Por
Prof. Dr. Antonio Caprio
A História regional bem como as das demais cidades hoje ocupantes do grande Vale do Jatahy tem muito a ver com a Estrada do Tabuado, que nascia em Jaboticabal e se estendia até as barrancas do rio Paraná. Já nos idos de 1867, Taunay, Visconde do Governo de Sua Majestade Imperial D.Pedro II, que na época ocupava cargo assemelhado ao de Ministro dos Transportes, preconizava a abertura de uma estrada que ligasse a Capital – Rio de Janeiro e, por conseguinte São Paulo aos estados de Minas Gerais e Mato Grosso. O ponto de contato seria o Porto do Tabuado, nas margens do rio Paraná, que já foi chamado de Porto Presidente Vargas e de Porto Itamarati.
Apesar de conhecer todas as dificuldades, o Governo de São Paulo, por meio do Secretário da Agricultura, Commércio e Obras Públicas, Doutor Jorge Tibiriçá, contratou os serviços do eminente engenheiro Olavo S. Hummel que deu início a um arrojado projeto partindo do último ponto atingido pela Estrada de Ferro do Estado de São Paulo, a cidade de Jaboticabal. O Doutor Hummel elaborou o projeto em março de 1895, que em linha praticamente reta passava pela Vila de São José do Rio Preto, criada em 1852 e adentrava à luxuriante floresta paulista que ia até as barrancas do rio Paraná. O Porto do Tabuado ficava nas margens do caudaloso Paraná.
Os serviços da tão sonhada estrada se iniciaram somente em 1896 e nossa região teve como colaborador do Projeto o Engenheiro Ugolino Ugolini que chegou a ser suplente de vereador em São José do Rio Preto no ano de 1894, cujas eleições se deram em 29 de outubro do referido ano. Este mesmo engenheiro elaborou a planta do Quinhão 13 da Fazenda Jataí de Cima que viria a ser a primeira planta baixa de Tanabi.
Por parte de Mato Grosso e de Minas Gerais havia movimentos no mesmo sentido. Em 1825 o Presidente de São Paulo (denominação da época) desejava abrir uma estrada que partisse de São Bento de Araraquara e se estendesse até o Rio Grande. Pretendia se atingir Goiás e Cuiabá, grandes centros urbanos da época.
Pintura “Estrada Boiadeira” – autoria de Antonio Caprio
Em 1830, o Presidente de Mato Grosso, Pimenta Bueno, determinou a abertura de uma picada daquele Estado até São Paulo. O Prefeito de Araraquara, Manoel Joaquim Pinto de Arruda se empenhou na obra e muito colaborou para sua realização. Um movimento de grande monta se organizou e os “bandeirantes”, em sua grande maioria mamelucos, filhos de índio e português que conheciam como ninguém as matas e também línguas e dialetos indígenas, partindo de São Bento de Araraquara se lançaram a caminho na abertura da estrada tão sonhada.
A obra foi se arrastando e por muitas vezes foi interrompida com grandes prejuízos aos serviços já executados. Parte do trecho se arruinou pelo abandono apesar das reformas feitas.
Em 15 de janeiro de 1902, por iniciativa do vereador Artur Ramos, da cidade de São José do Rio Preto, Preto, foi apresentada indicação ao Governo Paulista no sentido de dar atenção à Estrada do Tabuado por ser ela de suma importância para a região e para o próprio país.
As dificuldades acabaram por abater o ânimo dos bandeirantes-construtores da Estrada do Tabuado. De 1923 até 1931 as prefeituras da região se uniram para apelar ao Governo do Estado de São Paulo pela conservação da Estrada do Tabuado já conhecida como Estrada da Boiadeira e por onde o progresso havia atingido toda a região do Estado de São Paulo fazendo nascer, em suas margens inúmeros povoados e cidades. Algumas dessas comunidades desapareceram, mas um grande número de cidades resistiu e se tornaram em centros urbanos que deram à região noroeste do Estado de São Paulo a importância que hoje tem.
O governo central desejava abrir caminhos para ligar Jaboticabal, depois São José do Rio Preto, povoado nascido em 1852, aos estados de Mato Grosso e Minas Gerais. Era preciso acessar o porto do Tabuado nas barrancas do Rio Paraná. O engenheiro Francisco Paes Leme Monlevade, da Companhia de Estrada de Ferro que era chefe de uma equipe procedente de Jaboticabal, em 1902 buscou acessar o referido porto por outro caminho diferente do pretendido por Olavo Hummel. Chegando na região de São José do Rio Preto, desviou-se seguindo o Tietê, ao sul, no saldo do Avanhandava e dali atingiu o salto de Itapura, na margem direita do Baixo Tietê.
A expedição, segundo o escritor Genésio Mendes de Seixas, em seu livro Memórias de Jales, de 2006, alcançou a foz do Rio Paraná e subiu por este até Tabuado. Pelo roteiro seguindo por Monlevade a distância seria de aproximadamente 230 quilômetros, quando o roteiro de Hummel beirava os 360 quilômetros.
O Movimento Constitucionalista de 1932 teve, na Estrada Boiadeira, uma grande aliada. Foi por ela que nossas forças marcharam e dominaram o Porto Tabuado. Em Tanabi foi sediada a Resistência – o MMDC – presidida pelo ilustre historiador de Tanabi senhor Sebastião Almeida Oliveira. Em trincheira próxima a atual Cosmorama morreu o soldado Amaro, de Tanabi.
A Estrada Boiadeira ou a Estrada do Tabuado foi o caminho ocupado pelos paulistas na defesa de nosso Estado e de nossas aspirações. Foi por ela que o progresso chegou e a ela devemos o presente que hoje desfrutamos.
Em 1942 o Governo elaborou plano rodoviário que envolveu grande percurso da Estrada Boiadeira até o Porto Getúlio Vargas – nova denominação do Porto do Tabuado. O projeto não logrou êxito, mas foi o nascedouro de novas estradas atingindo Pereira Barreto, Avanhandava e Ilha Solteira e, por conseguinte toda nossa região até Rubinéia, nas barrancas do rio Paraná.
Logo depois Feliciano Sales Cunha foi autorizado a implantar uma estrada que ligava Tanabi ao Porto do Tabuado e nossas jardineiras, por muitos anos, transportaram nossos habitantes para vários pontos do Estado de São Paulo e para cá trouxeram um sem número de novos moradores. A Estrada da Boiadeira ou Estrada do Tabuado foi a grande artéria de progresso para toda nossa região e foi por ela que o desenvolvimento atingiu estas bandas do Estado de São Paulo.
A Estrada Boiadeira tornada realidade fez nascer a Rodovia Euclides da Cunha, a SP-320 que é uma homenagem ao grande escritor brasileiro que, visionário, preconizava a necessidade da grande artéria – a Estrada do Tabuado – para a interligação dos importantes estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
Hoje, a ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná consolidou o sonho e a proposta de Hummel se tornou realidade plena apesar de trilhar por outros caminhos. Mais recentemente o Porto do Tabuado foi chamado de Porto Itamarati.
Portanto, a Estrada Boiadeira, deve ser preservada como um dos pontos mais importantes para o progresso de nossa região. É ela a razão do nascimento de muitas cidades que hoje orgulham nosso Estado e país.
Sabemos que, transpondo o rio Paraná, um significativo número de “mineiros”, na verdade imigrantes portugueses lá locados pelo serviço de imigração nacional, se aventuraram por nossa região no final do século XIX e início do Século XX. Desceram pelo caudaloso São José dos Dourados e muitas famílias se fixaram nas terras devolutas do Estado de São Paulo,
Há notícias de que foram vários os caminhos que serviram estes verdadeiros bandeirantes. Não deve ter sido apenas a Estrada do Tabuado a compor este mosaico de aventuras, mas há unanimidade dos estudiosos em afirmar que esta foi a maior artéria de deslocamento em nossa região e que por ela o progresso trilhou rápido.
A preservação das tradições é uma forma de se honrar o passado, valorizar os sonhos de nossos homens e mulheres de ontem e, por conseguinte, se poder desfrutar o presente e se ter certeza do futuro que, todos, numa só corrente, ajudamos a construir.
Fica aqui o registro de tão importante estrada para nossa história, em especial para a História de nossa região.
Prof. Dr. Antonio Caprio.
Tanabi
e-mail antonio.caprio2011@gmail.com