Por Roseli Arruda –
A mídia social tem sido descrita como mais viciante do que cigarros e álcool e agora potencializada com o isolamento devido à pandemia está completamente arraigada na vida de milhares de seres humanos, provocando uma verdadeira revolução na interação entre pessoas, tanto positiva como negativamente. A evolução das redes sociais acabou se tornando um espelho da sociedade na qual vivemos, onde as pessoas podem tranquilamente fazer bem ou mal para as outras. Um dos casos mais recentes em nosso país foi o escárnio com a aparência física e os “memes” pejorativos em torno da pessoa de Nelson Teich postados no face e no instagram, ilustrados com frases tirando sarro o tempo todo de um ser humano visivelmente exausto, talvez por ter dedicado a sua vida inteira pesquisando a cura do câncer e só serviu para expor a falta de empatia e bom senso do povo brasileiro. Teich, o “Sinistro da Morte” como foi chamado por milhares de pessoas na internet, foi desdenhado, massacrado e ridicularizado nas redes sociais, tanto pela mídia quanto por uma gigantesca multidão de analfabetos funcionais de plantão. Mas afinal de contas quem é Nelson Teich, que ao anunciar a sua saída do Ministério da Saúde fala rapidamente para uma nação atravessando a curva da covid-19 em ascensão, que a vida é feita de escolhas e que ele havia escolhido sair? Teich veio ao mundo pelas mãos de médicos de hospital público assim como estudou a vida inteira em escolas públicas, tem seis filhos, sendo que uma das filhas é diretora de Economia da Saúde do Hospital Israelita Albert Einstein. É formado em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), fez residência médica pelo Hospital de Ipanema e em Oncologia Clínica pelo Instituto Nacional de Câncer. Em 1998, concluiu MBA em Administração de Saúde pelo Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2006, também concluiu MBA em Gestão de Negócios pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais. Na Universidade de Iorque, onde está realizando seu PhD, é orientado por Laura Bojke e Mike Drummond. Sua pesquisa é focada no tratamento de câncer no Brasil e na melhoria da eficiência técnica. Na própria Universidade, realizou um mestrado em Avaliação Econômica para Avaliação de Tecnologias em Saúde. É membro do corpo editorial do American Journal of Medical Quality. Fundou o Grupo Clínicas Oncológicas Integradas (COI), em 1990, e foi seu presidente até 2018. Em 2009, fundou a organização não governamental COI Instituto de Gestão, Educação e Pesquisa, da qual é presidente com o objetivo de realizar pesquisas clínicas e projetos, execução de programas de treinamento e educação em diversas áreas ligadas ao cuidado com o câncer. Prestou consultoria na área de economia da saúde ao Hospital Israelita Albert Einstein. É contra o uso da cloroquina e a favor do isolamento social. O seu pai morreu de câncer no pâncreas. Dr. Teich, mostrou profunda tristeza ao pronunciar poucas palavras sobre a sua saída do ministério da saúde num momento tão desesperador, mas seja qual for o motivo real dessa decisão e mesmo sendo médico, jamais conseguirá curar essa fissura que o povo brasileiro rasgou em sua alma, o mesmo povo pelo qual ele luta incansavelmente em busca da cura do câncer.
Roseli F.de Arruda
Escritora/biógrafa