Segundo a ciência, o cérebro humano é composto por cerca de 100 bilhões de uma célula chamada neurônio e cada uma dessas células é capaz de fazer entre 1000 e 10.000 conexões entre si; imagine a quantidade de combinações possíveis, a quantidade de interações possíveis que acontecem dentro da nossa cabecinha.
Você está lendo agora aqui porque os seus neurônios estão agindo entre si e fazendo ser possível a interpretação. Eu penso que só por isso nós já deveríamos ser gratos a Deus por essa “máquina” funcionar de forma tão complexa e tão perfeita.
Essas peças se ajustam independente da nossa vontade para que possamos fazer a nossa vontade. Vou repetir: essas peças se ajustam independentemente da minha, da sua vontade, para que possamos fazer a nossa vontade. É dentro dessa “engrenagem” que recebemos as informações que são responsáveis pelas nossas decisões, e tomada de decisão é o livre arbítrio. Eu não sei como eles agem, mas sei que agem, e a ordem para que eles ajam, parte de mim. Veja aí a exclusividade, a individualidade da decisão de cada um.
Ninguém pode sentir o que você sente. E nem você nunca poderá sentir o que o outro está sentindo. Quando alguém segura na sua mão para te cumprimentar, por exemplo, e aperta sua mão, você sente a mão do outro? Talvez automaticamente você responda que sim, mas não é verdade. A gente não sente a mão do outro, a gente sente a nossa mão sendo apertada pela mão do outro. Percebe a diferença? Se a sua mão estivesse, por exemplo, anestesiada, você sentiria a mão do outro? Não né? Então veja que tudo que sentimos está em nós e nunca no outro.
Eu usei este exemplo para reforçar que é impossível, por mais que eu queira, sentir exatamente o que o outro sente. Seu cérebro, seus neurônios, suas conexões, não conseguem se conectar ao neurônio do outro, então, logo, você só vai sentir realmente, o que o seu cérebro permitir que você sinta.
E tem uma frase que diz sobre isso, ela fala mais ou menos assim: “Não importa o que os outros fazem com você; o que importa é o que você faz com o que os outros fazem com você!”
Estes dias, eu estive com um rapaz que ficou por cinquenta e cinco dias na UTI, entubado pela Covid19. Ele disse não se lembrar absolutamente de nada, justamente por que foi desligado dele esse mecanismo que dá ordem para agir. Então quando alguém falar para você, principalmente nesses tons meio de vitima: “Ah você não imagina o que eu estou sentido.” ficou fácil responder. Diga: “eu não sei mesmo”. Isto é científico: nunca você vai conseguir saber exatamente o que o outro está sentindo e vice-versa.
E veja que acaba sendo essa uma conclusão científica para explicar o porquê nós somos diferentes, porque os nossos comportamentos, nossos gostos são diferentes.
Cada um tem sua característica que se forma através de influências de pessoas, de lugares, e isto forma o que vou chamar daqui para frente, de hábito.
E esse é o tema do nosso papo de hoje; a nossa dificuldade em mudar o hábito, a dificuldade que temos em mudar a forma de como o nosso cérebro processa nossas decisões.
A mudança representa para nosso cérebro como que se ele estivesse fazendo uma leitura em uma língua estranha, e aí a minha estrutura de hábito acaba criando a minha personalidade.
Está bem, mas ela é imutável? Não! Ainda bem que não, sem deixar de ser difícil, é difícil converter-se e aqui é bom lembrar o termo conversão não tem nada a ver com o entrar numa igreja, se declarar numa fé específica. Converte-se aqui é mudar de rumo. Igual as placas de trânsito que nos sugerem conversão à esquerda, conversão à direita, ou siga em frente.
Em se tratando de mudança, existem duas que são as principais: a mudança de comportamento e a mudança de crença. Crença no sentido amplo mesmo, aquilo que eu acredito.
A maioria das pessoas imagina que é mais fácil mudar o comportamento, do que mudar a crença e é um enorme engano. Porque quantas vezes você já prometeu, e isso é uma crença, começar uma academia, começar um curso de inglês, uma aula de violão, um regime… A gente até acredita nisso; por isso que eu estou chamando de crença.
Acontece que mudamos de crença quando percebemos que está difícil de mudar o comportamento.
É uma tendência natural do ser humano essa inércia, o poupar esforço e mudança de comportamento é um esforço. Nosso cérebro acostumou a dar ordens a um determinado comportamento. Então vivemos nesse autoengano, onde eu mudo a crença para não mudar o agir.
Nós temos medo da instabilidade da mudança, nosso cérebro prefere nos convencer a mudar de crença; por isso ser mais fácil manter a tendência a comportamentos automáticos.
Quando eu ouço de alguém, principalmente aqui no Novo Sinai, por exemplo, “um dia eu vou parar de fumar”; eu já tenho a resposta certa digo: “um dia” não existe; eu conheço, segunda, terça, quarta… dia 01, dia 02, dia 05, dia 28… mas “um dia” não! Mas acaba sendo essa uma forma racional que encontramos para satisfazer a nossa crença. Mas analisando a fundo, acaba sendo quase que uma atitude irracional, pois se lá no fundo eu não quero a mudança, eu tenho certeza que não vou mudar, manter a crença é irracional.
Gente, atitudes continuadas geram hábitos e hábitos podem gerar vícios! E o vício é agradável, difícil de se afastar; ninguém se vicia por algo que não seja prazeroso.
Veja que em se tratando de comportamentos e crenças, pare para pensar quantas vezes por crença você disse “eu te amo” para alguém, aliás, melhor, “eu te amo pra sempre”? E quantos realmente você amou? E quantos você amou pra sempre?
Aliás, não dá para você dizer que amamos alguém pra sempre, porque o seu sempre ainda não chegou! Você vai ser obrigado a manter esse comportamento até o último segundo da sua vida, mas é uma crença: eu acredito e digo que amo, mas não necessariamente me comporto como alguém que ama. Talvez eu até tenha criado esse hábito de dizer que amo, mas eu nunca amei verdadeiramente.
Fique atento aos hábitos que você cria, às ordens que você dá para seu cérebro e tenha a ousadia da mudança, a ousadia da ação.
Nunca esqueça que verdadeiramente vence quem se vence; vence quem vence hábitos, quem vence comportamentos continuados que precisam ser mudados.
Acredito então, que nossas mudanças não realizadas são na verdade, crenças que precisam ser levadas mais a sério!
E diante disso tudo, vou terminar com uma dica sobre comportamento e decisão, dada pelo apóstolo Paulo, lá nas suas sábias cartas: “Na hora de decidir alguma coisa, na hora que for agir, pense que tudo, tudo é permitido, mas nem tudo convém.”
Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”
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