SOBRIEDADE JÁ: CONVOCAÇÃO PARA OS COM VOCAÇÃO…

1004

Recentemente escrevi aqui, que nós seres humanos somos perfeitos. Sim, mas não somos prontos. Não nascemos prontos.

Pensando sobre isso lembrei de um evento que fiz, e antes de mim, um obstetra fez palestra, e ele dizia que em cada parto que ele fazia, ele olhava a criança e pensava: “Não é possível que aqui esteja nascendo um bandido, um traficante, um assassino, um estuprador.”

Mas existem traficantes, assassinos, estupradores, então eles nascem assim ou se tornam assim?

É a sua natureza ou é a sua formação?

É evidente que percebemos habilidades e defeitos em alguns, que não vemos em outros. Isso é uma questão complexa, o tamanho da influência do meio, da família, da escola, do trabalho.

Esta questão tem gerado debates na psicologia e na filosofia. As pessoas nascem com aptidões, já faz parte do seu DNA ou adquirem suas aptidões ou defeitos e vícios pelo meio?

Veja que pra justificar, quem acha que já nascemos 100% com nossas aptidões definidas, citam argumentos, mas que são os mesmo para justificar a situações oposta, veja bem:

Mozart um dos maiores músicos da história, antes da adolescência já havia composto peças extremamente complexas, isso justificaria o dom nato para a música.

Acontece que Mozart, era filho de um grande professor de música, a irmã mais velha estudava música, logo a segunda opção também se justifica, ele foi moldado pelo meio.

Só mais um exemplo, um outro músico, Bach, ele teve vinte filhos, alguns pianistas, mas nenhum dos filhos de Bach chegou perto da genialidade do pai, e veja que esses filhos tiveram nada mais nada menos que o próprio Bach como professor.

Neurocientistas modernos afirmam que, realmente nascemos com dons específicos, mas que precisam ser acompanhados de um meio que os aperfeiçoe, que dê ao talento uma lapidada.

Veja, se Mozart tivesse nascido na África por exemplo, onde não se ouvia música clássica, seria o mesmo Mozart?

Quantas pessoas mundo afora, são ou foram filhos de professores de música, mas Mozart só teve um.

Vamos trazer mais pra nossa realidade tupiniquim… Penso que, se o Pelé tivesse nascido nos EUA com certeza não seria o rei do futebol. Um atleta nato, mas se fosse estimulado a jogar basquete, ou a jogar futebol americano por exemplo, provavelmente o nosso rei desistiria, e não seria o atleta do século.

Intrigante isso, não é?

Então chegamos à conclusão que existe argumento para os dois lados, se justifica aquelas expressões que a gente diz: fulano tem jeito pra tal coisa, fulano nasceu pra isso, ele tem talento, ele tem vocação. Mas precisa ser estimulado pelo meio, pelas circunstâncias. Falamos até aqui de coisas boas, mas penso que para o mal também seja essa mesma verdade, tendências e influências.

Entro agora mais dentro do tema, que é entender o sentido pleno de vocação.

Vocação, vem de “vocare”, que quer dizer chamar, é um convite. No sentido religioso isso fica mais evidente, ouvimos mais o sentido de vocação como um chamado quando se refere ao campo religioso, inclusive porque dentro dessa visão, aquele que convida é também aquele que capacita. Aí está a perfeição do ditado que diz: “Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos.”

Os meios e características pessoais determinam a plenitude de nossa vocação, mas existe algo fundamental, que mesmo com os dons naturais, e com os meios jogando a favor da nossa vocação, ela pode ficar estagnada, não sair da teoria.

É justamente quando não reconhecemos a convocação, quando não ouvimos o convite a colocar em prática o que o meio e nossas características genéticas no convidam, quando a gente resiste a colocar-se em ação, quando a gente insiste em resistir.

Toda vocação só se concretiza de forma plena com muita dedicação, empenho, e aí vale mais a transpiração do que a inspiração.

Uma música muito conhecida que particularmente gosto muito, aliás uma poesia perfeita do Renato Teixeira e do Almir Sater, “Tocando em Frente”. Uma frase em especifico dessa música, que às vezes passa até meio despercebida, diz assim: “Cada ser de si carrega do dom de ser capaz, de ser feliz.”

Se fixássemos no conceito de ver a vida como uma vocação, estamos vivos, nascemos, já é suficiente para que nos vejamos como vocacionados a vida, então quando a música diz: “Cada ser de si, carrega o dom de ser capaz, de ser feliz.” O autor identifica uma vocação dentro da vocação maior que é a vida, como se dissesse: Cada ser de si tem a vocação, tem a capacidade de ser feliz.

Veja, que mais do que, uma sugestão é uma afirmação, cada um de nós compomos nossa história, e precisamos responder a convocação que a vida nos faz, e a principal, e que termos a vocação de ser feliz.

Portanto, ser feliz é uma vocação que todos somos convocados, Deus te quer feliz, abra os ouvidos e ouça essa convocação, o meio pode influenciar, pessoas do nosso lado podem não contribuir para sua felicidade, mas essa é uma convocação divina, não é um simples convite, é uma ordem, é Deus te dizendo: “Você está convocado a felicidade, lhes dei esse dom, lhe fiz essa convocação.”

E irá entender de forma plena que o mundo pode até fazer você chorar, mas Deus te quer sorrindo…

Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”

Informações: