Alberto Martins Cesário, professor e escritor
Eu comecei a carreira de professor, como muitos de nós, com a cabeça cheia de sonhos. Pensava que poderia mudar o mundo, ajudar a formar cidadãos críticos, cidadãos com uma capacidade de pensar e questionar, cidadãos que não aceitassem a primeira mentira que aparecesse pela frente. A educação, eu acreditava, era a chave para tudo. Ela era, e ainda é, o alicerce que sustenta a construção de um país melhor. Mas aqui estamos, não é mesmo? Em um país onde a educação, mais uma vez, é a primeira a ser esquecida.
A terra das promessas vazias está cheia de slogans, de discursos prontos e de vontades mal intencionadas. Temos governos que falam muito, mas fazem pouco. Políticos que vêm com a cara de “salvadores da pátria” e logo em seguida abandonam qualquer compromisso sério com o ensino público, como se a educação fosse algo secundário, uma espécie de luxo que podemos adiar. Eles não veem que, ao negligenciar a educação, estão condenando as gerações futuras a um ciclo de desigualdade que nunca se quebra. E nós, professores, somos os primeiros a sentir essa negligência.
É estranho pensar nisso enquanto estamos dentro da sala de aula. O lugar onde, teoricamente, tudo acontece. Aqui, onde todo dia tentamos superar as adversidades e ensinar mais do que o conteúdo, onde damos a mão a quem precisa de apoio e oferecemos um pedaço de esperança a quem já perdeu muito. Mas também é aqui, na sala de aula, que percebemos o abismo crescente entre o que deveria ser e o que é. O aluno, por exemplo, chega às 7h da manhã para estudar, mas a escola ainda não tem os recursos básicos, como material didático suficiente ou uma infraestrutura mínima para garantir o aprendizado de qualidade. E lá vamos nós, professores, fazer milagres com o que temos — ou com o que não temos.
E essa é a realidade: enquanto nos locais onde as promessas são feitas, as prioridades não incluem a educação, lá, em nossos cantos, a missão se torna cada vez mais difícil. A verdade é que a educação, em muitos momentos, no Brasil, não está nem entre as cinco prioridades da maioria dos governos. Essa realidade, muitas vezes, nos arrasta para uma sensação de frustração e impotência. Mas é justamente nesse ponto que a nossa profissão, em toda a sua essência, precisa ser ressignificada.
Quando digo que a educação é a primeira a ser esquecida, estou me referindo a algo mais profundo do que a falta de materiais. O que realmente está em jogo é o abandono do sentido real da educação. A formação de uma geração que não só saiba resolver equações ou entender o que é um texto dissertativo, mas uma geração capaz de agir, de reagir, de transformar a sua realidade. Em um país com tantas desigualdades, a educação é o caminho mais direto para a construção de uma sociedade mais justa. Mas, paradoxalmente, é nela que os maiores cortes orçamentários acontecem, é nela que a crise se faz mais visível.
E o que acontece com quem está na ponta, com os professores que tentam equilibrar os cacos de um sistema quebrado? A resposta é simples, e ao mesmo tempo muito complexa: a resistência. Nós, professores, não desistimos, porque sabemos que a nossa luta é pela vida, é pela dignidade humana. Como diria o educador Paulo Freire, “não há ensino sem aprendizagem, não há ensino sem amor, não há ensino sem compromisso com a transformação”.
E esse compromisso é o que nos move, mesmo diante de tantas dificuldades. O professor, que é um herói anônimo, muitas vezes tem que lidar com a falta de reconhecimento social, com salários que não refletem sua importância e com uma carga de trabalho que extrapola as horas do dia. Mesmo assim, não podemos nos esquecer de que nossa missão é maior do que isso. Nossa missão é preparar seres humanos para a vida. O nosso trabalho é incansável, mas essencial.
Porém, o que me preocupa, como educador, não é a falta de recursos, ou o salário baixo. O que realmente me angustia é a sensação de que, no cenário atual, a educação tem sido constantemente deixada para trás. E quando digo “deixada para trás”, não estou falando apenas da falta de verbas, mas da falta de um projeto de país que realmente entenda a educação como ferramenta de mudança. Estamos vivendo em uma nação onde as promessas de melhoria são feitas a cada eleição, mas nunca são cumpridas. Prometem um futuro melhor, mas negligenciam o presente.
É aí que a educação perde sua força transformadora. A promessa de um futuro melhor depende da formação sólida e contínua de nossas crianças e jovens. Se não fizermos isso agora, se não construirmos as bases de uma educação sólida e democrática, teremos mais uma geração de adultos desiludidos, sem esperança, que talvez não saibam mais como lutar por um Brasil melhor.
E onde é que entra o professor nisso tudo? O professor está no meio disso tudo, lutando contra a maré, tentando ser a voz da razão, o porto seguro, a mão amiga. Mas, sozinho, ele não pode nada. Ele depende de um sistema que o apoie, de uma estrutura que o ampare. O professor precisa de políticas públicas que respeitem seu trabalho, de uma valorização genuína da sua profissão e de um sistema educacional que, de fato, olhe para as necessidades de cada aluno, de cada comunidade.
Infelizmente, não podemos esperar que as soluções venham de fora. Sabemos que o cenário está longe de ser ideal, mas é preciso acreditar que o trabalho em sala de aula é uma força poderosa de transformação. Nós, professores, somos os semeadores de um futuro que pode, sim, ser diferente. Não podemos esperar que as mudanças aconteçam por si mesmas, mas podemos ser a mudança dentro das nossas salas de aula. Cada gesto, cada palavra, cada decisão que tomamos ali dentro pode ser uma semente plantada. E, com o tempo, essas sementes podem crescer e frutificar, não no amanhã, mas agora.
Eu sei que, para muitos de nós, o desânimo é uma sombra constante. Parece que, a cada novo governo, a cada nova reforma educacional, a cada nova proposta de “revolução educacional”, a esperança se esvai um pouco mais. Mas eu também sei que a educação nunca foi, e nunca será, um processo fácil. Quando fizemos a escolha para essa profissão, escolhemos a luta, escolhemos o desafio, escolhemos ser aqueles que, muitas vezes, estão à frente de um campo de batalha sem as armas necessárias. E o que nos mantém de pé, o que nos faz continuar, é a certeza de que estamos fazendo a coisa certa.
Eu não posso mudar o Brasil com um único texto. Eu não posso mudar o país com uma única aula. Mas eu tenho a esperança de que, através do meu trabalho e do trabalho de todos os outros professores que também acreditam na transformação, podemos juntos construir um país melhor. Pode ser um trabalho árduo e solitário, mas é também um trabalho coletivo. Nós não estamos sozinhos. Não se esqueçam disso.
O país não vai mudar de uma vez, mas a cada aluno que conseguimos fazer pensar por si mesmo, a cada jovem que despertamos a autonomia, estamos plantando as sementes do futuro. E é isso que nos faz seguir. Não é o governo, não são as promessas vazias, mas a certeza de que estamos no caminho certo. E a educação, com todas as suas dificuldades e desafios, é sempre a resposta. Nunca se esqueçam disso.
A educação não é só uma necessidade, é um direito. E nós, professores, temos o dever de lutar todos os dias para garantir que esse direito seja garantido a todos. Nosso trabalho, nosso compromisso, nossa paixão não podem ser apagados pelas promessas vazias que vemos por aí. A luta pela educação é eterna, mas é também, paradoxalmente, a nossa maior fonte de esperança.
É isso que me faz continuar. O que me faz acreditar. Porque, ao final do dia, a sala de aula é o nosso campo de batalha, e é nela que, passo a passo, vamos construindo um país melhor. Não por causa de políticas públicas que falham, mas por causa do compromisso, da resiliência e da força de cada professor que, com dedicação, enfrenta as adversidades e segue acreditando que, sim, é possível mudar o Brasil através da educação.
E, para aqueles que estão pensando em desistir: eu entendo a frustração, eu entendo o cansaço. Mas, lembre-se de uma coisa: ninguém pode apagar a sua importância. Você é a luz que muitos alunos precisam. E essa luz, mesmo em tempos de escuridão, nunca se apaga. Ela apenas brilha mais forte.
Siga firme. Nossa missão é grandiosa demais para ser deixada de lado.
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