100 anos de “Ora Et Labora”

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Antoninho Rapassi –

Viver integralmente um centenário é forjar uma lenda!

Nunca o orgulho familiar foi igual ou maior do que este acontecimento inédito. E ninguém excedeu em sentimentos de afeto e dedicação, aquela que foi escolhida por Deus para desempenhar esta notável missão: Maria Rapassi de Oliveira.

Por ter vivido bem próximo a ela e, sobretudo por sentir-me encantado pela santidade que dela emanava, fui gravando ao longo da vida as minúcias que me chamavam a atenção.

A famosa Regra de São Bento: “Ora et Labora”, estava entranhada perfeitamente em seu espírito de amor e bondade, mesmo sem ela ter frequentado escolas onde os estudos de Humanidades ensinariam o segredo da vida, esbanjando a gostosura da felicidade em seu sentido mais amplo. Estar perto da Tia Maria era para mim como estar imunizado contra a tristeza ou contra a qualquer tipo de aborrecimento. Sabem por quê?  Porque ela sempre trabalhou incansavelmente nas mais diferentes lidas da vida campestre: amanhecia antes da vermelhidão do arrebol, acendia o fogo alimentado com lenha que só ia arrefecer após doze horas de labaredas que executavam a cocção das mais variadas e apetitosas receitas que satisfaziam o corpo e encantavam o paladar. O café que ela ajudava a colher, secar, torrar e moer, finalmente nas alvoradas das manhãs era a bebida quente, forte e gostosa que ela fazia para saudar os dias e predispô-la a bem vivê-los, junto com os pães cilindrados e assados em forno de barro, devidamente amanteigados para acariciar o céu da boca, como mandava antiga receita mantovana trazida de lá por sua mãe.

A prática involuntária e inconsciente do “Ora et Labora” fazia da sua casa um oásis, um paraíso do bem estar para onde convergiam os parentes, amigos e tanta gente que buscava a doçura da amizade. Brigas, impensável, só arrufos de amor. Assim é que foram criados os seus três filhos com a parceria solidária do marido, um capitão do mato afável, alegre e pândego, capaz de encontrar a jocosidade até nos duros desafios da agricultura e da pecuária que ele comandava com êxitos.

O elixir da longa vida, pois, pode assim ser resumido:

A Tia Maria viveu uma longa vida, toda ela amparada pela energia dos pensamentos positivos de uma religião toda sua, onde o amor aos próximos fossem pessoas, aves ou animais, indistintamente, eram temas das suas preocupações franciscanas, no templo em que ela frequentava: a sua própria casa. Para isto, orava.

E para dar o seu quinhão adjutório em reconhecimento às dádivas divinas, lavorava. E foi desta maneira que testemunhei o advento nesta data notável, de uma lenda imorredoura. Eis o mérito desta figura aureolada:

Maria Rapassi de Oliveira!

12 de Janeiro de 2020