Um lápis em meio ao caos digital

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Alberto Martins Cesário, professor e escritor - Foto: Reprodução

Alberto Martins Cesário, professor e escritor

Nos meus longos anos de sala de aula, já vi muita coisa. De crianças que mal conseguiam segurar um lápis a jovens que dominam a tecnologia de maneira surpreendente. No entanto, hoje, como professor do ensino fundamental, enfrento um desafio que me faz refletir sobre a nossa missão: como ensinar em um mundo onde as redes sociais roubam a atenção dos nossos alunos e a falta de interesse parece ser a norma?

Vamos imaginar o professor como um lápis. O lápis é uma ferramenta simples, mas poderosa. Com ele, podemos criar, desenhar, escrever e dar vida a ideias. Da mesma forma, nós, professores, temos a responsabilidade de moldar o futuro dos nossos alunos, guiando-os através da curiosidade e do conhecimento. Mas, assim como um lápis pode ser esquecido ou até mesmo quebrado, nosso papel na educação tem enfrentado desafios que podem nos desviar do caminho.

A distração digital é um dos grandes problemas da atualidade, vivemos em uma era onde a informação está a um toque de distância e com um simples deslizar de dedos, nossos alunos se encontram em mundos virtuais, onde a realidade é moldada por likes e seguidores. As redes sociais se tornaram um dos maiores adversários da educação. O tempo que poderia ser dedicado ao aprendizado é frequentemente drenado em uma avalanche de vídeos curtos, memes e interações instantâneas.

Esse cenário não é apenas desanimador, para esse professor, é um verdadeiro teste de resistência. É desafiador chamar a atenção de uma sala cheia de jovens que, ao invés de se concentrarem no que está sendo ensinado, estão mais interessados em compartilhar o que viram no TikTok ou em comentar sobre o último vídeo viral. A luta é real, e o nosso lápis, muitas vezes, parece estar sem ponta.

Além da distração, enfrentamos um problema ainda mais profundo. Observo nas crianças de hoje uma grande falta de interesse genuíno em aprender. É como se, ao longo dos anos, um véu tivesse se instalado sobre a curiosidade natural das crianças. O que antes era um brilho nos olhos diante de novas descobertas, agora se transforma em indiferença. Muitos alunos parecem desmotivados, como se o aprendizado fosse uma obrigação enfadonha, e não uma aventura.

E aqui entra a nossa luta como educadores. Precisamos não apenas ensinar conteúdos, mas reacender a chama da curiosidade. Precisamos encontrar maneiras de fazer com que nossos alunos vejam o valor da aprendizagem. Isso exige criatividade, inovação e, muitas vezes, uma boa dose de paciência.

E como fazer para seguir superando os desafios? Acredito que assim como um lápis que pode ser apontado novamente, nós também podemos nos reinventar. Precisamos adaptar nossas estratégias de ensino para capturar a atenção dos nossos alunos. Isso pode significar integrar tecnologias que eles já usam em suas rotinas, como aplicativos educacionais, ou utilizar métodos de ensino mais interativos que façam com que a sala de aula se torne um lugar dinâmico e envolvente.

Além disso, é essencial criar um ambiente que valorize a participação ativa. Isso pode ser feito através de discussões em grupo, projetos colaborativos ou até mesmo jogos educativos. Ao fazer isso, transformamos o aprendizado em algo que faz parte da vida deles, e não apenas mais uma tarefa a ser cumprida.

Embora os desafios sejam grandes, não podemos perder a esperança. Assim como um lápis, que, mesmo se quebrado, pode ser consertado ou substituído, nós também temos a capacidade de nos adaptar e continuar a fazer a diferença na vida dos nossos alunos. Cada pequeno passo em direção ao engajamento e à curiosidade é uma vitória.

Quando vejo um aluno que, após um esforço conjunto, começa a fazer perguntas e a se interessar pelo conteúdo, sinto que estamos no caminho certo. Isso me lembra que, mesmo em tempos difíceis, o papel do professor continua sendo fundamental. Nós somos os guias que ajudam a iluminar o caminho do conhecimento, e cada pequena conquista merece ser celebrada.

Precisamos então, em meio a essa luta diária, refletir sobre a importância de nossa profissão. Somos mais do que simples transmissores de conhecimento, nós arquitetamos o futuro. E, assim como um lápis pode criar obras-primas, nós, como educadores, temos a capacidade de moldar vidas e formar cidadãos conscientes.

Vamos continuar a lutar. Vamos nos reerguer sempre que formos derrubados, sempre prontos para afiar nosso lápis e traçar novas linhas em nossas histórias. Que possamos encontrar alegria na nossa jornada e nunca esquecer que, mesmo nas maiores dificuldades, a esperança e o amor pela educação sempre prevalecerão.

Sigamos juntos nessa missão, porque, no final das contas, somos todos parte de um grande desenho que estamos criando juntos. E, como todo bom lápis, mesmo se errarmos uma linha, sempre teremos a chance de corrigir e fazer ainda melhor na próxima vez.

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