procuraram, então tudo está feito de uma maneira legal, pois nós aguardávamos a comprovação do óbito da vítima, já que quando não há um óbito é um tipo de procedimento da Polícia Judiciária e com a efetivação da morte da vítima é um outro procedimento, que vai para a Justiça comum, no caso de homicídio culposo e que estamos apurando, e precisávamos da comprovação do óbito. Pediria que as pessoas tivessem cautela tanto na publicação quanto no acompanhamento dessas informações, dessa verdadeira maldade que está acontecendo com essas pessoas se utilizando de redes sociais”, concluiu a autoridade policial.

Confira o vídeo que o Diário teve acesso e mostra o condutor deixando o local logo após o atropelamento: