
Filme que retrata a juventude do vocalista da Legião Urbana chega à plataforma de streaming mais de uma década após o lançamento nos cinemas.
@caroline_leidiane
O cinema brasileiro tem revisitado a história de artistas que marcaram época com a ajuda das plataformas de streaming. Nos últimos anos, biografias como Cazuza – O Tempo Não Para, Elis e Tim Maia voltaram a circular entre o grande público por meio dos catálogos digitais.
Agora é a vez de Somos Tão Jovens, filme que conta a juventude de Renato Russo, entrar para o catálogo da Netflix. A produção, lançada originalmente em 2013, ganha uma segunda vida e reacende o interesse por uma das figuras mais emblemáticas do rock nacional.
Produzido por Canto Claro Produções Artísticas, dirigido por Antonio Carlos da Fontoura e protagonizado por Thiago Mendonça, Somos Tão Jovens traça o percurso de Renato Manfredini Júnior, de adolescente tímido e solitário em Brasília a líder da Legião Urbana, banda que viria a se tornar uma das maiores referências da música brasileira nos anos 1980 e 1990.
Escrito por Marcos Bernstein, o filme começa na virada dos anos 1970, quando Renato é diagnosticado com epifisiólise, uma doença óssea que o afasta da escola e obriga a passar meses imobilizado. É durante esse período de isolamento que ele mergulha nos livros, aprende inglês sozinho e se aprofunda na música. O episódio, embora doloroso, marca o início da transformação do garoto comum em um artista inquieto, observador e profundamente sensível.
A narrativa avança acompanhando seus primeiros experimentos musicais, a fundação da banda Aborto Elétrico (ao lado de Fê e Flávio Lemos, que depois integrariam o Capital Inicial), e o nascimento da persona Renato Russo.
As tensões da ditadura militar, o tédio da juventude brasiliense e a sede de expressão são retratadas com sensibilidade. O longa mostra ainda o papel central que a arte teve como forma de resistência para toda uma geração.
Diferentemente de outras biografias que tentam cobrir toda a trajetória de seus personagens, Somos Tão Jovens se concentra nos anos de formação de Renato. O recorte temporal, que vai até pouco antes da constituição definitiva da Legião Urbana, permite ao diretor explorar com mais profundidade as motivações e conflitos internos do artista, sem pressa e sem idealizações excessivas.

A trilha sonora é outro destaque da produção. Apesar de não utilizar as músicas da Legião Urbana, o filme traz composições da fase inicial do cantor e canções de bandas que o influenciaram, como The Smiths, Sex Pistols e Joy Division. O resultado é uma atmosfera sonora coerente com o espírito da época e com o perfil introspectivo e rebelde do protagonista.
Com a estreia na Netflix, o longa se torna acessível a uma nova geração, que talvez conheça Renato apenas como nome em camiseta ou frase compartilhada em rede social. A reexibição permite um reencontro mais profundo com a figura complexa do artista, marcada por dúvidas, contradições e genialidade.
Para além de uma simples biografia, Somos Tão Jovens é um retrato de juventude e efervescência. Fala da urgência de se expressar e a necessidade de encontrar um lugar no mundo, utilizando a arte como fonte diante da opressão. É também uma homenagem à Brasília dos anos 1980, berço de algumas das maiores bandas do país.
Para os fãs da Legião Urbana, o filme é uma chance de revisitar as origens de um ídolo. Para os espectadores mais jovens, é um convite ao mergulho na história recente do Brasil, com suas cicatrizes e canções eternas.
Ficha Técnica
- Duração: 1h44min
- Gênero: Biopic, Drama
- Direção: Antonio Carlos da Fontoura
- Roteiro: Marcos Bernstein
- Elenco: Thiago Mendonça, Laila Zaid, Bruno Torres