Arthur do Val reconhece áudios como dele: ‘Tá errado o que eu falei, não é isso que eu penso, o que falei foi um erro, em momento de empolgação’

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Arthur do Val desembarca em SP, confirma autenticidade dos áudios e diz que foi em grupo de amigos — Foto: Reprodução

Parlamentar, pré-candidato pelo Podemos ao governo de SP, disse que áudio foi feito após deixar a Ucrânia e que foi conversa ‘privada’ em grupo de amigos. Áudios dizem que mulheres ucranianas são ‘fáceis, porque são pobres’. Alesp repudiou com veemência a fala do deputado.


Ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, na manhã deste sábado (5.mar), o deputado estadual Arthur do Val (Podemos), conhecido como “Mamãe Falei”, confirmou que são seus os áudios em que fala que mulheres ucranianas são “fáceis, porque são pobres”.
Nos áudios, que circulam nas redes sociais na noite desta sexta-feira (4) e foram enviados para integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) em um grupo privado, também há outras declarações machistas e misóginas.
“Foi errado o que eu falei, não é isso que eu penso. O que eu falei foi um erro, em um momento de empolgação”, disse ele.
Segundo ele, “houve um mal entendido” e as “pessoas estão misturando os áudios com outro contexto”.
O deputado é membro do MBL e pré-candidato ao governo de São Paulo pelo Podemos. Ele estava em viagem à Ucrânia onde foi arrecadar doações para refugiados ucranianos após a invasão da Rússia ao país e também conhecer a resistência ucraniana à invasão.
“Pelo amor de Deus, gente, a impressão que está passando aqui é que eu cheguei lá [na Ucrânia] e falei: ‘quem quer vir comigo aqui, que eu quero comprar alguma coisa’. Não é isso e eu nem poderia fazer. Inclusive nos áudios eu falo ali, ainda que de modo jocoso, de modo informal. Eu não tive tempo pra fazer absolutamente nada, eu não tive tempo para tomar banho”, afirmou o parlamentar ao desembarcar.
“Eu fui fazer uma coisa, mandei um áudio infeliz e a impressão que passou é que fui fazer outra coisa”, afirmou Do Val.
Arthur do Val em foto ao lado de material para coquetéis molotov, na Ucrânia. — Foto: Reprodução/Twitter
“Se as pessoas querem me julgar, eles têm o direito. Eu só quero que entendam que são contextos diferentes. Uma coisa é o Arthur que foi lá fazer a missão. Outra coisa é o Arthur que já tinha saído (da Ucrânia, após a viagem) e mandou um áudio em grupo privado, para os amigos dele, de forma errada, descabida, não foi na melhor das posturas, é nítido aquilo. Mas, como eu te falei, é um áudio privado”, disse ele.
Namorada rompe relação
Logo após os áudios repercutirem nas redes sociais, a namorada do parlamentar anunciou o rompimento do relacionamento. O anúncio foi feito também pelas redes sociais e enquanto Arthur do Val ainda estava em voo da Ucrânia para o Brasil.
“Em respeito a todos os meus seguidores que também seguiam o Arthur gostaria de deixar claro que seguiremos caminhos distintos. Infelizmente a vida é imprevisível e muitas vezes nos leva por caminhos que não compreendemos. Mas de uma coisa podemos ter certeza: o amor foi real e sempre será”, escreveu a ex-namorada.

O Podemos, partido de Arthur do Val, repudiou as falas do deputado.

“Gravíssimas e inaceitáveis são as declarações do deputado estadual Arthur do Val, que foram divulgadas na imprensa. Não se resumem ao completo desrespeito à mulher, seja ucraniana ou de qualquer outro país, mas de violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra.

O Podemos repudia com veemência as declarações e, com base nelas, instaura de imediato um procedimento disciplinar interno para apuração dos fatos. Até este momento o partido não havia conseguido contato com o deputado, que estava em voo”, diz nota assinada por Renata Abreu, deputada federal e presidente do Podemos.

Sérgio Moro, pré-candidato à Presidência pelo Podemos, também criticou as declarações.

“Lamento profundamente e repudio veementemente as graves declarações do deputado Arthur do Val divulgadas pela imprensa. O tratamento dispensado às mulheres ucranianas refugiadas e às policiais do país é inaceitável em qualquer contexto. As declarações são incompatíveis com qualquer homem público”, diz a nota de Moro.

E segue: “Meu respeito incondicional às mulheres em geral e às ucranianas, em especial, porque além de todos os problemas diários enfrentados, precisam conviver com os horrores da guerra. Tenho uma vida pautada pela correção e pelo respeito a todos –tanto no campo público quanto na vida privada. Portanto, jamais comungarei com visões preconceituosas, que podem inclusive ser configuradas como crime. Jamais dividirei meu palanque e apoiarei pessoas quem têm esse tipo de opinião e comportamento. Espero que meu partido se manifeste brevemente diante da gravidade que a situação exige”.

Moro não cita o crime que Arthur do Val teria cometido, mas, segundo a assessoria, ele se referiu ao crime de misoginia.

PT e UneAfro entram com representação

Na noite desta sexta, o PT entrou com uma representação contra Arthur do Val na Assembleia Legislativa de São Paulo por quebra de decoro parlamentar. De autoria do deputado estadia Emidio Pereira de Souza (PT-SP), a carta pede que o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar apurem o caso.

“O presente caso merece, evidentemente, apuração pela quebra de decoro parlamentar; competindo, assim, a este colendo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar afirmar sua repulsa ao sexismo e a qualquer forma de discriminação, reforçando posicionamento de integral solidariedade e respeito às mulheres que se viram aviltadas em sua dignidade pela manifestação do parlamentar, nos termos e conformes dos procedimentos adrede especificados.”

Já o movimento social UneAfro Brasil representou ao Ministério Público pedindo investigação sobre o áudio de Arthur do Val, dizendo que ele “incentiva o turismo sexual”.

Alesp repudiou com veemência

Em nota, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo repudia com veemência a fala do deputado Arthur do Val. O presidente, deputado Carlão Pignatari (PSDB), afirma que a atitude é inaceitável e que será tratada com rigor e seriedade pelas esferas de investigação do Parlamento. A Alesp se solidariza com as mulheres, em especial às ucranianas, e reforça sua luta em defesa e proteção de todas, representadas por conquistas históricas, ações efetivas e leis em vigor.