É impressionante a grande dificuldade que nós seres humanos temos com relação ao novo.
Claro que esse novo, eu não estou me referindo a coisas novas, tipo o carro novo a uma roupa nova, com casa nova, celular novo. Nossa dificuldade se instala, quando somos convidados a uma postura nova, atitudes novas, o que seja diferente do trivial, do ordinário, da rotina.
Aliás, a rotina acaba nos moldando, acaba nos deixando dentro de uma determinada forma e aí a ideia de se transformar, que é justamente mudar de forma, temos dificuldades.
É comum no ser humano essa dificuldade em dar o próximo passo sem a convicção plena de onde se está pisando. Sei que isso pode ter também o nome de prudência, mas cuidado pois a diferença entre o remédio e o veneno é a dose, e prudência em dose exagerada pode atender pelo nome de omissão.
A ousadia faz parte da essência humana.
Já pensou se todos que vieram antes de nós tivessem medo do novo? Os inventores por exemplo, para Thomás Edson a luz não era só do sol ou do fogo, por essa ousadia criou o novo: a lâmpada. Santos Dumont não aceitou que a ideia de voar seria só para os pássaros. Consegue imaginar o prazer de Santos Dumont ao fazer o primeiro voo, acredito que ele até teve medo de voar, mas coragem não é não sentir medo, mas sim agir mesmo com medo.
Pra ilustrar mais esse bloqueio que temos com relação ao novo, imagina se pudéssemos voltar exatamente na hora do nosso nascimento, ali dentro do ventre da mamãe e nos perguntassem: Você quer nascer? Provavelmente todos nós diríamos que não, claro o único lugar conhecido era aquele ventre que garantia alimento segurança, e sair de lá poderia ser um risco, talvez por isso todos nós ao nascer a primeira coisa que fazemos é chorar.
Nesses longos 9 meses antes de nascermos estávamos protegidos por essa redoma, e agora aqui, não mais no ventre da nossa mãe, acabamos criando um ventre, uma nova redoma de proteção, e digo daqui não saio, me recuso a conhecer a luz do sol lá de fora.
Esse útero agora já na idade adulta, nos impede também de ver e ouvir os que estão do lado de fora nos chamando, vem para cá, vem para fora, sai daí, mas acabamos ficando dentro pelo medo de sair para o novo, não nascemos.
Mas percebe que se não tivéssemos saído da barriga da nossa mãe a gente morreria, e pior, sem saber de todas as coisas aqui de fora, não saberíamos por exemplo que existe luz, que existe cores não conheceríamos o rosto das outras pessoas, teríamos convicção que o mundo só éramos nós, não conheceríamos as pessoas que nasceram.
Gente, a renúncia em nascer significa uma morte.
Veja a beleza do evangelho quando Jesus nos disse: É preciso nascer de novo… Renascer todos os dias, sei que nessa fala de Jesus tem o nascer do Espirito, Mas esse convite é também a ideia de ser ousado, entender que existe um outro ambiente, uma outra postura, um outro local, uma outra maneira de viver , tenho que me dar o direito de andar por outros caminhos.
Essa dificuldade em nascer para o novo, cria a famosa zona de conforto. Mas imaginem, se continuássemos na zona de conforto da barriga da mamãe, uma criança não querendo nascer parece absurdo, mas nós fazemos isso, tememos a luz.
Agora uma criança que tem medo do escuro é mais fácil de se perdoar do que um adulto com medo da luz.
Aqui no Novo Sinai falamos muito nessa linha. Realmente deixar a vida de drogas é um nascer de novo. Não é difícil perceber que as pessoas precisam sair do ventre das drogas, mas qual é o ventre que está te prendendo? De repente já deu os “9 meses” e você nada de nascer.
O ser humano tem por natureza se solidarizar com quem está doente, com quem a vida está em risco por causa de uma doença, mas admira quem está morrendo por exemplo de tanto trabalhar. Gente, os dois estão morrendo, mas achamos uma virtude colocar a saúde em risco pelo excesso de trabalho. Pessoas se fecham no ventre do trabalho e isso acaba sendo exemplo a ser seguido. O trabalho não é para matar ninguém o trabalho é para a sobrevivência.
Muita gente com medo de sair do ventre de relacionamentos nocivos, do ventre das drogas, do ventre da mentira, dentro do ventre do limite de conhecimentos. Não se põem nem a ler um livro novo, assistir um filme, ouvir alguém que vai falar algo de novo.
Sinceramente desejo que logo essa zona de conforto fique desconfortável o suficiente para te tirar de lá.
Não deseje um local chamado de confortável, mas que te deixe paralisado, sem ação, e isso te deixar uma pessoa improdutiva.
Sinceramente te desejo, se caso por parto normal você não tenha saído do ventre que te aprisiona, “uma cesariana”, mesmo na insegurança e do medo pós parto, mas é ela que pode evitar um aborto precoce dos seus sonhos, dos seus dons.
Tenha certeza, do lado de fora tem muita luz, muita cor, pessoas novas, um universo de novidades, que pode ainda está obstruído por um útero fictício que você mesmo tenha criado e insiste em habitar.
Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”
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