VOTUPORANGA ANTIGA – Ailton de Assis, o grande Borboleta

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 Borboleta e a sua paixão por motos e triciclos.

Nessa semana, perdemos um dos maiores músicos da história de Votuporanga, uma pessoa ímpar com quem tive o prazer de ser aluno na época do colégio. Além disso, também consegui retratar um pouco da trajetória desta pessoa tão querida no livro que lancei em 2019, em uma singela homenagem feita ao Borboleta, ainda em vida. Seu legado ficará sempre conosco, juntamente com a saudade desse votuporanguense de coração. Ao seu filho, Jorge, deixo os meus pêsames e um grande abraço.

Seguem abaixo alguns trechos do primeiro capítulo da obra: “Votuporanga e Seus Personagens – Um Olhar Diferenciado Sobre os Filhos das Brisas”, sobre o nosso eterno Ailton:

“Se houvesse uma rixa entre Votuporanga e Nhandeara, com certeza nós, votuporanguenses, poderíamos nos vangloriar por ter como um de nossos habitantes um dos cidadãos mais musicais da cidade vizinha. Digo isso, pois, na infância, Ailton Rosa de Assis tocava no grupo de escoteiros da cidade de Nhandeara, quando sua mãe Antônia, funcionária pública, foi transferida para a cidade das brisas suaves junto com os oito filhos, em 1966.

Exatamente nesse mesmo ano, o jovem músico participou do primeiro de seus inúmeros desfiles votuporanguenses. Conforme relatado pelo próprio Ailton, devido ao fato de ter chegado à cidade após o início do ano letivo, ele não tinha uniforme para usar durante a apresentação na fanfarra. Mesmo sem a “farda escolar” e sem comparecer aos ensaios, ele se apresentou desfilando nas ruas da cidade pela escola. Já no segundo ano representou o Colégio Comercial no desfile cívico, tamanho era o seu talento em manusear os instrumentos musicais, já reconhecido desde a infância pelos professores.

Sobre o apelido que o acompanha, Borboleta, Ailton lembra que o nome surgiu aqui mesmo em Votuporanga na época do colégio: conforme relatado acima, ele não tinha o uniforme como os demais alunos. Por isso, usava uma camiseta em formato de “gola V”, muito comum para a época. Logo, quando foi questionado por um aluno da classe sobre a vestimenta: “– É gola de camisa ou asa de borboleta?” –, ali estava sacramentado o apelido que o acompanha até hoje.

Após o primeiro desfile seguiram-se muitos outros, inicialmente como aluno e alguns anos mais tarde como professor de música, em quase todas as escolas públicas e particulares do município. Nestes locais, teve a oportunidade de ensinar sobre o poder transcendental da música, como um diferencial na vida das pessoas – em um tempo em que educação, disciplina e moral cívica eram qualidades constantes no cotidiano dos alunos. Ele lembra-se com extremo carinho dos desfiles das escolas de samba, afinal foram anos e anos desfilando e preparando o carnaval da cidade, lutando para que o evento pudesse acontecer, apesar das dificuldades em organizar um evento deste porte.

Por isso, sua passagem pelos blocos e escolas carnavalescas chama a atenção, posto sua atuação em quase todas as escolas de samba da cidade, como as tradicionais “Academia do Samba” do Eterno Fumaça, “Morro por Ela”, “Mulata Dengosa”, “Falcão Negro”, “Mocidade de Ouro”, dentre outras. Segundo Borboleta, essa era uma época diferente, já que existiam bailes de carnaval nos principais clubes de serviço da cidade, além dos desfiles serem realizados ora na rua Amazonas, ora na rua São Paulo.

Borboleta em um dos ensaios da APAE.

 Outra característica diz respeito ao preparo antecipado das fantasias, adereços e afins; com ensaios dos percussionistas e passistas, inclusive no período noturno nas praças e ginásios escolares. Os participantes eram recebidos com muita animação e desempenhavam suas funções com comprometimento e muitas vezes sequer recebiam qualquer tipo de remuneração ou incentivo financeiro.

Tudo isso nos permite notar o grande amor que essas pessoas tinham pela cidade e pelas comunidades que representavam. Após os tradicionais desfiles, os foliões estendiam a festa nos clubes para dançar até o final da noite e as brincadeiras atravessavam a madrugada.

Ainda sobre o tema musical, é preciso mencionar trabalho de Ailton Rosa como percussionista em vários grupos, como: a “Banda Jovem Capri” e “Casa Nova”, “Ellos” e “Stillus”, responsáveis por animar as noites nos clubes da região. Também faz parte desta lista as turmas de samba e pagode: “Samba 7” e “Sedução” e ainda a participação nos clubes de forró “Asa Branca” e “Forrozão Santa Fé”.

No final de dezembro, perto da virada de Ano Novo, era comum realizarem show em várias cidades. Ele se recorda de uma vez que começaram a tocar na cidade de Votuporanga, depois foram para Nhandeara, Turiúba e por fim, acabaram a “maratona de shows” em Buritama – tudo isso no mesmo dia!

Outro assunto a se destacar quando falarmos de Borboleta é o seu brilhante trabalho na APAE de Votuporanga, um local que, conforme ele declara, mudou à sua maneira de ver o mundo. Sua contribuição inicialmente foi como voluntário, no período de 1980 a 1984, a convite da Sra. Lourdes de Campos; e depois, já como funcionário devidamente remunerado. Ao relatar essa passagem, notamos muito carinho em suas palavras, pois considera os alunos e funcionários uma segunda família, tendo inclusive a oportunidade de viajar e levar seus alunos para apresentações em diversos eventos e cidades.

 

Borboleta em viajem ao litoral.

 

Mais uma paixão do músico é a velocidade. Em 1999, fundou o primeiro Moto Clube de Votuporanga o “Asas de Aço” e a partir daí teve a oportunidade de viajar bastante, e, principalmente, fazer novos amigos. Nesta mesma época, resolveu montar o seu tão famoso triciclo motorizado, adornado com vários adereços, a maioria presente de amigos e adquiridos em suas inúmeras viagens. Sempre com ideias novas e uma força de vontade invejável, aos 48 anos de idade resolveu fazer o tão sonhado curso superior, em Educação Física, se formando logo depois.”

Infelizmente, nessa semana, Ailton nos deixou no dia 12 de novembro de 2020, aos 69 anos, mas a memória do eterno Borboleta ficará registrada em todos os ensinamentos que deixou.

  • Texto Adaptado do livro: Votuporanga e Seus Personagens – Um Olhar Diferenciado Sobre os Filhos das Brisas, de Ravel Gimenes. Fotos do acervo de Ailton de Assis e Ravel Gimenes.