Sabe aquele boleto antigo que venceu? Aquela receita médica que já nem precisa mais? O extrato do banco, a etiqueta da entrega do seu último pedido online, o papelzinho do laboratório com o resultado do exame?
Pois é… Muita gente ainda joga tudo isso direto no lixo, sem pensar duas vezes.
Parece exagero se preocupar com isso? Pode até parecer — mas é justamente nesses pequenos detalhes do dia a dia que seus dados pessoais começam a vazar. E depois, ninguém entende como o nome foi parar numa lista de cobrança indevida ou por que alguém tentou abrir uma conta no seu CPF.
Isso não é neura. É prevenção.
Seus dados são como peças de um quebra-cabeça. Um nome aqui, um CPF ali, um endereço acolá… e pronto: alguém mal-intencionado já pode montar um perfil completo sobre você. Com isso, dá pra aplicar golpes, falsificar documentos, acessar contas e muito mais.
E não é exagero, não. Já houve casos em que golpistas:
- Usaram dados de exames descartados para clonar convênios médicos;
- Juntaram faturas jogadas fora para simular dívidas falsas e pressionar pagamentos;
- Pegaram documentos no lixo de empresas e venderam em pacotes de dados na internet;
- Usaram etiquetas de entrega para acessar cadastros e simular novos pedidos em nome da vítima.
Tudo isso começa com um descuido. Às vezes, com um simples papel que a gente nem deu importância.
“Mas que papel vale a pena guardar ou proteger?”
Vamos direto ao ponto: todo documento que tiver seu nome completo + qualquer outro dado pessoal (como CPF, telefone, endereço, e-mail, RG, cartão do SUS, nome da mãe, etc.) já merece atenção.
Inclui aí:
- Faturas de água, luz, telefone, cartão;
- Etiquetas de compras online;
- Laudos e resultados de exames;
- Papéis de matrícula escolar;
- Cartas de bancos e planos de saúde;
- Orçamentos de oficinas ou consultórios.
Até um recadinho de laboratório com seu nome e data de exame pode ser o começo de uma dor de cabeça lá na frente.
“Mas jogar no lixo é crime?”
Descartar papel com seus dados em lixo comum não é crime — mas é um baita risco. E se a empresa for a responsável por esse descarte (uma escola, clínica, laboratório, farmácia…), aí sim a conversa muda: a LGPD exige que os dados sejam protegidos do início ao fim, inclusive no descarte.
Por isso, se você trabalha em algum lugar que lida com informações de terceiros, fica o recado: descarte consciente é obrigação legal, não escolha.
Como se proteger sem virar paranoico?
A ideia aqui não é te transformar num agente secreto da informação. É só te mostrar que pequenas atitudes no dia a dia podem fazer uma diferença enorme.
Aqui vão algumas dicas simples (e muito eficazes):
- Rasgue tudo que tiver dado pessoal antes de jogar fora
Se possível, pique o papel em mais de um lugar, ou use uma fragmentadora. Pode parecer chato no começo, mas vira hábito rapidinho.
- Não descarte tudo junto
Misture pedaços em sacos diferentes, ou jogue em dias diferentes. É como esconder as peças do quebra-cabeça.
- Evite deixar papéis com dados jogados pela casa
Mesa da cozinha, balcão da sala, carro… Já viu como esses papéis “passeiam”? Guarde o que for importante e destrua o que for desnecessário.
- Papéis médicos merecem atenção redobrada
Mesmo se o exame “não deu nada”, ele tem seus dados de saúde — que são considerados sensíveis pela LGPD. Ou seja, merecem ainda mais cuidado.
- Empresas, prestadores de serviço e profissionais liberais: isso vale pra vocês também
Se você atende pessoas, coleta dados ou arquiva documentos, precisa ter um processo seguro de descarte. Nada de acumular papelada e depois jogar tudo no lixo preto da rua.
Pra fechar…
A gente fala tanto de proteção de dados digitais — mas às vezes, o maior furo acontece no balde de lixo do escritório ou na lixeira da área de serviço.
Não é sobre viver com medo. É sobre entender que segurança da informação começa em atitudes simples. No mundo de hoje, cuidar dos nossos dados é tão básico quanto trancar a porta de casa antes de dormir.
Então, da próxima vez que pegar aquele papel com seu nome e CPF… pensa duas vezes antes de jogar fora.
*Christiano Guimarães – Consultor em Segurança da Informação e autor do livro ‘Como Adequar Minha Empresa à Lei Geral de Proteção de Dados – Um Guia Prático’