Regina Hercos –
Quantas vezes, na pressa de realizar algo urgente, não vemos? Você já perdeu seus óculos, e depois de tanto procurar, descobriu que estava onde sempre deveria estar, em sua face? Já cansou de procurara a chave para sair, e não encontrou, e com apenas um movimento, sua mãe a encontra magicamente? São tantas situações que nos ocorrem, que não conseguiria descrever todas por aqui. Eu sei, você sabe, que acontece com todos, e em alguns momentos de nossa vida, mais ainda. Em momentos de turbulência, de agitação, fica mais evidente, nossa falta de tato, ou seria de visão, perante os acontecimentos, perante nós, perante o mundo. E os sinais começam, por exemplo, por uma perda de óculos. Não conseguimos enxergar o óbvio, que dirá o essencial. No mundo onde estamos, somos convidados ao convívio social, e não necessariamente estarmos presente fisicamente, (em tempos de pandemia), estamos muito mais presentes nas mídias, que não deixa de ser um convívio. E estamos por ali, trocando com outros seres, para aperfeiçoarmos nossa própria evolução. E esse convívio, na maioria das vezes, é conflitante, como é o contato físico com os nossos mais chegados. Começamos ficar muito tempo com nosso marido, já sai faísca. Quantos relatos já te chagaram dessa mesma natureza que narro agora? É o comum, não deveria ser o normal. Acho eu que pecamos em nossas aulas de português, de interpretação de texto. Quando não perguntamos o suficiente, quando fomos embora com dúvidas. Pecamos ainda quando não entendemos uma palavra, e não procuramos sua definição, seu significado, naquilo que antes, chamávamos de dicionário, Wikipédia hoje em dia. Saber o significado das palavras, dos sentidos, das pessoas, da vida, é o que traduz nossa existência. Muitas vezes não perguntamos por medo. Medo de parecermos ridículos, medo do julgamento do outro, medo. O medo é o que nos aprisiona. E para parecermos os sabidos, vamos embora sem saber o que significa. Passamos uma vida sem sabermos o que significamos, por medo. Por medo, por ignorância não nos permitimos evoluir. Não permito-nos ser melhores, para nós, para o outro, para o universo. Tememos descobrirem que não sabemos tudo, ou descobrirem que não sabemos quase nada, e por isso mesmo estamos aqui. Por isso situações se repetem constantemente, para aprendermos o que ainda não aprendemos em cada lição que a vida nos oferece. Somos míopes diante do que se revela diariamente. Sim, para quase toda maioria, não serviriam óculos, precisaríamos de lupas, claro. Lentes de aumento que nos ajudassem enxergar o que tanta claridade ofusca nossa santa ignorância. E isso não é privilégio de poucos, não. Somos muitos os necessitados, assim como eu. Talvez você não seja um desses. Você já compreendeu sua existência, conseguiu decifrar seus códigos secretos, e como um sopro leve de brisa, segue seus dias emanando paz e luz por onde segue. Creio que quase todos nós que por essa terra vivemos, não alcançamos um nível desses de graça, ainda. Estamos a caminho. E por enquanto, necessitamos do auxílio de lupa para irmos nos guiando. Agradecendo aos que vão iluminando nossa passagem, aos que colocam obstáculos, para desenvolvermos habilidades que até então não possuíamos. Todo desafio te revela algo novo, algo que precisava saber e que não possuía. Toda “pedra no sapato”, pode te elevar, se você souber o significa dela para você. Talvez, e só talvez, não podemos esquecer o nosso significado. E esse, muitas vezes não é tão bonito de ser exposto, a nós mesmos. Por que não sabemos quem somos, ou se sabemos, é um resultado horrível para ser exposto a olho nu. Então preferimos nos esconder, e ridicularizamos o resultado do outro; diminuímos, humilhamos. Repare, quando não gostamos de algo no outro, muitas vezes é porque detestamos isso para nós. E isso só nos revela, não é sobre o outro, é sobre nossa verdade. Se conhecer dói, muitas vezes, revela algo feio em nós, e isso é bom. Por que teremos a oportunidade de tornarmos bonito, melhores. Não sabermos nosso significado, por medo de nós mesmos é nossa perdição. Nosso maior obstáculo em direção ao nosso melhor, somos nós mesmos, nós e nosso ego, nós e nosso umbigo. Ouse olhar para dentro, ainda que com lupa, mas olhe, e descubra de onde vem sua inspiração de ser. Só deixo uma dica, se assim permitirem, nosso coração possui 5.000 vezes mais energia que nossos pensamentos, vale a pena pensar e deixar sentir, o que pretender realizar e ser. Apenas seja, porque querendo ou não, todos nós, um dia, passaremos, e o que deixaremos?
• Regina Célia Viscardi Hercos – Escritora do livro: Quando Toca o Telefone