SOBRIEDADE JÁ: A VIDA NÃO É JUSTA PRA TODOS, ENTÃO ELA É JUSTA…

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Carlinhos Marques - Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai

Já fiz vários comentários aqui sobre a injustiça, principalmente sobre a unanimidade em serem contra a injustiça, por estarem muito mais preocupados em ser vítimas da injustiça, do que serem agentes da injustiça, ou seja, quando cometerem a injustiça.

Pensando assim, vemos crescer no nosso meio, grupos dos supostos injustiçados. Impressionante como se criou ongs, associações, sindicatos, movimentos de classes para proteger os supostos injustiçados. Tem vários exemplos, lembro quando surgiu o MST, por exemplo, o movimento dos sem-terra, algo a princípio justo, mas que logo foi-se agregando mais letras na sigla, apareceram os sem teto, e se formos fazer essa brincadeira de letrinhas, quem não se lembra do GLS, então, durou pouco só com 3 letras, hoje é LGBTQIA+, me desculpe se esqueci alguma letra, aliás pelo que sei, estão querendo acrescentar PN depois do A, que seria mais um grupo de injustiçados.

Bom, longe de mim aqui, questionar o nível de injustiça que esses grupos sofrem, mas imagine se houvesse uma organização com a ideia de proteger todos esses que se acham injustiçados?

Pensando assim, dei título ao nosso texto de hoje, usando um pouco desse raciocínio: A vida não é justa, mas ela não é justa pra todos, logo ela não seria justa então?

Veja, se você não olhar dessa forma, de que a injustiça é algo meio que generalizado, você corre o risco de criar pra si, a síndrome do complexo do injustiçado. Aliás, será que já não temos essa síndrome? Acontece que dificilmente alguém diria que sim né?

Lógico que vemos níveis absurdos de injustiça. Quantos acidentes, que de uma hora pra outra arrancam membros de uma família, quantos pais que perdem filhos nessas condições. Eu particularmente fico quase que inerte diante de mães que depois de nove meses de gestação, uma doação de uma vida inteira cuidando do filho, nos procuram, pois, esse filho caiu nas drogas, convivo com isso, com esse desespero de mães que sofrem essa “baita injustiça”.

O que dizer a essas mães? Não se tem palavras que gerem esperanças convincentes. Mas podemos sim, fazer algumas reflexões: Somos acostumados, penso que educados a pensar que não podemos sofrer, aliás faz parte do complexo de injustiçado, imaginar que não pode sofrer. Sofri, pronto, é injusto, acontece que quando o sofrimento é do outro somos ótimos em minimizar: “Ah isso vai passar, fica firme, Deus escreve certo por linhas tortas”.

Acaba sendo um discurso fácil, meio que decorado, agora quando é com a gente, abrimos nossa caixa de merecimentos para questionar, mas porque logo comigo? Eu que faço isso, aquilo de bom, ajudo os outros. Acontece que se chama injustiça porque não é justo mesmo, senão seria justiça, é muito parecido com o perdão, não existe essa de dizer: Ah não vou perdoar o fulano, porque ele não merece, perdão só tem sentido a quem não merece.

Quando digo que a injustiça é justa, é porque ela vem sobre todos, sobre o bom o mal, o bonito o feio, o rico o pobre, ela é democrática, então quando você se pergunta: “Mas porque comigo”? eu te respondo, porque não com você?

Porque com você é injusto? E quando acontece com a família do outro a gente se enche de otimismo, vamos ajudar, vamos ser solidários, e quando com a gente, se instala a revolta, a indignação.

Percebe que somos arrogantes com a pergunta: “Mas porque comigo”? De certa forma estamos nos achando melhor que o outro.

Poxa, quando uma doença chega na nossa família, um pai, uma mãe com perda de memória pela idade, um Alzheimer, ao invés de dizer, mas porque com minha família, que tal pensar em ser grato pelo tempo que convivemos juntos, não é ser conformista, e nem ser mais otimista, é ser realista mesmo.

Não sei se vocês conhecem a estória do empresário que mandou 2 vendedores pra uma determinada região vender sapatos. Na volta os dois trouxeram seus relatórios. O primeiro entrou na sala e começou com a lamentação, poxa o senhor me mandou vender sapatos num lugar onde ninguém usa sapatos, cheguei lá e nem ofereci pra aquele povo, impossível, lá, ninguém usa sapatos. É uma injustiça o senhor cobrar que eu venda sapatos naquela região.

Ok! Entra o outro vendedor todo alegre, havia ido para a mesma região, e o relatório era todo otimista, diz ao chefe: Acabamos de achar uma mina de ouro, vamos vender muitos sapatos, acredita que lá, todo mundo anda descalço?

Percebe a diferença de olhar para a mesma situação? A tal história do copo com água pelo meio, pra você ele está meio cheio ou meio vazio?

Não sei quantas pessoas irão ler esse texto, mas tenha certeza, você que está lendo agora, não é nada diferente de todos os outros que também estão lendo, são todos cheios de problemas, e com suas “histórias injustas”.

Definitivamente a vida não é fácil, é uma viagem onde a paisagem à volta muda, mas cada um olha para o lado que quiser. Te sugiro que quando a paisagem do lado direito mudar, olhe para o lado esquerdo.

Se livre da revolta, antes que ela te induza a vingança…

As coisas andam tão estranhas, que se continuar assim, logo teremos gente querendo se vingar de Deus, simplesmente pelo fato de ter-lhe dado a vida.

Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”

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