A Escola no Brasil: Um Sonho que se Desfaz ao Amanhecer

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Alberto Martins Cesário, professor e escritor - Foto: Reprodução

Alberto Martins Cesário, professor e escritor

Acordo cedo, como sempre. O sol ainda está tímido, começando a espreguiçar-se no horizonte, e eu me pergunto: quantos sonhos de crianças vão se desvanecer hoje nas salas de aula? Essa é uma pergunta que não sai da minha cabeça desde que decidi dedicar minha vida à educação. E, ao longo dos anos, percebi que a escola no Brasil é, de fato, como um sonho bonito que some ao amanhecer. Linda, cheia de possibilidades, mas tão efêmera!

Quando chego à escola, vejo aquelas carinhas sonolentas, os olhinhos ainda piscando, lutando contra a vontade de voltar a dormir. É uma batalha diária: o sonho da noite se choca com a realidade da manhã. Os alunos entram na sala com um misto de esperança e cansaço. Eles trazem consigo as histórias que viveram e os desafios que enfrentam, e eu, como professor, tenho a missão de transformar esse momento em aprendizado.

As primeiras atividades do dia são sempre as mais mágicas. É quando o brilho da curiosidade se acende. As crianças falam sobre o que sonharam, sobre as aventuras que viveram enquanto dormiam. Nesse momento, a escola é um espaço seguro, onde tudo parece possível. Mas, assim como um sonho, essa magia é passageira. Logo, a rotina se impõe, os conteúdos se acumulam, e a pressão externa começa a se sentir.

Nossos desafios do cotidiano são desgastantes, ainda mais quando se fala da realidade da educação no Brasil, é como se abríssemos um livro cheio de páginas desgastadas. A gente sabe que existem muitos desafios: falta de recursos, infraestrutura precária, salários que não refletem a importância do nosso trabalho, e isso, para nós, professores, é um peso constante. A cada dia, lutamos contra o cansaço e a desmotivação, mas, em meio a tudo isso, encontramos motivos para continuar.

O que muitas vezes nos faz seguir em frente é a paixão pela educação e o amor pelas crianças. Cada sorriso, cada conquista, por menor que seja, se torna um combustível poderoso. Lembro de uma aluna que, ao final do ano, conseguiu ler seu primeiro livro sozinha. O brilho nos olhos dela era tudo que eu precisava para me lembrar por que escolhi essa profissão.

Mas a realidade do ensino é totalmente diferente das expectativas. A educação no Brasil é uma dança entre sonhos e realidades. Muitas vezes, os planos de aula se esvaem, assim como os sonhos quando o sol nasce. O currículo é extenso e, muitas vezes, desconectado da realidade dos alunos. Quantas vezes nos encontramos em uma sala onde as crianças não conseguem ver a utilidade do que estamos ensinando? É um desafio diário tentar fazer com que elas compreendam que o que aprendem ali pode ser a chave para um futuro melhor.

E, assim como um sonho bonito, a esperança está sempre presente, mas também é frágil. É preciso trabalhar para alimentá-la, e isso envolve muito mais do que ensinar o conteúdo. Envolve acolhimento, empatia e, principalmente, conexão. É preciso mostrar para essas crianças que a escola é um espaço onde elas podem ser quem realmente são, onde podem sonhar e transformar esses sonhos em realidade.

Ainda assim, existem momentos que fazem tudo valer a pena. Um desenho feito com carinho, um projeto apresentado com entusiasmo, um debate que faz as crianças refletirem sobre o mundo ao seu redor. Esses momentos são como gotas de orvalho em uma manhã de primavera, raros e preciosos. São eles que nos lembram que, mesmo em meio às dificuldades, ainda existe beleza na educação.

Muitas vezes, nos professores organizamos projetos onde os alunos podem falar sobre seus sonhos. Nesses momentos cada um traz consigo a esperança de um futuro brilhante, onde aspirantes a astronautas, médicos, professores, artistas enche a sala de aula de sorrisos e risadas, e as paredes ganham cores e formas. Um sonho coletivo, e por alguns momentos, a realidade se escondeu atrás da magia das possibilidades.

O que prevalece sempre é a persistência do professor, os desafios são reais, mas a resiliência do professor é ainda mais forte. Cada um de nós carrega histórias e experiências que nos moldam.

A educação é, acima de tudo, um ato de coragem. É um convite para sonhar, mas também um chamado para enfrentar a realidade. E, mesmo quando a rotina parece esmagadora, sempre encontramos motivos para celebrar as pequenas vitórias. Cada sorriso, cada olhar curioso, cada mão levantada na sala são lembretes de que estamos fazendo a diferença.

O que me remete a falar sobre o futuro da educação. À medida que olho para o futuro da educação no Brasil, sinto uma mistura de esperança e apreensão. Sabemos que mudanças são necessárias. O sistema precisa ser repensado, os investimentos precisam ser ampliados e os professores devem ser valorizados. No entanto, enquanto aguardamos por essas transformações, o que podemos fazer? A resposta vou retirar de um filme que gostei muito, “Procurando Nemo” onde a Dori diz: “Quando a vida te desanima sabe o que precisa fazer?… Continue a nadar. Continue a nadar. Continue a nadar, nadar, nadar”.

Precisamos ser agentes de mudança dentro de nossas salas de aula. Isso significa adaptar o ensino, incorporar novas metodologias e, acima de tudo, ouvir nossos alunos. Eles são os protagonistas da história, e suas vozes precisam ser ouvidas. Cada criança tem um sonho, e é nosso papel ajudá-las a realizar esses sonhos.

Sabe, caros leitores, a escola é, sem dúvida, um espaço de sonhos, um lugar onde as crianças podem explorar suas paixões, fazer perguntas e, principalmente, encontrar seu lugar no mundo. Mas também é um espaço onde as realidades muitas vezes se sobrepõem aos sonhos. O desafio é encontrar um equilíbrio, um jeito de transformar a sala de aula em um ambiente onde os alunos se sintam seguros para sonhar, mesmo quando a realidade parece difícil.

Ao final de cada dia, quando a luz do sol se põe e a escola esvazia, é normal sentir um misto de cansaço e gratidão. Sim, a escola no Brasil é como um sonho que se desfaz ao amanhecer, mas isso não significa que devemos desistir. Cada dia é uma nova chance de sonhar, de inspirar e de transformar vidas.

Por isso, a todos os professores que, assim como eu, enfrentam os desafios diários da educação, deixo um lembrete: a magia da escola pode ser efêmera, mas o impacto que temos na vida de nossos alunos é eterno. Vamos continuar sonhando juntos e, quem sabe, transformar esses sonhos em realidade, um dia de cada vez.

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