SOBRIEDADE JÁ 

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Carlinhos Marques - Presidente Fundador do INSTITUTO NOVO SINAI - Foto: Reprodução

O ANTES E O DEPOIS DE CRISTO EM VOCÊ

A história da humanidade se divide em duas partes bem definidas: antes e depois de Cristo.

O nascimento de um Menino simples, deitado numa manjedoura improvisada, foi suficiente para bagunçar impérios, reposicionar valores e obrigar o mundo a se reorganizar. A história precisou parar, respirar e recomeçar. 

Mas a pergunta mais importante não é histórica. É pessoal. 

Cristo já conseguiu dividir a sua história em duas partes? 

Porque uma coisa é mudar o calendário, trocar A.C. por D.C. Outra, bem mais profunda, é permitir que a própria vida seja atravessada por esse divisor. Antes de Cristo, a gente até caminha, mas muitas vezes em círculos. Muito esforço, pouco sentido. Muito barulho, pouca direção. 

Depois de Cristo, a porta realmente ficou mais estreita — ninguém prometeu que seria confortável — mas é a porta certa. Antes, poder era força, domínio, imposição. Agora, poder tem outro nome: amor. Antes, vencia quem esmagava. Agora, vence quem perdoa. 

Cristo não pode ser só uma lembrança no calendário, um feriado religioso ou um enfeite de dezembro. Ele precisa ser um ponto de virada. Porque o verdadeiro Natal não é quando Cristo nasce no mundo, mas quando nasce em você. E, a partir daí, sua história passa a ser contada de outro jeito. 

“Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura; passou o que era velho, eis que tudo se fez novo.” (2 Coríntios 5,17)

FIZ ANIVERSÁRIO, E ME ABRAÇASTES

Quando alguém faz aniversário, a gente deseja feliz aniversário, abraça, dá presente. 

É quase automático. 

Mas então vem o Natal, e algo curioso acontece. 

A gente presenteia, abraça amigos, familiares — às vezes até estranhos — sendo que, afinal de contas, o aniversário é de Jesus. Já reparou nisso? 

Mesmo sem perceber, estamos dizendo algo profundo: estamos afirmando que vemos Jesus no outro. Ou, pelo menos, deveríamos ver. 

Foi o próprio Jesus quem nos ensinou esse olhar quando disse: “Estive com fome e me destes de comer, nu e me vestistes, preso e me visitastes.” 

Ele não disse literalmente: “Fiz aniversário e me destes um presente, um abraço.” 

Mas convenhamos,  dá pra intuir, né? 

E como os apóstolos, talvez a gente também perguntasse, meio confuso: “Mestre, quando foi que fizeste aniversário? e eu te abracei?” 

E Ele responderia com a mesma clareza desarmante do Evangelho: 

“Todas as vezes que abraçastes um destes pequeninos, foi a mim que o fizestes.” 

No fundo, é isso. Todo abraço verdadeiro dado ao outro é um abraço na imagem e semelhança de Deus que habita nele. 

Natal, então, deixa de ser só uma data e passa a ser um gesto. 

“Todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes.” (Mt 25,40)

O DEUS PRESENTE, OU O PRESENTE DE DEUS? 

Quando você era criança — coisa de seis ou sete anos — imagine essa pergunta no Natal: você prefere seu pai presente em casa, sem ganhar nenhum presente, ou uma árvore lotada de caixas coloridas, mas sem o pai ali?

Sendo bem honestos, a maioria de nós, naquela época e talvez as crianças de hoje, ainda escolheria os presentes. Papel brilhante encanta mais do que presença silenciosa. O problema é que a gente cresce, mas nem sempre amadurece. Talvez nosso comportamento não tenha mudado tanto assim. Ainda temos dificuldade de escolher a bênção da presença. Preferimos a bênção do presente. Queremos o que Deus pode dar, mas nem sempre o Deus que se faz presente. Afinal, Deus presente pode incomodar. Ele questiona, confronta, não combina com qualquer ambiente, nem com qualquer discurso pronto.

Há quem queira a cura de Deus, mas dispense o Deus que cura. Quem peça a bênção, mas evite o relacionamento. Quem queira milagres rápidos, mas sem intimidade, sem cruz, sem compromisso. É uma fé que ama os efeitos, mas rejeita a fonte. No fim, presença vale mais que embrulho. Deus não quer ser apenas útil; quer ser próximo. E isso muda tudo. 

“Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.” (Mateus 28,20)

O BOM LADRÃO, MAS ISSO EXISTE? 

“Bom ladrão” é uma expressão curiosa, para dizer o mínimo né. Conheço bom médico, bom professor, bom músico, agora, bom ladrão? Será que é o que rouba menos? Ou o que pede desculpa depois que rouba?

Brincadeiras à parte, ladrão nunca será bom. Assim como o homem, por si só, também não é. A não ser quando decide se colocar ao lado do Crucificado. Ali, pendurado na própria miséria, o homem para de se justificar e começa a se reconhecer. Assume limites, erros, falhas, e admite algo essencial: toda virtude, toda salvação, vem do alto. 

Homem bom, no sentido pleno, não existe. Mas pode se tornar. E, nesse caminho, ouvir o que nenhum currículo religioso garante: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso.”  

Não somos salvos por desempenho, mas por misericórdia. E a misericórdia só alcança quem admite que é: bons mentirosos, bons orgulhosos, bons incrédulos, bons em muita coisa errada. 

São Dimas não foi bom porque roubou menos, mas porque confessou mais. Ele não apresentou méritos, apresentou verdade. E isso bastou. 

“Hoje estarás comigo no paraíso.” (Lucas 23,43)

O DIVINO HUMOR DO AMOR 

Padre Léo costumava dizer que Jesus tinha uma virtude pouco percebida: o bom humor. Basta lembrar quando Jesus pergunta ao cego: “O que queres que eu te faça?” Ora, era óbvio! Enxergar. Mas Jesus pergunta mesmo assim, porque Deus nunca trata pessoas como casos óbvios. 

E aí vem um dos momentos mais genialmente irônicos do Evangelho. Séculos antes de Cristo, existiam 613 mandamentos. Com Moisés, viraram dez. Aí Jesus chega e resume tudo em um só: o amor. A sensação inicial é de alívio — de 613 para 1! — mas logo percebemos: esse um dá mais trabalho que todos os outros juntos. 

Porque amar cansa. Amar exige. Amar dói. E Jesus não avisou que seria fácil. Quem ama sofre. Mas quem não ama também sofre — só que por não amar. Um sofrimento cura. O outro apodrece. 

No fim, é escolher o cansaço: correr atrás de algo que vale a pena, ou se cansar correndo em círculos. Cabe escolher. sofrer por amar, ou sofrer por não amar.  

“Amarás o Senhor teu Deus… e ao teu próximo como a ti mesmo.” (Mateus 22,37-39) 

Por: Carlinhos Marques 

Presidente Fundador Instituto Novo Sinai, idealizador projeto “Sobriedade Já” 

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