Sobriedade Já: Teu sim, pode ter sido um descuido do teu não…

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Parece que desde do nosso nascimento somos convidados a sermos sempre os bonzinhos, o amiguinho de todos, até aí sem problema, acontece que imaginamos que para sermos assim, os bonzinhos, precisamos dizer sim a todos, e a tudo, sempre concordar, ceder, e que essa seria a única condição para nosso propósito de ser bom. Apesar que vale a pena ponderar que vem chegando uma geração onde vemos crianças com muita ascendência sobre seus pais, expressam até demais suas vontades, e seus nãos.

Mas a nossa geração, penso que você como eu, deve ter se cansado de comer coisas que não gostava, não escolher o sabor do sorvete; a marca do tênis nem pensar, era o que tinha, e dizer que o sapato ao ser experimentado na loja estava um pouco apertado, sem chance, porque aí se corria o risco de ficar sem.

Os dois extremos são equivocados.

Dizer não, saber recusar o que vem do outro, e o que vem de nós mesmo, alguém já disse: é uma arte.

Mas acontece que sai de nossa boca muitos “sins” por mero descuido do nosso não.

O sim pode até gerar um alivio imediato, mas as consequências chegam, são duas palavrinhas de três letras, mas que mudam totalmente o sentido das coisas.

Pois bem, nem sempre nosso não, e mesmo nosso sim é convicto, por isso que chamei de descuido, que pode ser uma resposta de acordo com a conveniência.

Veja que a vezes nós nem respondemos, e isso pode representar um sim, ou um não, dependendo das circunstâncias, e também de quem ouve, o nosso silêncio pode ser interpretado como afirmativo ou negativo.

Tem uma estória que fala sobre um suposto muro que limita o céu do inferno.

Um belo dia um rapaz se encontrava em cima do muro.

Foi então que um grupo de anjos, do lado do céu, chamavam, imploravam, tentando convencer o rapaz a pular e se juntar a eles. Do outro lado um grupo de demônios ali tranquilos, olhando o rapaz no muro e não diziam nada, e os anjos lá gritando, implorando: vem para nosso lado, vem…

Então o rapaz ainda em dúvida para que lado desceria, perguntou aos demônios: “Porque vocês não estão tentando me convencer a pular para vosso lado, os anjos fazendo essa campanha toda pra que eu pule para o lado deles, e vocês nada.” Aí o demônio respondeu:

O muro é nosso, e quem está em cima do muro já é nosso.

Pois é, aliás, penso que vem daí aquele ditado, “fulano fica em cima do muro” é o sem decidir, nem sim e nem não, o muro é a indecisão, talvez a covardia, até mesmo a mentira, porque se você tem algo a dizer e não diz, está mentindo.

Veja que pegando carona na estorinha do muro, é bom lembrar que Jesus deu paternidade a mentira, disse com todas as letras que, Satanás é o pai da mentira, e ela pode ser tanto um sim para um alivio imediato, um não arrogante, ou até mesmo um silencio covarde.

Jesus também disse: “Seja, porém, o vosso falar: sim, sim; não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna.” Forte isso né? Penso que foi a forma de Jesus dizer que o muro é do demônio.

Percebo que na nossa cultura latina, principalmente nós brasileiros temos uma inclinação afetiva muito acolhedora, simpática, que cativa outras culturas, os europeus, os orientais, são naturalmente mais frios, porém tendem a ser mais verdadeiros. Dizemos muitos “sins”, imaginando manter nossa imagem de bonzinhos. Aliás bonzinho, veja, que até esse diminutivo acaba sendo uma invenção nossa para negar ou minimizar alguma situação, tipo: “Vou dar uma atrasadinha, ou como ficou a roupa da fulana? Ficou bonitinha, como ficou o corte de cabelo, ficou bonitinho”. Esse diminutivo muitas vezes a gente coloca como uma forma pra se dizer o contrário, uma forma de ser educado, digo que fulano é bonzinho pra não dizer que é mal, bem típico nosso isso.

Outra caraterística muito nossa, é responder afirmando ou negando de forma automática algumas situações. Quando alguém te fala: “vai lá em casa”, e você responde “vou sim, a hora que der um tempinho”. Olha aí o diminutivo para marcar a data, mas lá dentro a gente tem a certeza de que não irá, um dia, ou tempinho, acaba sendo uma forma “educada” de dizer: não vou.

Penso que vocês já ouviram aquela famosa frase de um ex-presidente dos EUA: “não sei o segredo do sucesso, mas o segredo do fracasso é querer agradar todo mundo”, pois é, um sim descuidado um não vingativo, ou vice versa, pode estar ligado ao desejo de ser aceito pela maioria.

Aquele rapaz em cima do muro, de certa forma estava tentando agradar os dois lados, mas acaba se tornando o morno citado na Bíblia, nem quente nem frio. Não dizem, ou dizem, justamente para não serem compreendidos, não querem expressar convicção, pois convicção gera compromisso.

São cheios de talvez, de quase, de pode ser, de vou pensar, deixa tudo sub entendido, acontece que o destino do morno nessa mesma citação bíblica, é ser jogado fora, como um vômito.

Escolha sim ou não. Não escolher também é uma escolha. Seja ousado com sua intuição, isso te fará fugir de muitas situações desagradáveis, só porque você quis agradar.

E uma última dica: Nunca imagine que seu não seja uma atitude egoísta, com ele talvez você esteja sim expressando seu mais profundo amor próprio.

Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”

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