MEDO DA LUZ É PIOR QUE MEDO DO ESCURO
Não espalha não, mas quando eu era pequeno, morria de medo do escuro.
Era difícil, viu? Chorava, chamava mãe, pai, cachorro, anjo da guarda. E até que era compreensível: temer o que não se vê é quase natural. O escuro dá margem à imaginação, e a mente, quando não vê, inventa.
Mas sabe quando a coisa fica realmente triste? É quando, já adultos, passamos a ter medo da luz. Sim, medo luz. A luz que revela, escancara, mostra o que está torto. Ilumina o canto da alma para onde a gente varreu a sujeira.
E aí incomoda. Porque a luz expõe o que a gente queria esconder. Não dos outros, mas de nós mesmos.
Muita gente escolhe viver no escuro, porque no escuro ninguém repara a bagunça. No escuro, o espelho não reflete, o defeito não aparece, e o erro parece menos erro — porque ninguém vê.
Mas cuidado: fugir da luz é só uma forma educada de evitar a verdade. E evitar a verdade, é só uma forma disfarçada de covardia.
E mais: quanto mais evitamos a luz, mais tropeçamos na escuridão. O problema nunca foi a queda — foi não ter coragem de acender a lâmpada antes.
“Quem faz o mal odeia a luz, para que suas obras não sejam reveladas.” (Jo 3,20).
MAS TAMBÉM É SÓ O QUE EU ACHO, TÁ?
Hoje em dia todo mundo acha alguma coisa. Tem tanto “eu acho” por aí que parece até que o mundo virou uma sala de achados e perdidos. Perdemos a profundidade, e achamos que sabemos de tudo. Tem gente formada em “achologia”, bacharel em Facebook, doutor em Instagram. Ve uma frase solta num story e já sai publicando um tratado filosófico, e ainda termina com um “faça sentido pra você”.
Só que quando se acha demais, não sobra espaço para saber de verdade.
Resumindo: sabe-se pouco sobre muita coisa. Um oceano de informações, com um palmo de profundidade.
É como tentar nadar de colete salva-vidas dentro de uma poça, poucos têm coragem de mergulhar fundo, porque mergulhar exige fôlego, e exige algo raro: coerência.
Porque quando você mergulha, se molha. E ninguém quer sair pingando as próprias contradições por aí.
Essa mania de viver na superfície atrapalha até nosso autoconhecimento. Tem gente que conhece mais o próprio feed do que a própria alma. Fica preso ao que publica, e esquece de quem é de verdade. Acha que parecer sábio é o mesmo que ser. Mas não é o mesmo hein.
“O homem sábio oculta a sabedoria; já os insensatos propagam a tolice.” (Pr 12,23)
MATE OS MAUS SENTIMENTOS EM LEGÍTIMA DEFESA
Sabia que o Código Penal Brasileiro, e até o Catecismo da Igreja Católica, admitem que, em legítima defesa, tirar a vida de alguém não é crime, nem pecado? Agora pensa: e quando quem nos agride somos nós mesmos?
Falamos tanto sobre se armar ou se desarmar, mas quase nunca aprendemos a nos defender de nós mesmos.
E seguimos armados por dentro, carregando o veneno silencioso da mágoa, da inveja, do orgulho, do ciúme, do ressentimento.
Sentimentos que, se não forem mortos, acabam nos matando. Vão corroendo devagar. Primeiro, o ânimo. Depois, a fé.
E quando a gente percebe, está cínico, duro, incapaz de amar. Por isso, se for para matar, que seja assim: mate os maus sentimentos,
em legítima defesa da sua paz. E lembre-se: perdoar não é ser fraco, é ser forte o suficiente para não carregar o veneno alheio no seu sangue.
“Abandonai tudo isso: ira, animosidade, malícia, maledicência e palavras torpes da vossa boca.” (Cl 3,8)
SE JULGA O PEIXE POR NÃO SUBIR NA ÁRVORE, E O MACACO POR NÃO NADAR
Já reparou que a vida virou um tribunal? Vivemos julgando, e sendo julgados. Réus e juízes ao mesmo tempo.
E como gostamos de dar sentença, né? Certa vez assisti a um júri popular, de um lado, a promotoria acusando com veemência, do outro, a defesa argumentando.
Na vida também é assim: uns acusam, outros defendem e a opinião pública acaba dando o veredito. Mas gente, o veredito com base em quê? Em manchete? Em fofoca? Em print fora de contexto?
Às vezes julgamos o peixe por não subir em árvore, E o macaco, por não nadar, e esquecemos que cada ser vive de acordo com o que recebeu. Tem gente que faz muito com pouco que tem, e mesmo assim é criticada. Outros que têm tudo, e ainda reclamam até do vento. Jesus nos ensinou que julgar sem misericórdia, é plantar o próprio julgamento.
“Como julgardes, assim sereis julgados.” (Mt 7,2)
HUMILDADE NÃO É HUMILHAÇÃO
Tem gente que não consegue ser humilde porque acha que humildade é se rebaixar, confunde virtude com humilhação, mas são coisas bem diferentes, humildade é joelho no chão, humilhação é rosto no chão, empurrado, às vezes, pela mão de alguém, ou pela sua própria. O humilde não se ofende fácil, aceita conselho, sabe aprender. Já o orgulhoso acha que toda crítica é ataque pessoal, vive na defensiva, e por isso não cresce.
Santo Agostinho dizia: a humildade é o antídoto do orgulho. E o orgulho é um veneno doce que intoxica devagar.
Jesus foi direto ao ponto, e disse: “Vinde a mim, porque sou manso e humilde de coração.” (Mt 11,29).
E guarde isso: Ser humilde com superiores é obrigação, com os iguais, é elegância, mas ser humilde com os pequenos, é nobreza.
E essa nobreza não se aprende em livro, é dom, é escolha, é graça.
Por: Carlinhos Marques
Presidente Fundador Instituto Novo Sinai, idealizador projeto “Sobriedade Já”
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