Vítima ficou em poder dos criminosos durante um dia. Caminhoneiro tinha carregado milho em uma fazenda em Mineiros/GO e levaria para Birigui/SP.
O caminhoneiro Fábio Junior Prates Rosa, de 40 anos, foi sequestrado na madrugada de terça-feira (3.mai), no interior do estado de Goiás, enquanto trabalhava. Ele havia sido preso injustamente em São José do Rio Preto/SP no dia 16 de abril deste ano.
O boletim de ocorrência registrado em uma delegacia de Itumbiara/GO diz que Fábio foi até uma propriedade rural no município de Mineiros/GO, no dia 27 de abril, onde carregou o caminhão com 39 toneladas de milho. A carga teria como destino final Birigui/SP.
O caminhoneiro deixou a propriedade rural no dia 30 de abril, teve problemas mecânicos com o caminhão e só conseguiu deixar o município de Mineiros no dia 2 de maio.
Ele seguiu viagem e, na madrugada do dia 3 de maio, passou por um posto de combustíveis próximo à cidade de Bom Jesus de Goiás/GO, onde teria perguntado para um frentista onde havia uma borracharia para poder calibrar os pneus.
Ele seguiu pela BR 452 e, cerca de meia hora depois, percebeu um carro atrás do caminhão. Logo em seguida, viu um veículo e percebeu que o caminhão estava parando, pois uma mangueira teria sido cortada.
Um homem chegou na janela do caminhão e anunciou o assalto. Ele exigiu que a vítima se deitasse na cama e cobrisse a cabeça. Um outro criminoso assumiu a direção do caminhão.
Cerca de dois quilômetros depois, eles pararam e um terceiro criminoso teria questionado qual era o conteúdo da carga, alegando que eles teriam apenas interesse em soja.
Depois de rodarem mais um pouco, eles pararam e exigiram que a vítima entrasse no carro. Fábio foi levado até uma casa abandonada, distante cerca de uma hora e meia de onde estavam. Ele foi levado para um dos cômodos da casa, onde permaneceu até por volta das 17h30.
Os bandidos levaram Fábio em um carro até o município de Vicentinópolis/GO, onde o deixaram.
Foram levados documentos pessoais, dinheiro, cartões e o alvará de soltura de Fábio, além do caminhão e a carga. Nenhum bandido foi localizado.
Relembre o caso
O caminhoneiro de 40 anos passou dois dias no Centro de Detenção Provisória (CDP) de São José do Rio Preto após ser preso injustamente.
Fábio teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) usada por um criminoso. Ele foi solto somente depois que o advogado entrou com um pedido de revogação da prisão e comprovou que o cliente estava viajando com a família no dia do crime.
“Estava com o carro parado. Quando meu filho foi buscar marmita, minha filha veio para o meu colo. Eles [policiais militares] vieram, me abordaram, puxaram a documentação e disseram que eu teria que acompanhá-los até a delegacia”, contou o caminhoneiro.
Na delegacia, constataram que Fábio estava foragido por um crime de roubo de fios elétricos de caminhões de uma empresa de terraplanagem. Consta no boletim de ocorrência que foram apreendidos os fios e uma faca usada no crime.
“Fiquei em choque. Nunca roubei nada. Quem me conhece sabe. Sou um cara extremamente correto com as coisas. O momento mais difícil foi a hora que entrei na viatura na frente dos meus filhos. Isso foi o fim. Sempre pesei muito pelo meu nome e sempre cuidei da minha família com muito cuidado”, disse Fábio.
No dia 31 de janeiro, quando o roubo aconteceu, o caminhoneiro estava viajando com a família. As fotos da viagem foram as provas apresentadas pelo advogado de defesa de Fábio durante a audiência de custódia.
“O Fábio, quando foi preso, precisou passar por audiência de custódia, e nós levamos todas as provas, mas o juiz se ateve a seguir o procedimento. A audiência de custódia visa analisar a legalidade da prisão. O juiz não entrou no mérito e disse que deveríamos pedir revogação da prisão diretamente com o juiz competente”, contou o advogado Yan Livio Nascimento.
Não há informações sobre como a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) de Fábio, vencida desde 2017, foi usada pelo verdadeiro criminoso, principalmente porque o documento ainda está com o caminheiro.
“É uma incógnita para a defesa, ainda, se esse documento teria sido exibido pelo autor dos fatos, no dia do flagrante, ou se está no sistema da polícia e simplesmente foi juntada nos autos”, explicou o advogado.
Fábio passou por uma situação semelhante em 2018, quando também foi levado à delegacia porque um criminoso tinha usado os dados pessoais dele no momento da prisão. O delegado, neste caso em específico, percebeu o equívoco, e nada aconteceu.
Mesmo depois de ter explicado o que aconteceu há quatro anos, e ter apresentado fotos da viagem com a família no dia do crime, Fábio foi preso, passou um dia na carceragem da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) e dois no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Rio Preto.
O caminhoneiro foi solto somente depois que a defesa entrou com um pedido na Justiça para revogar a prisão temporária. A situação deixou toda a família de Fábio assustada e traumatizada.
O advogado do caminhoneiro diz que vai entrar com uma ação contra o Estado de São Paulo por danos morais. Fábio ainda responde o processo pelo crime que não cometeu e também luta para ter de volta o direito de poder trabalhar e a tranquilidade de sair de casa sem ser julgado.