
Exposição ‘Fugaz’, de Chris Jordão, no Museu Edward Coruripe Neto, propõe uma reflexão poética sobre o tempo, a natureza e a impermanência, com obras criadas a partir da luz solar e pigmentos vegetais

@caroline_leidiane
A artista plástica Chris Jordão convida o público a uma pausa contemplativa em ‘Fugaz’, exposição em cartaz desde o dia 11 que segue até 31 deste mês, no Museu Edward Coruripe Neto, em Votuporanga.
O projeto propõe um mergulho na impermanência, tema que atravessa as obras da artista, e convida à observação sensível do que nasce, se transforma e desaparece.
Com técnicas ancestrais como a antotipia e a fitotipia, Jordão utiliza a luz solar como agente criador, fixando impressões efêmeras sobre papéis, tecidos e folhas.
“Para mim ambas as técnicas são ancestrais e mágicas. A antotipia era o que os botânicos usavam para catalogar espécies na época do descobrimento do Brasil; ambas também são formas primitivas de fotografia. Todo esse processo exige a pesquisa de pigmentos naturais e a paciência de deixar o sol agir sobre as superfícies. O tempo age, a natureza se transforma”, explana a artista.
O relacionamento com o ecossistema vem de longa data.
“Desde a infância tive uma relação muito profunda com a natureza, que resultou em minha formação acadêmica em produtos naturais e agora, como artista plástica, pesquiso como esses produtos podem se transformar em algo que possa impactar visualmente as pessoas e trazer algumas reflexões”, conta.
Essa trajetória fez nascer “Fugaz”, um trabalho que se constrói a partir da observação do tempo e de suas marcas.
“Resolvi dar voz à impermanência e todas as suas nuances: a passagem acelerada do tempo, a nossa falta de tempo para contemplação e ócio, a impermanência da natureza, as pessoas queridas que nos deixaram, o envelhecimento e os ciclos da vida”, retrata Chris.
Em “Fugaz”, o processo é tão relevante quanto o resultado final. Cada obra é atravessada pela ação de pigmentos vegetais, luz, umidade e ar.
“Todo esse processo de pesquisa e desenvolvimento das obras me levam a uma catarse. Toda liberação emocional é expressa em cores, texturas e descolorações”, revela a artista, que encara o próprio desaparecimento das imagens como parte do gesto criativo.
“Esse desaparecimento me impacta. Me faz pensar que todos em algum momento vamos desaparecer e nos transformar em algo novo. A delicadeza das figuras desbotadas dá uma dimensão poética e onírica à exposição”, reflete ela.
A transitoriedade, no entanto, não busca respostas, mas provocações. “Simplesmente não sei te dizer”, diz rindo, ao ser questionada sobre o que espera despertar no público. “Cada indivíduo é um universo de emoções, sentimentos e pensamentos. Cada pessoa irá interpretar de acordo com a sua realidade e experiências prévias.”
“Fugaz” integra o projeto “Memórias Vegetais, Luz e Sombra: Impressões Artísticas com Pigmentos Naturais”, contemplado pelo Edital nº 10/25 – Bolsa Cultura, da Prefeitura de Votuporanga por meio da Secretaria Municipal da Cultura e Turismo. Além da exposição, o projeto levou oficinas de impressão botânica aos quatro Cras (Centro de Referência de Assistência Social) do município, envolvendo cerca de 100 participantes.
“Os atendidos puderam decorar ecobags e telas. Essa atividade trabalhou as memórias vegetais da infância e o sentimento de território dos participantes”, conta a artista.
Em um mundo que tudo parece se esvair rapidamente, “Fugaz” propõe o contrário: um convite para desacelerar, ouvir o tempo e perceber a beleza que habita no efêmero, apreciando a transitoriedade.
SERVIÇO
Exposição “Fugaz” de Chris Jordão
Data: de 11 a 31 de outubro
Visitação: terça a domingo, das 09h às 17h
Local: Museu Edward Coruripe Neto, dentro do CIT (Centro de Informações Culturais) “Marão Abdo Alfagali”, no Parque da Cultura
Entrada gratuita