SOBRIEDADE JÁ – A VOZ DO POVO É A VOZ DE DEUS?

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A voz do povo é a voz de Deus! Penso que você já ouviu algumas vezes essa afirmação, e isso automaticamente nos remete a uma ideia de que sempre a maioria está certa, a ponto de compararmos a convicção popular com a própria vontade divina.

Imaginar que a vontade divina se adapta à vontade do povo, como diz o ditado, é um equívoco.

Parece até que depois de ficar sabendo de que Deus havia feito o Homem a sua Imagem e Semelhança, o Homem começou a imaginar que poderia criar um deus a imagem e semelhança dele próprio.

Veja que Jesus foi categórico ao afirmar: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!” Veja bem que Ele não disse somente “Eu sou o Caminho e a Vida”, mas Ele disse: “Eu sou a Verdade.” Logo, toda verdade dita por Jesus, é imutável.

Vemos hoje pessoas se valendo de pequenas verdades para contar grandes mentiras. E isso é possível, contar uma grande mentira se usando de pequenas verdades. Um exemplo: lembra daquela passagem onde Jesus é tentado no deserto? Veja que o demônio tenta fazer Jesus cair num erro usando três verdades; inclusive que são necessidades fisiológicas e espirituais do homem, que é a fome, uma certeza da proteção divina e a necessidade de autoestima, de poder, que é a terceira tentação.

Era verdade que Jesus estava com fome, estava há quarenta dias no deserto; (necessidade fisiológica) era verdade que Ele poderia transformar aquelas pedras do monte em pão, (poder) aliás, logo depois, em sua vida pública, Ele multiplicaria os peixes os pães, transformaria água em vinho. Era verdade também, que está escrito no salmo que Ele poderia dar ordem aos anjos e eles viriam, O tomaria pela mão e não O deixaria tropeçar em pedra alguma, (segurança). E a terceira verdade dita pelo pai da mentira é que poderia dar a Jesus todos os reinos deste mundo, (poder). Veja que até Jesus, sofre a tentação de se iludir a uma grande mentira, onde lhe são oferecidas verdades menores.

Mas Jesus rebate, respondendo com toda a sua convicção de verdade e conclui, nos instruindo: “Conheça a Verdade e a Verdade vos libertará!”

Gente, a impressão de verdade ou de mentira muitas vezes é construída de acordo com uma linguagem que recorre da maioria.

Vivemos em um meio, em uma coletividade e acabamos de ter como verdade ou mentira, aquilo que nos mantém no meio. Sustentamos uma opinião mesmo não estando convictos, se o contrário for uma ameaça de que eu seja excluído do meio.

Como dizia o Cazuza: “Mentiras sinceras me interessam.” Então, conforme o meu interesse, eu aceito determinadas circunstâncias, determinados fatos, como verdade ou como mentira.

Portanto em cima desse raciocínio, chegamos à conclusão de não existir uma verdade ou uma mentira nossa, mas uma verdade ou uma mentira do meio do qual vou ou não aderir. Acabamos engolindo a opinião mesmo que fantasiosa do meio, principalmente se isso me agrada, me adula, me inclui.

Como poderia então a convicção do meio, a tal voz do povo, ser a voz de Deus?

De jeito nenhum! Um conjunto de mentiras pode se transformar num consenso, mas nunca vai se transformar em uma verdade.

Mentira é mentira; verdade é verdade!

Pode-se haver um consenso de mentiras, mas nunca a mentira se transforma em verdade.

E é impressionante como isso gera pessoas sinceramente enganadas.

Digo sinceramente enganadas, porque elas são sinceras nas opiniões, nas convicções, mas a verdade em que acreditam é uma grande mentira.

Uma vez eu ouvi algo espetacular sobre verdade e mentira: dizem que dois são os que dizem a verdade: As crianças e os loucos.

Quem já não se embaraçou, com a afirmação de alguma criança desmentindo um adulto, tipo: “mamãe mandou dizer que não está!” ou aquela pessoa tida como doente mental que chega até nos incomodar com seu grau de sinceridade?

Lembro de um rapaz aqui da minha cidade, quando uma senhora se aproximou e perguntou: “Ah eu estou bonita, né?” Ele olhou para ela e sem economizar sinceridade disse: “Não.” Imagine o grau de sinceridade provavelmente nós os “normais”, diríamos que estava, agora ele não, ele deu a opinião dele.

Crianças e doentes mentais dizem a verdade. E nós, os “normais”, o que fazemos com esses que dizem a verdade? As crianças a gente educa e os loucos a gente trata!

Exatamente, nós invadimos a verdade natural deles com a nossa “educação” e com o nosso “tratamento”, para que eles se tornem normais e curados como nós, e comecem a mentir.
Ficamos criando desculpas para nossas mentiras. Uma vez ouvi: “Sabe por que eu minto? Porque as pessoas me fazem muitas perguntas, é só parar de me perguntar que eu paro de mentir!”

Acontece que a vida é implacável em perguntas. A todo instante estamos diante da eminência da necessidade de uma resposta. Nossas atitudes, nossas palavras, nossas ações, são frutos de respostas, aliás são as nossas respostas.

Então voz do povo é a voz do povo; é mutável, é adaptativa, é passiva de conveniências!

Voz de Deus é única!

Faça o silêncio necessário para ouvir a voz de Deus, ela sim é a expressão máxima da nossa oração, quando sabemos que oração é falar com Deus.

Uma oração se torna verdadeiramente perfeita, não quando Deus me escuta, mas quando eu escuto a Deus!

Portanto uma oração perfeita não é quando a voz do povo é ouvida por Deus, mas quando a voz de Deus é ouvida pelo povo!

Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”

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