Numa sociedade cada vez mais competitiva, onde alcançar objetivos, alcançar os fins sem se importar com os meios, penso que todos nós quando com a cabeça no travesseiro nos perguntamos, mas vale a pena ser bom?
A importância de ser bom tem ficado em segundo plano, e a ideia de que é muito bom ser importante prevalece sobre a ideia de que é mais importante ser bom.
Nem sei se posso dizer que esse seja um comportamento contemporâneo, muito provavelmente seja sim uma característica humana, desde que o mundo é mundo. A necessidade de se sentir importante, reconhecido, independente de classe social, nível intelectual. O ser humano mostra desde criança, conforme vai crescendo, cresce também a vaidade, o egoísmo. Se percebe isso nos bebês, são todos dóceis, mas é só começarem a crescer, se uma outra criança pega seu brinquedinho já chora, faz birra, mesmo que tivesse brincando com dez carrinhos, o outro vem pega um, pronto, ele larga os dez e quer justamente aquele que o outro pegou, puro egoísmo.
As crianças até se perdoam por essas atitudes, mas os marmanjos que se acham a última bolacha do pacote, os donos de tudo, os mais importantes, normalmente esquecem que é mais importante ser bom.
E esse ser bom, doar-se, é um dom ligado diretamente ao amor. Disse no título, que é muito bom ser importante, mas que é mais importante ser bom, mas o que seria ser bom?
Uma vez vi sobre a definição de que ser bom, seria fazer o melhor, de acordo com as ferramentas que se tem. E é exatamente isso, imagine duas pessoas que vão cozinhar um determinado prato, para uma é dado todos os ingredientes, uma cozinha completa, todos os temperos, e pra outro se limita num simples fogão sem as panelas necessárias, resumindo, em condições diferentes, quase insuficientes, não se pode cobrar o “bom” dessa pessoa, da mesma forma que se cobra o bom da outra, então é esse sim o desafio, ser bom com aquilo que se tem, disse isso também como um alerta, cuidado, você pode estar subestimando o que tem.
Percebo que existem muitas pessoas com medo de serem boas pelo medo de sofrer. Existe um conceito meio que generalizado de que pessoas boas sofrem mais que as “não tão boas”.
Olha, sinceramente existe sim um sofrimento pra quem se dispõe a amar, a ser bom, mas vou te dizer uma coisa: Você tem duas escolhas: sofrer por amar ou sofrer por não amar, percebe que o sofrimento é inevitável quase que inerente de se viver, e você não irá conseguir coerência se resolver fugir do sofrimento de acordo com as circunstâncias.
Ser bom é uma decisão também. Temos aquelas frações de segundos diante de nós, para decidirmos, e é uma baita virtude a ideia de se contar até três, se for preciso até trinta, ou trezentos, não deixe que o impulso roube de você a oportunidade de uma atitude boa.
Seríamos muito mais felizes e realizados, se trocássemos nossas competições por cooperações. Elegemos inimigos para vencer, e vivemos numa constante competição. Tem um provérbio português que diz: vence quem se vence, e no contexto do nosso papo, se vencer é exatamente vencer nossa natureza de ser mau, infelizmente somos maus, olha o exemplo que dei da criança com o brinquedo, é só começar a crescer que o egoísmo aflora.
Não sei a sua crença, mas os cristãos em geral acreditam que essa herança má, seria herdada da figura de Adão e Eva, veja que mesmo com toda a simbologia, quando a serpente ofereceu a maçã a Eva, o argumento usado foi de poder, foi o de ser importante, coma desse fruto que você terá o conhecimento supostamente escondido por Deus, continuando a história, Caim mata Abel seu irmão por ciúme, e por ai vai, chegando aos dias de hoje, talvez só em formatos diferentes.
Precisamos quebrar a corrente do mal e estabelecer a corrente do bem. Se você resolve sempre pagar o mal com o mal, ele nunca irá acabar, você multiplica o fruto ruim, é a tal estória, da consequência do dente por dente e olho por olho, continuando assim, logo estaremos todos, banguelas e cegos.
Esse instinto em querer vencer o outro e não a si, está diretamente ligado a inveja, a intolerância que temos com o sucesso do outro, acaba nos dando dificuldades até em aceitar quando o outro está sendo bom, olhamos a obra boa construída pelo outro, e ligamos nosso radar da desconfiança: Ah… faz esse tipo de caridade, deve haver algum interesse por trás, se incomoda mais com o sucesso do outro do que o próprio fracasso.
Cuidado, quando seu fracasso por não ser bom não te incomodar, você irá acumular fracassos, já que eles te passam desapercebidos.
Tome cuidado para não perder a percepção pela importância de ser bom, vença o desejo de ser importante, e sem que você perceba irá se tonar extremamente importante, simplesmente porque decidiu ser bom.
Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”
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