É muito comum, quando algo negativo acontece, a nossa busca aos culpados.
Talvez seja inconscientemente um mecanismo de defesa, culparmos os outros, sejam pais, professores, escola, a religião, os governos, o clima.
Se instala um jogo de acusação num processo de relação automática, entre acusadores e acusados, que acaba não levando a solução do fato em si.
Sinceramente, vejo até um certo sentimento de vingança, quando jogamos nossa culpa no outro. Aqui no Novo Sinai já ouvi algo assim: Ahh, se minha mulher me tratasse melhor eu pararia de beber.” Percebe aí, o fazer de sua culpa, uma vingança ao suposto comportamento da esposa.
Esse jogo imobiliza e impede a autenticidade, precisamos sair dele, além do que, se é que conseguimos aprender com os nossos erros, logo precisamos admitir nossos erros. Provavelmente você já disse e já tenha ouvido o ditado: “Que o pior cego é aquele que não quer ver.”
Outra coisa, é que a transferência da culpa se transforma automaticamente em outra culpa.
Certa vez ouvi em tom irônico alguém dizer: “Bom se a culpa é minha, eu coloco em quem eu quiser.”
Ok! Mas como escreveu Gonzaguinha, as crianças continuam a nos ensinar.
Você já deve ter visto uma criança tapar os olhos tentando se esconder.
Nós, os adultos, achamos engraçado e ingênuo a criança imaginar que tapando os olhos não seria vista, acontece que essa é uma atitude muito parecida com a nossa, quando fechamos os olhos, não querendo enxergar nossa culpa, nossas responsabilidades, pensando que ninguém está vendo.
Somos os únicos responsáveis pelo que dizemos e fazemos, e a consciência de nosso papel, é que nos libertará dá pequenez, em sempre imputar aos outros culpas que são nossas.
Acusar é fácil. Responsabilizar-se é mais trabalhoso. Podemos errar várias vezes, mas só seremos fracassados se colocarmos os erros nos outros.
É claro que governos tem suas culpas, pais tem, professores idem, e devem fazer sua parte, até admito que poderiam fazer melhor, mas isso não nos isenta de nossa parte, não nos isenta de por isso, criarmos a culpa da omissão.
Essa ideia de terceirização da culpa, é muito antiga, lembra quando Deus perguntou a Eva sobre o fruto proibido? Logo ela colocou a culpa na serpente.
Qual a serpente que você está elegendo hoje para transferir sua culpa?
Ok! Já que o assunto é culpa, existe o outro extremo, aquele que coloca sobre si a culpa por tudo.
O comportamento continua errado do mesmo jeito, seja colocando nos outros as nossas culpas, mas também quando colocamos em nós culpas que não são nossas.
É natural que quando nos sentimos culpados, nos tornamos muito mais vulneráveis, às vezes, entramos em pânico, ficamos inseguros e ansiosos, às vezes até desesperados, daí a necessidade do equilíbrio, e a do alto perdão, da disposição de fazer diferente, para não se entrar num rodízio de pensamentos e sensações que vão de raiva a pena de si mesmo, de desânimo, de frustração, baixa estima, que impede de assumir responsabilidades que encaminhem para solução dos problemas.
Vou abrir um parêntese aqui pra que você fique bem atento por exemplo com alguns líderes religiosos, que tem muito mais facilidade em falar de pecado do que do amor de Deus, jogam culpa nas pessoas, com a intensão de torná-las frágeis, e pessoas frágeis são pessoas mais fáceis.
Vou fundamentar meu raciocínio com algumas perguntas que eu te sugiro tentar responder:
- Depois de algo desagradável, uma briga ou discussões, qual tipo de sentimentos você desenvolve?
- O que é culpa para você?
- Como e quando você se sente culpado?
- Que você faz para se libertar da culpa?
- Você já passou por situação em que teve de apontar o culpado, e deixar ele sofrer as consequências? E como se sentiu?
Percebe que nesse caso você corre o risco de se sentir culpado, quando você simplesmente foi verdadeiro.
Nesse ambiente da culpa, se estabelece um teatro, onde aparece basicamente 3 personagens:
Perseguidor, o Salvador e a vítima, em qual você se encaixa mais?
Veja que muitas vezes estabelecemos culpa nos outros, em cima das expectativas que criamos, e essa expectativa quando irreal nos deixa cegos. Com a falsa ideia de que o outro falhou, quando na verdade o outro simplesmente não atendeu suas expectativas.
Definitivamente se culpar ou simplesmente culpar a outro é uma das melhores maneiras de não resolver problema algum. Ouvi uma vez aqui no Novo Sinai também, um pai dizendo: “Meu filho é assim porque puxou minha sogra.” Chega a ser cômico, jogar nos antepassados ou na estrutura da família, a culpa, é completamente inútil, nada resolve. Isso não quer dizer que, não devemos conhecer nossas raízes para entendermos melhor o que está acontecendo.
Quando os pais se sentem culpados por tudo, e transparecem isso para os filhos, terão muita dificuldade em conseguir que os filhos assumam as suas responsabilidades.
A culpa imobiliza, ela é diferente de responsabilidade. A responsabilidade nos coloca em ação, e entender esta diferença é maturidade, a culpa gera um cárcere de sentimento, que torna muito a maturidade.
Que tal nos comprometermos a condenar mais as culpas, e menos os culpados? Isso é uma boa definição de ser cristão, condenar o pecado, mas não o pecador, senão corremos o risco de jogar a criança fora junto com a água suja da banheira.
A principal punição a quem cometeu um erro, é fazê-lo sentir-se eternamente culpado, muitos são vitimados por esse sentimento, e acabam por criar no inconsciente um mórbido prazer de uma auto punição, pensam que assim estariam pagando pelo erro, acham que se mantendo culpados, estariam se punindo o suficiente para apagar o erro.
Definitivamente não dá mais para nutrir esse sentimento hostil de culpa, isso tem gerado emoções extremamente tóxicas.
Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”
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