A educação não é luxo 

530
Alberto Martins Cesário, professor e escritor - Foto: Reprodução

Alberto Martins Cesário, professor e escritor 

Hoje, como sempre, me encontro aqui, diante da tela, pensando nas palavras que vou escrever. E, em algum lugar lá no fundo do meu peito, uma sensação de responsabilidade me aperta. É como se eu soubesse que estas palavras podem não apenas chegar aos ouvidos de quem as lê, mas também tocar o coração de alguém que, como eu, se dedica todos os dias a esse trabalho silencioso, mas de proporções imensas: o trabalho de educar. 

Ser professor é como ser um jardineiro. Plantamos sementes. Sementes de conhecimento, de humanidade, de futuro. E, no meio de tantas dificuldades, a sensação de que estamos fazendo o melhor possível para que essas sementes se tornem algo grandioso é o que nos mantém firmes. Mas é claro, esse trabalho tem seus desafios. 

Fico imaginando se, lá fora, as pessoas têm realmente noção do que é ser professor. Não falo das palavras bonitas que ouvimos nas comemorações do dia do professor, ou das mensagens de apoio em redes sociais. Falo da realidade, do dia a dia, da batalha silenciosa que travamos dentro de cada sala de aula, com aqueles que nos olham com a curiosidade de quem quer aprender, mas, ao mesmo tempo, com as dificuldades de quem ainda não sabe o caminho. O que as pessoas não veem é o peso que carregamos, a luta constante para inspirar, para fazer com que cada aluno perceba que o estudo não é um luxo, mas uma ferramenta fundamental para mudar suas vidas. 

E por que digo isso? Porque cada criança que entra em nossa sala carrega em si uma história única, um conjunto de desafios que nós, como professores, precisamos compreender e respeitar. Elas não são apenas números em uma lista, não são apenas rostos que vemos todos os dias. Elas são o reflexo de um país que ainda luta para oferecer igualdade a todos. E nós, como educadores, temos a missão de transformar essas desigualdades em oportunidades. A responsabilidade é imensa. 

A educação no Brasil, infelizmente, ainda sofre com muitos obstáculos. Nós, professores, sabemos disso. Estamos na linha de frente. Lemos os jornais, vemos as notícias, mas também vivemos na pele o que essas dificuldades significam. Como é difícil trabalhar em um sistema educacional que, muitas vezes, não oferece o suporte necessário. Como é difícil lidar com a falta de recursos, com salas muitas vezes superlotadas, com defasagem de conteúdo. Às vezes, a sensação é de que estamos lutando contra um gigante, mas, mesmo assim, seguimos em frente, porque acreditamos no poder da educação. 

Há dias em que me pergunto, sinceramente, por que continuei a escolher essa profissão. Porque, sim, há dias difíceis. Dias em que parece que nossos esforços não são suficientes. Dias em que as críticas parecem maiores do que os aplausos. Mas, na balança, sempre pesa mais o sentimento de gratidão quando um aluno olha para nós e diz: “Eu entendi, professor!”. Esse momento, por mais simples que seja, nos faz esquecer as dificuldades, as barreiras. Nos faz lembrar por que escolhemos ser professores. 

Quem não está nesse campo de batalha pode achar que o trabalho do professor é simples. Muitos acreditam que tudo se resume a ensinar conteúdo, fazer provas e corrigir cadernos. Mas a realidade é muito mais complexa. Cada dia na sala de aula é uma luta. Luta para manter a atenção dos alunos, para respeitar a diversidade de ritmos de aprendizagem, para ajudar cada um a superar suas limitações. E, no meio disso tudo, ainda precisamos lidar com as questões emocionais que surgem: a criança que vem de um lar difícil, o aluno que precisa de uma palavra de incentivo, o que passa por problemas familiares. Temos que ser, muitas vezes, psicólogos, orientadores e amigos, além de educadores. 

E é nesse contexto, nesse cenário onde as dificuldades são muitas, que nos tornamos guerreiros silenciosos. Guerreiros que enfrentam um inimigo invisível, mas que é real: a falta de valorização da profissão. Guerreiros que, apesar de tudo, não desistem, porque sabem que o futuro está nas mãos dessas crianças, que um dia serão os adultos responsáveis por conduzir o país. 

Ser professor é ser mais do que um transmissor de conteúdo. É ser alguém que, com suas palavras e atitudes, molda o futuro. É ser aquele que acredita no potencial de cada aluno, mesmo quando eles não acreditam em si mesmos. Ser professor é ser um arquiteto do futuro, alguém que sabe que a educação não é luxo, mas a base fundamental sobre a qual se constrói uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais próspera. 

Quando vejo o Brasil com tantos problemas, não posso deixar de me lembrar de que a solução está ali, em cada sala de aula, onde a transformação pode começar. O professor é a chave. Mas, para que possamos ser verdadeiramente essa chave que abre as portas do futuro, precisamos ser valorizados. E não apenas em palavras. A valorização do professor precisa ser concreta, precisa se traduzir em melhores condições de trabalho, em respeito à profissão, em mais recursos para a educação. Precisamos de uma educação que não seja vista como um luxo, mas como uma prioridade. 

Para aqueles que estão na luta todos os dias, enfrentando desafios muitas vezes invisíveis, minha mensagem é simples: não desistam. A cada aluno que conseguimos ajudar a dar um passo a mais, estamos construindo um futuro melhor. A cada momento em que, apesar das dificuldades, conseguimos fazer com que nossos alunos se sintam valorizados e capazes, estamos mudando o mundo, um aluno de cada vez. 

Eu sei, como todos os professores sabem, que a recompensa não está sempre visível. Não recebemos uma medalha por cada esforço, nem sempre o aplauso vem na hora certa. Mas a verdadeira recompensa está em ver nossos alunos saindo da escola com os olhos brilhando, prontos para enfrentar o mundo, prontos para transformar suas realidades. A verdadeira recompensa está em saber que, por mais difícil que tenha sido o caminho, fizemos a diferença. 

Portanto, a todos os meus colegas de profissão, quero deixar um recado: não se deixem abater. A educação é a base onde se constrói o que somos e o que seremos. E nós, professores, somos os responsáveis por essa construção. Somos os alicerces de uma sociedade mais justa, mais humana, mais capaz de se transformar. E, apesar de todas as dificuldades, não há maior privilégio do que ter a chance de ser o responsável por isso. Ser professor é uma missão que exige coragem, persistência e amor. É um trabalho árduo, é verdade. Mas, no fim das contas, é o trabalho mais gratificante que existe. E, no meu coração, sei que todos nós, educadores, estamos construindo algo grandioso todos os dias. 

Por isso, sigamos em frente, com a certeza de que, ao ensinar, estamos não apenas preparando os nossos alunos para o futuro, mas, de certa forma, preparando a sociedade para o amanhã. Afinal, a educação não é luxo. Ela é, sim, a base sobre a qual se constrói o que somos e o que seremos. E nós, professores, somos os grandes responsáveis por isso. 

Vamos juntos, porque o futuro está em nossas mãos.