Política para quem?

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Já se tornou um clichê a famosa frase de Aristóteles de que “o homem é um animal político”, escrita logo no início do seu livro A Política.

A frase é muitas vezes mal interpretada, pois parece que o ser humano nasceu para a política partidária e para se candidatar, o que não é o caso.

As cidades da Grécia Antiga eram chamadas de cidades-Estado, ou seja, é como se cada “município” fosse um país em si mesmo, dotado de produção de leis e de sua própria execução. Não se tinha a ideia de país que temos hoje. E essas cidades eram chamadas de Pólis.

Ser “político” no sentido que Aristóteles colocou, significa que as pessoas são destinadas à vida na Pólis e à vida em sociedade. De maneira mais bonita, somos animais gregários.

Apesar de a democracia direta ter berço em Atenas, uma das cidades-Estado, mesmo lá, só quem podia participar da vida política, leia-se, das questões públicas, eram os homens mais ricos; não participavam as mulheres, os pobres ou os escravos.

Ou seja, participar das decisões da vida pública através da política, desde 2500 anos, e passando pela história do Brasil colônia, império e parte da República, sempre foi considerado algo nobre e que deve ser disputado pelos cidadãos.

Onde e quando houve uma guinada para o sentido da criminalização da política e dos políticos? Talvez com o foco midiático dado à corrupção nas últimas décadas e também pela crise da representatividade democrática.

Aquilo que era nobre, passou a ser “coisa de bandido”, afastando ainda mais os honestos e aqueles que querem contribuir. Parece até proposital.

A sociedade está cada vez mais complexa, com muitas questões novas a todo momento, e os poderes públicos não estão acompanhando esse ritmo, gerando sua ineficácia e uma desconfiança. Daí surgem as “balas de prata” populistas com soluções simples para problemas complexos.

Afunilando ao nosso município, saímos da última eleição municipal em 2020 com uma das maiores abstenções no pleito eleitoral e este fato dá indícios de uma aversão ao mínimo que se espera de um cidadão, que é comparecer às urnas a cada dois anos.

Se muitas pessoas estão preferindo pagar uma multa e não exercer seus direitos políticos conquistados a duras penas ao longo da história, transparece-se uma descrença muito grande e uma baixa preocupação com a vida coletiva.

Mas não há esperanças? Penso que sim.

Neste ano já tivemos votação para alguns cargos eletivos, que teve grande cobertura jornalística e participação social, que foram as eleições para o conselho tutelar e para a diretoria do clube de campo Assary no último domingo.

Poucas vezes houve duas chapas para disputar a diretoria do clube e desta vez, quase 60% dos associados aptos a votar compareceram, apesar de não ser obrigatório, o maior índice dos últimos tempos.

Penso que esta escalada de participação popular nas questões públicas, com um aumento da cidadania e de um fortalecimento da democracia, terá bons reflexos na eleição para prefeitos e vereadores no ano de 2024, com boa participação, engajamento e discussão de propostas para nossa cidade.

Afinal, quem não gosta da política, acabará sendo governado por aqueles que gostam dela. Então, participemos ativamente.

Bruno Arena: Mestre em Direito Penal e Humanos pela Universidade de Salamanca (Espanha). Especialista em direito penal e direito eleitoral. Presidente do Rotary Club Votuporanga 2022/23. Vice-Presidente da ACILBRAS. Membro do Observatório da Democracia. Proprietário do Cine Votuporanga.  Autor e tradutor de livros. Advogado. Instagram @adv.brunoarena.