Já falei algumas vezes o quanto as pessoas confundem, como sendo a mesma coisa: a inteligência e a sabedoria.
Lógico que as duas virtudes são importantíssimas, mas penso que existem muitas pessoas extremamente inteligentes, e que não são sábias.
Uma definição que gosto muito sofre inteligência, inclusive é uma definição da psicologia, é que o inteligente é o capaz de criar condições adaptativas, ou seja desfaz com mais facilidade os nós que a vida apresenta, usando inteligência da criatividade.
A inteligência gera conhecimentos, e conhecimentos muitas vezes se adquire com erros, pois é errando que se apende, quem já não ouviu um ditado bastante conhecido, uma pessoa inteligente aprende com seus próprios erros, mas o bom senso completa esse ditado, dizendo assim:
“O inteligente aprende com seus próprios erros, agora o sábio é aquele que consegue aprender com os erros dos outros.”
Perfeito isso né? Afinal de contas ninguém de nós precisou colocar a mão no fogo pra saber que fogo queima, nossa sabedoria instintiva nos faz lembrar que alguém já se queimou antes, logo não colocamos em risco nossa mão no fogo. Sabedoria é exatamente isso.
Mas o que faço com o conhecimento gerado pela minha inteligência? O que escolhemos, mostra se estamos fazendo com nosso conhecimento escolhas sabias. Ou seja, de que adianta saber que o fogo queima se continuo colocando a mão no fogo.
Só mais um exemplo: O conhecimento das leis em si, não garante sabedoria que transforme alguém com atitudes prudentes, moderadas úteis, honestas.
Uma vez ouvi que, o conhecimento pode lhe fazer ganhar na vida, a sabedoria te faz construir uma vida. O conjunto de conhecimento constrói ciência por exemplo, já a sabedoria vai além, constrói caráter, personalidade, constrói vida em sua plenitude.
Se pudéssemos dar “personalidade” aos conhecimentos, diria que tende a ser orgulhoso, até por saber que sabe muito, já a sabedoria tende a ser humilde porque imagina que poderia saber mais.
Conhecimento por mais que a gente adquira, sempre vai ser uma gota, comparado com o oceano do desconhecido.
Um outro conceito que acaba sendo quase um senso comum, e que a grande maioria das pessoas considera um atributo do conhecimento e da inteligência, é que ambos obrigatoriamente levariam a outro atributo: a bondade.
Isso é um fato curioso: Desde quando as pessoas se tornaram boas simplesmente por serem inteligentes, ou por terem conhecimentos? Mas há muitos, que não conseguem dissociar as duas coisas.
Consideremos o seguinte exemplo: uma pessoa que tenha grande capacidade de planejamento, visão comercial, tino de liderança, percepção estratégica, raciocínio rápido e pensamento preciso, pode ser considerada inteligente? Sim, óbvio né?
Acontece que tal descrição pode se enquadrar perfeitamente a um empresário de sucesso, ou a um traficante de drogas. Sendo os dois inteligentes, seriam todos necessariamente homens bons?
De jeito nenhum, inteligência e conhecimento podem ser usados para coisas boas e coisas ruins.
Aliás a história esta cheia de exemplos de falta de sabedoria recheada de excesso de conhecimentos e inteligência, guerras declaradas por líderes extremamente cultos. Mas penso que declarar guerra já seja em si, em qualquer circunstância uma tolice.
E é exatamente isso que vem acontecendo: A ciência ganha conhecimento numa velocidade muito maior do que as pessoas ganham sabedoria.
Sabedoria é a capacidade de se manter a serenidade diante do inesperado.
Veja isso: Dois discípulos procuraram o mestre para saber a diferença entre inteligência e sabedoria. O mestre disse-lhes: “amanhã bem cedo, coloquem dentro de seus sapatos 20 grãos de feijão, 10 em cada pé, subam, em seguida o monte que se encontra junto a esta aldeia, até o ponto mais elevado, com os grãos dentro dos sapatos”.
No dia seguinte, os jovens discípulos começaram a subir o monte. Lá pela metade do caminho, um deles estava com seus pés doloridos e reclamava muito. Já o outro subia naturalmente a montanha. Quando chegaram ao topo, um estava com o semblante marcado pela dor, já o outro sorridente.
Então, o que estava com os pés dolorido, perguntou pro colega: “Como você conseguiu andar todo esse trecho sem reclamar de dor, enquanto para mim desde os primeiros passos foi uma verdadeira tortura?”
O companheiro respondeu: “Caro colega, ontem à noite cozinhei os meus 20 grãos de feijão”. Sabedoria é isso, criar condições adaptativas, usar o conhecimento para o bem coletivo, para a fraternidade que gere vida.
Então vai lá: mantenha a serenidade diante do inesperado, tenha cuidado com a ideia de que o conjunto de conhecimentos te faz infalível. Estratégias 100% seguras também não existem. Que o caminho seguro também pode oferecer perigo. Que a certeza absoluta não te garante nada. Somente expectativa positiva nos negócios não pagam conta.
Não esqueça que o inesperado sempre te ronda, e naquele momento que você se considera extremamente seguro, te pega.
A sabedoria, é o reflexo da vivência pela experimentação, quer observando, quer utilizando dos conhecimentos antes adquiridos. Para ser sábio você precisa viver, experimentar, ousar, ponderar, amar, respeitar, ver e ouvir o outro e a própria vida.
Portanto não confunda mais conhecimento e inteligência com sabedoria, de repente até hoje você tenha somente buscado conhecimento e inteligência, busque ser sábio, e ser sábio é a decisão em buscar a sabedoria.
Então fica a dica:” Sabedoria é saber exatamente a hora de cozinhar seus feijões.”
Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”
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