#Black Lives Matter

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Por Perola Ferraz

 

Novamente os Estados Unidos foram palco de um crime racista. Daniel Prude, um homem negro de 41 anos, com aparentes problemas mentais, foi asfixiado por policiais da cidade de Rochester, no oeste do estado de Nova York, e acabou morrendo em consequência. O caso ocorreu em março, mas as circunstâncias da morte foram reveladas somente na quarta-feira (02/09), quando sua família divulgou imagens e documentos relacionados ao incidente.
O racismo nos Estados Unidos é algo histórico e está ligado intimamente à sua colonização. Quando os ingleses chegaram às treze colônias, diferentemente dos portugueses que se deleitaram com as índias brasileiras, eles tiveram nojo dos povos nativos. Por isso, não quiseram se misturar, como também dizimaram boa parte das tribos indígenas que viviam na região antes da chegada do homem branco. Assim também aconteceu com os animais. Os mustangs, cavalos nativos, quase foram dizimados pelos ingleses. Na verdade, os colonizadores não queriam que suas éguas “puro sangue’ se misturassem com aqueles animais e gerassem descendentes impuros.
Muitos negros africanos foram trazidos para a América do Norte e trabalharam nas lavouras de algodão. A escravidão africana reforçou o racismo histórico que já existia nos Estados Unidos, desde a época da colonização.
Mesmo após a guerra da Secessão e a abolição da escravidão nos Estados Unidos, o racismo ainda continuou muito forte. No final do século 19, uma organização chamada Ku Klux Khan ganhou milhares de adeptos. A organização pregava a supremacia branca e agia com violência para perseguir famílias negras. Ainda, praticava crimes de ódio que espalharam medo pelos estados do sul, como o linchamento, a tortura, assassinatos e incêndios.
No início do século 20, negros e brancos viviam em uma sociedade completamente segregada. Nos estados do sul, negros e brancos eram proibidos de estudar nas mesmas escolas, frequentar as mesmas igrejas e compartilhar bebedouros ou espaços em trens e ônibus. Por exemplo, um negro só podia se sentar num ônibus, se todos os brancos estivessem sentados.
Em 1950, começaram muitos movimentos pela luta da igualdade de direitos da sociedade Negra. Em 1954, a Suprema Corte Norte-Americana considerou inconstitucional a segregação racial nas escolas. No ano seguinte, a costureira Negra, Rosa Parks, negou-se a ceder o seu lugar no ônibus para um homem branco. Este ato desencadeou uma série de protestos que tomaram o país. Também, Martin Luther King se destacou na liderança do movimento que lutava pela igualdade de direitos dos negros e pelo fim da segregação racial nos Estados Unidos.

Em 1963, cerca de 250 mil pessoas se reuniram na marcha para Washington, movimento que acabou virando um símbolo do fim da segregação racial no país. O ponto alto do evento foi o discurso de Martin Luther King: “Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter”. No ano seguinte, foi promulgada a Lei dos Direitos Civis, que proibiu a discriminação racial nos EUA.
Em 2018, Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos. Apesar disso representar um importante símbolo, o racismo ainda é uma ferida aberta. Existem cerca de 892 “grupos de ódio” no país. Destes, 190 são ligados à Ku Klux Klan, organização racista que hoje se define como um movimento político. Ao contrário do Brasil, nos EUA não é crime divulgar conteúdo racista.
No entanto, um movimento, criado em 2013, ganhou repercussão em todos os EUA: o civil Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em português), que combate a violência policial contra os negros e luta pelos direitos humanos da comunidade negra. Na internet, é comum o uso da hashtag #BlackLivesMatter, quando surge um novo injusto caso de morte de negros por policiais.


É interessante observar como, historicamente, muitas sociedades tentaram dominar outras, usando um discurso racista e preconceituoso, muitas vezes baseado na supremacia branca. Todavia, se olharmos atentamente a história da humanidade, perceberemos que falar em raças e cor de pele tem sido algo muito questionado.
Estudos apontam que os hominídeos surgiram na África e que, portanto, eram negros. Nossos ancestrais eram negros. A cor da pele foi se modificando para que o homem pudesse se adaptar às condições geográficas onde estava vivendo. Assim, a diferença de coloração da pele, da mais clara até a mais escura, indicaria simplesmente que a evolução do homem procurou encontrar uma forma de regular nutrientes.
Isso contraria, portanto, todas as teorias racistas baseadas na supremacia branca, as quais, ao longo da história, foram utilizadas por vários povos para cometerem inúmeras atrocidades e que, ainda hoje, encontram adeptos pouco sapientes.