A senhora estava lá, chorosa, na casa do filho e da nora, que não sabiam mais o que fazer para alegrá-la, no alto dos seus 90 anos, alegando saudade de casa. Volta e meia assim ela fazia, quando não, pensava em voz alta, clamando a Deus que a levasse de volta para sua casa, e é claro, todos ouviam.
Podemos, então, pensar: por que uma senhora de quase 90 anos, debilitada, impossibilitada de cuidar de si, sem condições de manter-se sob as despesas com 3 funcionárias por tempo indeterminado, não deseja ficar no ambiente onde é amparada?
A nora, após muitas tentativas frustradas, convidou-a para uma reflexão mais profunda. Perguntou-lhe do que sentia saudade na casa. A sogra respondeu: da minha casinha. Mas, do quê? – insistiu a nora. -Ah! do tempo que eu vivi com o meu marido… Foi um tempo muito difícil porque eu não podia falar nada que ele ficava nervoso… -Quem tem saudade do sofrimento? –perguntou a nora. A senhora concordou com a interlocutora, movendo a cabeça.
Feita a pergunta novamente, veio a segunda tentativa: tenho muitas lembranças que eu vivi lá. Surgiu, então, a segunda reflexão: -saudade da casa por causa das lembranças? Lembranças ficam na memória e nós podemos, em qualquer momento e lugar, acessá-las, – argumentou a nora.
Ora, se não é por nada disso, então, por que é que alguém pode sentir saudades da sua casa e desejar, tão, incessantemente, querer voltar pra esse lugar? Você já parou pra pensar nisso, querida leitora, caro leitor?
Durante muitos anos no campo desta convivência e entendendo de que todos os nossos sofrimentos têm origem no orgulho, a nora chegou à conclusão e disse-lhe: sua casa, suas regras…
É assim que somos. Na nossa casa, nossas regras; na casa dos outros, regras dos outros, e nós temos que respeitar. Na casa dos outros não podemos fazer o que queremos sem o consentimento dos donos da casa, caso contrário, os conflitos vão aparecer.
A nora teve que buscar, nos registros da memória, a fim de exemplificar para a sogra que, desde que entrou para a família, em meio a tudo que, por diversas vezes, tentou fazer para melhorar a qualidade de vida da sogra dentro daquela casa, foi barrada, por incontáveis vezes, por ela própria. A única coisa que lhe foi permitida ao longo dos 35 anos que frequentou a casa foi lavar as louças após as refeições.
É fato que o orgulho, filho da ignorância e pai de todas as nossas imperfeições é o gerador do sentimento de superioridade em nós, e é, exatamente, para onde devemos voltar a nossa atenção e o nosso esforço se quisermos eliminar ou mesmo evitar sofrimentos em nossas vidas.
E como bem disse, um dia, um pensador, “O orgulho te faz perder o tempo que você poderia estar desfrutando”.
Denize Gonçalves – Psicanálise Clínica/Autoconhecimento
É colaboradora deste Diário
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