SOBRIEDADE JÁ

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Carlinhos Marques - Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai

VIDA MUITO CHEIA, PODE FICAR VAZIA…

Pode parecer contraditório, mas uma vida ocupada demais, uma vida cheia de preocupações e compromissos demais, normalmente se tornar sem sentido.

Resumindo: uma vida cheia demais, pode se tornar uma vida vazia…

A gente precisa se lembrar que o mundo é muito maior do que nosso escritório, nosso quarto, nossa sala de TV. Quantos com vida cheia de nada, pessoas que se procuram e não se encontram, vivendo cheios de virtualidade e vazios de realidade, ou melhor, vazios de essencialidade.

Vivemos em casas maiores, de repente só pra sobrarem mais lugares vazios de gente.

Somos quase que obrigados a multiplicar tesouros, mas pra isso a gente divide relacionamentos, soma mais maldade e subtrai alegrias, e o resultado final dessa equação é a solidão, e um resto de vida cheia de vazios.

ONDE ESTAVA DEUS?

Tem um filme de mais de 20 anos atrás muito assistido até hoje, onde uma cena chama atenção, é quando um condenado a morte recebe a visita de um padre para dar a última unção.

O pai da vítima todo irritado diz ao padre: “Onde estava o seu Deus quando esse monstro matou minha filha?”

Pergunta difícil né? Mas a resposta eu nunca esqueci, o padre disse assim: “Estava no mesmo lugar onde ele estava quando mataram o filho dele.”

Isso pode passar a ideia da indiferença de Deus em relação a essas tragédias, mas a mensagem real é de que, em tudo existe um propósito divino, na morte de Jesus houve a ressureição, e São Paulo diz com todas as letras: “Em tudo daí graça!”.

Então a fé é exatamente isso, aceitar mesmo sem entender.

NO MEIO DO MILAGRE HAVIA UMA PEDRA…

Sempre digo aqui na comunidade que pra tirar alguém das drogas, só um milagre.

E nós não fazemos milagres, só sabemos quem faz.

Acontece que a gente imagina que nosso papel no milagre é só pedir e esperar. Negativo, precisa de ação também.

Veja que em um dos milagres mais conhecidos, a ressureição de Lázaro. Jesus chega diante do túmulo e diz: “Tirem a pedra”.

Ora, aquele que vai mandar um morto há 4 dias sair do túmulo, não poderia dizer a pedra: “Sai da frente, sua pedra”.

Plasticamente o milagre seria até mais emocionante, mas Jesus quis dizer que tirar a pedra nós conseguimos, é o possível, ressuscitar o morto não, ou seja, a minha e a sua parte.

Talvez o milagre que você espera não aconteceu porque você ainda não tirou a pedra.

PEIXE COM OU SEM RABO?

O questionamento, a verbalização da dúvida, é um caminho para a sabedoria, as vezes a gente não acredita em algo, porque não questiona o suficiente para entender e aí acreditar.

Se tivesse simplesmente aceito tudo, o homem estaria vivendo no escuro até hoje, mas alguém questionou o escuro e inventou a lâmpada.

Faz tempo ouvi uma estória sobre isso. Dizem que a filha questionou a mãe porque ela contava fora o rabo do peixe quando ia assar.

A mãe disse: “A minha mãe fazia assim.” Mas a menina insatisfeita foi perguntar para a avó, que disse a mesma coisa: “Minha mãe fazia assim.”

A menina não desistiu e foi perguntar pra bisavó: “Porque a senhora cortava o rabo do peixe para assar?”

Aí a nona com toda simplicidade disse: “Ah filha, e que não cabia na minha assadeira.”

Às vezes a gente acha que determinadas coisas são imutáveis, porque nunca questionamos porque são assim.

VOCÊ CONTA ESTÓRIA, OU FAZ A HISTÓRIA?

Você já deve ter percebido que pessoas que falam que fazem, normalmente não fazem, e aquelas que fazem mesmo, normalmente ficam mais quietas, são mais discretas.

Faz parte da necessidade do que não faz, falar que faz, para se auto afirmar, parece que se realiza se ouvindo e fazendo outros ouvir suas estórias.

Então a verdade é que existem pessoas que fazem história, e pessoas que contam estórias.

Os que fazem podem até contar também, agora os que só contam não fazem.

Uma vez perguntaram a Millôr Fernandes, o que ele gostaria que escrevesse no tumulo dele, a resposta dele foi sensacional, ele disse: “Escrevam – Ele não está aqui.”

E onde ele estaria então?

Como todo mundo, estará onde suas digitais tocaram, onde deixou marca participando e fazendo história, e nunca por ter simplesmente contado a história.

Por Carlinhos Marques

Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”

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