SOBRIEDADE JÁ

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Carlinhos Marques - Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai

SABER OU FAZER O QUE TEM QUE FAZER?

Já pensou se a gente parasse de dizer o que tem que ser feito, e começasse a dizer como tem que ser feito, o que tem que ser feito?

Pode parecer complicada a frase, mas não, o mundo é cheio de especialista em tudo. Sinceramente, criei essa frase ouvindo propaganda eleitoral. Lá todo mundo sabe o que precisa se fazer, agora como fazer…

Em uma festa de aniversário, todo mundo diz que precisa fazer um bolo, mas quantos sabem a receita do bolo? Pensando bem, só passar a receita também, não é suficiente, o ideal mesmo é fazer o bolo né?

Resumindo: tem muita gente dizendo o que precisa fazer, alguns até dizendo como fazer, poucos fazendo, e quase todo mundo reclamando do que não é feito, e do como é feito.

DESCULPE O TRANSTORNO ESTOU EM REFORMA

Participo de um retiro que é feito em vários lugares, o último que participei foi em Campo Grande, que se chama Ágape Terapia.

Se vocês não conhecem, depois façam uma pesquisa, é um projeto interessante de espiritualidade e autoconhecimento.

Lá nós usamos uma camiseta com uma frase muito pertinente, diz assim: “Desculpe o transtorno, estou em reforma.”

É uma forma criativa, de dizer que nós, seres humanos, estamos em processo constante de mudanças, pelo menos deveríamos estar.

Nessa dinâmica, somos os que usam a camiseta, com a frase, e aqueles que leem a camiseta nos outros.

E isso deve nos remeter a uma tolerância à mudança do outro.

Incomoda a auto reforma, mas incomoda a reforma do vizinho também.

A verdade é que, como filhos de Deus, somos perfeitos, porém não somos prontos, estamos em construção.

QUEM NÃO ENTENDEU LEVANTA A MÃO

Lembro que na escola, quando um professor fazia uma explicação de alguma coisa mais complicada, no final fazia a pergunta: “Todo mundo entendeu?”

Normalmente, ficava aquele silêncio, mesmo que não tivesse entendido. A gente tinha vergonha de admitir que não tinha entendido, porque poderia passar para o restante do grupo uma limitação.

E olha, se alguém levantasse a mão e dissesse: “Eu não entendi, professor.” Corria o risco de a classe toda rir dele, mesmo se a classe toda não tivesse entendido também.

Talvez isso tenha trazido para nossa vida adulta, a insegurança de hoje não levantar a mão e dizer: “Sim, eu não entendi.” “Eu não concordo.” “Eu não quero.”

Mas, com a impressão de que todos a sua volta tenham concordado, acabamos ficando calado, concordando sem concordar.

FALAR A MESMA LÍNGUA

Uma vez perguntaram ao Padre Anchieta, se não me engano: Qual era o segredo da relação harmônica dele com os índios? Como ele conseguia a convivência com quem nunca tinha tido contato com civilização?

A resposta dele foi simples e sensacional, ele disse: “Eu falo a língua deles.”

E aí não se tratava em ter aprendido o idioma deles, falar a língua deles é se mostrar o máximo em estado de igualdade, de usar o idioma universal do respeito, da tolerância da empatia.

Talvez os pais hoje não conseguem o respeito, a admiração dos filhos, porque não falam a língua dos filhos.

Nada a ver em usar gírias ou uma linguagem adolescente, é falar o idioma universal para um pai e uma mãe, o idioma do exemplo.

NÃO ESTOU VENDO

Você já deve ter visto uma criança tapando os olhos e imaginando que, porque ela não está te vendo, você também não a está vendo.

É até engraçado, lembro de brincar assim com meus sobrinhos. Na sua inocência ela imagina: “Não vejo, também não estou sendo vista.”

Acontece que nós depois de crescidinhos, acabamos fechando nossos olhos, ou colocando um pano sobre eles, crentes que como não estamos querendo ver, os outros também não estão vendo.

Baita engano né? A realidade existe, e não adianta esconder-se dela.

No caso das crianças é aceitável, um dia crescem, vamos contar isso a elas e rir juntos.

Agora, você que já cresceu, não dá mais pra tapar os olhos, tentando esconder a realidade, achando que ninguém vê.

Por Carlinhos Marques

Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”

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