A reação que temos em relação a fatos, circunstância pessoas, revela muito de nossa personalidade, dos nossos verdadeiros interesses.
Vemos crescer, infelizmente a cultura do ódio, num momento político polarizado por exemplo, aumenta demais a dificuldade com o diferente.
Seja político, religioso, raça, essas diferenças tem gerado infelizmente um ódio palpável entre as pessoas, mas isso não é algo novo na história.
Acontece que, um outro traço vem definindo o modo de agir e reagir em relação uns com os outros, nesse momento da história, e não é nem o ódio e nem o amor, mas sim a indiferença.
Com um pouco de atenção, conseguimos perceber que nossa cultura está cada vez mais indiferente as diferenças.
Tudo aquilo que não se parece comigo, que está fora da minha zona de preferência, não combina com meu estilo, não se integra a meus valores, tendo a colocar em uma zona de indiferença, e lá colocamos circunstâncias e fatos, mas infelizmente pessoas também, e essas pessoas são colocadas por nós, numa área de anestesia moral, anestesia psíquica, e até numa anestesia física, que é a indiferença.
Essa indiferença deixa de ser simplesmente um sentimento, ou um modo de pensar e passa ser uma atitude, normalmente de evitar confronto, evitar desgastes, evitar obstáculos, pela simples opção de se esquivar, então começamos a construir filtros, muros de proteção, de invisibilidade do outro. Nos estabilizando em nossa zona de conforto, e dentro desses muros, dessa zona de conforto, vamos inchando nosso ego, e quanto mais inflado meu ego, menor o mundo lá de fora, menor se torna meu modo de ver o mundo lá fora, a ponto de que, o que for externo a essa minha fronteira se torna invisível, está aí a indiferença instalada.
Estou usando o termo indiferença, mas dei o título a esse papo de: “E eu com isso?” que acaba sendo uma forma mais popular de se expressar a indiferença, “E eu com isso?” com o sofrimento do outro, “E eu com isso?” com as demandas do outro, com as opiniões do outro, e essa bolha que aparentemente protege é a mesma que pode destruir.
Me fecho ao contrário, ao diferente, ao menor.
Lembro de um trecho de um livro onde o personagem dizia mais ou menos assim:
“Vieram prender meu vizinho da direita porque era judeu, não me preocupei, afinal de contas não sou judeu, em seguida vieram buscar meu vizinho da esquerda porque era negro, também não me importei, afinal de contas não sou negro, passaram mais uns dias vieram buscar seu vizinho do fundo, porque era homossexual, também fiquei indiferente, pois não sou homossexual, não bastasse, buscaram o vizinho da frente porque era cristão, eu pensava não tem nada a ver comigo também, não sou cristão.
O problema é que um dia vieram me buscar, e aí não havia nenhum vizinho para me salvar, todos haviam sido levados sob o meu olhar indiferente.”
Nossa indiferença pode ser uma angústia disfarçada, pode ser o medo de amar.
E essa bolha moralista que criamos, tende a ser cada vez menor, para que todos tenhamos o mesmo registro de conforto, ou se preferir esse registro de identidade.
E onde isso leva? A uma multidão de indivíduos solitários, que não conseguem sair dos seus próprios espelhos, principalmente espelhos internos.
Sabe gente, uma dose saudável de bom senso, pode te tirar dessa bolha, porque a exposição a adversidade, ao conflito, enriquece, te torna alguém mais interessante para o outro, e para você mesmo também.
Produz novas formas de ver o mundo.
Produz curas de patologias narcisistas, sejam elas: depressão, tédio, sentimento de irrelevância, que tenta se resolver através das tarjas pretas, literaturas fictícias de autoajuda, e claro muita droga e álcool.
Gente, tenho certeza que você já sentiu pelo menos uma vez, a felicidade de proporcionar felicidade a alguém, e essa felicidade, tenho certeza que veio aquela vez que você distribuiu o bem, sem a ideia de remuneração, sem a recompensa.
A fórmula mais plena de felicidade, está ao sentir a felicidade do outro, gerada generosamente por um ato nosso.
Asilos, creches, orfanatos, se povoam muito pelo “e eu com isso da sociedade”, onde a solidão maior se dá, não apenas pela ausência física somente, mas pela indiferença, aliás ouvi que o contrário de amor, não seria ódio, mas a indiferença.
Uma frase famosíssima de Martin Luther king diz:
“Me incomoda muito menos o grito dos maus, do que o silêncio dos bons.”
E veja, que às vezes classificamos como sentimentos a indiferença, mas não é, é uma atitude, uma decisão. Uma decisão que calcifica o coração, se torna o pior silêncio que se pode ouvir, aquele: “E eu com isso?”, que enferruja relacionamentos.
Tente a experiência de se importar e se exportar ao outro.
Pratique a empatia, aprenda a ouvir até quando o outro não fala, o mundo seria muito melhor se perguntássemos com mais frequência: e se fosse comigo?
Veja o mundo mais com os olhos do outro, e não com o nosso mundo refletido no olho do outro, as dores pesam de forma diferente entre as pessoas.
E é exatamente isso que me fascina em Jesus, esse jeito de olhar para a pecadora que iria ser apedrejada, ao Zaqueu na árvore, ao ladrão na cruz.
Inaugure agora, em você um tempo, onde o: “Tô nem aí”; “E eu com isso?”, dê lugar ao conte comigo, estou aqui.
Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”
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