Você pode estar jogando sua segurança no lixo — Literalmente 

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Christiano Guimarães - Consultor em Segurança da Informação - Foto: Reprodução

Sabe aquele boleto antigo que venceu? Aquela receita médica que já nem precisa mais? O extrato do banco, a etiqueta da entrega do seu último pedido online, o papelzinho do laboratório com o resultado do exame?

Pois é… Muita gente ainda joga tudo isso direto no lixo, sem pensar duas vezes.

Parece exagero se preocupar com isso? Pode até parecer — mas é justamente nesses pequenos detalhes do dia a dia que seus dados pessoais começam a vazar. E depois, ninguém entende como o nome foi parar numa lista de cobrança indevida ou por que alguém tentou abrir uma conta no seu CPF.

Isso não é neura. É prevenção.

Seus dados são como peças de um quebra-cabeça. Um nome aqui, um CPF ali, um endereço acolá… e pronto: alguém mal-intencionado já pode montar um perfil completo sobre você. Com isso, dá pra aplicar golpes, falsificar documentos, acessar contas e muito mais.

E não é exagero, não. Já houve casos em que golpistas:

  • Usaram dados de exames descartados para clonar convênios médicos; 
  • Juntaram faturas jogadas fora para simular dívidas falsas e pressionar pagamentos; 
  • Pegaram documentos no lixo de empresas e venderam em pacotes de dados na internet;
  • Usaram etiquetas de entrega para acessar cadastros e simular novos pedidos em nome da vítima.

Tudo isso começa com um descuido. Às vezes, com um simples papel que a gente nem deu importância.

“Mas que papel vale a pena guardar ou proteger?”

Vamos direto ao ponto: todo documento que tiver seu nome completo + qualquer outro dado pessoal (como CPF, telefone, endereço, e-mail, RG, cartão do SUS, nome da mãe, etc.) já merece atenção.

Inclui aí:

  • Faturas de água, luz, telefone, cartão; 
  • Etiquetas de compras online; 
  • Laudos e resultados de exames; 
  • Papéis de matrícula escolar; 
  • Cartas de bancos e planos de saúde; 
  • Orçamentos de oficinas ou consultórios. 

Até um recadinho de laboratório com seu nome e data de exame pode ser o começo de uma dor de cabeça lá na frente. 

“Mas jogar no lixo é crime?” 

Descartar papel com seus dados em lixo comum não é crime — mas é um baita risco. E se a empresa for a responsável por esse descarte (uma escola, clínica, laboratório, farmácia…), aí sim a conversa muda: a LGPD exige que os dados sejam protegidos do início ao fim, inclusive no descarte. 

Por isso, se você trabalha em algum lugar que lida com informações de terceiros, fica o recado: descarte consciente é obrigação legal, não escolha. 

Como se proteger sem virar paranoico? 

A ideia aqui não é te transformar num agente secreto da informação. É só te mostrar que pequenas atitudes no dia a dia podem fazer uma diferença enorme. 

Aqui vão algumas dicas simples (e muito eficazes): 

  1. Rasgue tudo que tiver dado pessoal antes de jogar fora

Se possível, pique o papel em mais de um lugar, ou use uma fragmentadora. Pode parecer chato no começo, mas vira hábito rapidinho. 

  1. Não descarte tudo junto

Misture pedaços em sacos diferentes, ou jogue em dias diferentes. É como esconder as peças do quebra-cabeça. 

  1. Evite deixar papéis com dados jogados pela casa

Mesa da cozinha, balcão da sala, carro… Já viu como esses papéis “passeiam”? Guarde o que for importante e destrua o que for desnecessário. 

  1. Papéis médicos merecem atenção redobrada

Mesmo se o exame “não deu nada”, ele tem seus dados de saúde — que são considerados sensíveis pela LGPD. Ou seja, merecem ainda mais cuidado. 

  1. Empresas, prestadores de serviço e profissionais liberais: isso vale pra vocês também

Se você atende pessoas, coleta dados ou arquiva documentos, precisa ter um processo seguro de descarte. Nada de acumular papelada e depois jogar tudo no lixo preto da rua.

Pra fechar… 

A gente fala tanto de proteção de dados digitais — mas às vezes, o maior furo acontece no balde de lixo do escritório ou na lixeira da área de serviço. 

Não é sobre viver com medo. É sobre entender que segurança da informação começa em atitudes simples. No mundo de hoje, cuidar dos nossos dados é tão básico quanto trancar a porta de casa antes de dormir. 

Então, da próxima vez que pegar aquele papel com seu nome e CPF… pensa duas vezes antes de jogar fora.

*Christiano GuimarãesConsultor em Segurança da Informação e autor do livro ‘Como Adequar Minha Empresa à Lei Geral de Proteção de Dados – Um Guia Prático’