Paixão no compasso da tragédia

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Dirigida por Lawrence Garcia, La Ultima Torada nasce da parceria entre a Cia Apocalíptica, o Núcleo de Arte Flamenca e Latina, de Flávia Piquera, e o percussionista Kauê de Oliveira, responsável pela direção musical. (imagem divulgação)

Espetáculo La Ultima Torada une teatro, música ao vivo e dança flamenca em uma releitura contemporânea da ópera Carmen, de Georges Bizet. A encenação reúne 20 artistas em narrativa marcada por desejo, liberdade e conflito.

 

A montagem é marcada por música ao vivo, um potente corpo de baile flamenco e cenas que exploram a intensidade e a dramaticidade. (foto Cia Apocalíptica)

@caroline_leidiane

Na linha tênue entre gesto e silêncio, sobrepondo corpo e palavra, existe uma arte que arde. É ali, onde o ritmo dos pés encontra a dor contida no canto, que o flamenco se enreda ao teatro e transforma cena em destino.

Hoje (19), o Centro de Convenções “Jornalista Nelson Camargo” abre as portas para um encontro de intensidade artística com o espetáculo La Ultima Torada, da Cia Apocalíptica.

A montagem é uma livre adaptação da ópera Carmen, de Georges Bizet, e reúne, entre atores, músicos e bailaores, 20 artistas em cena; vindos de São José do Rio Preto, Atibaia e até do Uruguai. Com duas sessões gratuitas, às 16h e 19h, o espetáculo une a expressividade do teatro contemporâneo à visceralidade da dança flamenca.

Com direção de Lawrence Garcia, a criação nasce da parceria entre a Cia Apocalíptica, o Núcleo de Arte Flamenca e Latina (dirigido pela coreógrafa Flávia Piquera) e o percussionista Kauê de Oliveira, que assina a direção musical.

A música ao vivo juntamente com a dança são elementos centrais do espetáculo, que aposta numa encenação sensorial para contar a história de uma mulher apaixonada e indomável, desafiadora de convenções sociais.

“La Ultima Torada nasce do desejo de unir duas linguagens intensas: o teatro e o flamenco”, explica o diretor Lawrence Garcia, à frente da companhia rio-pretense há 16 anos.

Segundo ele, é uma criação cênica que transborda emoção ao misturar dramaturgia, música ao vivo e dança flamenca, já que a fusão dessas artes constrói uma narrativa em que a dança também sustenta o conflito.

A trama gira em torno de Carmen, uma cigana sedutora e de espírito livre, que desafia as normas e os limites impostos pela sociedade. Ela tem rebeldia própria e arrasta consigo amores, conflitos e tragédias. A dança flamenca é a espinha dorsal do espetáculo, visto que não apenas acompanha a narrativa, mas é a narrativa. As coreografias expressam estados emocionais, tensões dramáticas e os desdobramentos do triângulo amoroso.

Inspirado pela personagem Carmen, símbolo de força e transgressão, o diretor buscou no flamenco a linguagem ideal para traduzir o universo simbólico de vitalidade feminina.

“A união dessas referências foi motivada pela busca por uma linguagem cênica que pudesse, ao mesmo tempo, emocionar, provocar e celebrar o encontro entre culturas”, comenta Garcia.

O corpo de baile é formado por artistas com trajetória internacional, vindos de diferentes cidades. A direção flamenca é de Flávia Piquera, referência no flamenco contemporâneo brasileiro, que integra também convidados do Uruguai e intérpretes de São José do Rio Preto. Já o núcleo teatral reúne atores e músicos da Cia Apocalíptica, conhecida por suas montagens autorais e ousadas, que exploram o teatro físico, a música ao vivo e a poesia de cena.

“O flamenco é visceral, emocional, combativo. Ele carrega em seu ritmo e gestual a tensão dos conflitos humanos. Em La Ultima Torada, o flamenco dá corpo à obstinação de Carmen, à sua paixão e também ao seu destino trágico. A dança se torna uma linguagem de resistência, desejo e afirmação de identidade, tudo aquilo que define essa personagem icônica”, salienta o diretor.

O projeto foi contemplado pelo edital de Difusão Cultural do ProAC SP (Programa de Ação Cultural), que é uma iniciativa da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. Graças ao subsídio, neste ano, serão realizadas 14 apresentações, em diferentes cidades paulistas, com acesso gratuito ao público.

“Além do apoio do ProAC, o espetáculo contou com a parceria de espaços culturais locais, colaboração entre coletivos artísticos independentes e o engajamento de profissionais que acreditam no potencial transformador da arte. Muitos envolvidos atuaram de forma colaborativa, fortalecendo a produção independente”, celebra Lawrence.

A estimativa é que, com a circulação ao longo de 2025, La Ultima Torada alcance mais de cinco mil espectadores. A estreia em Votuporanga representa uma convocação sensível ao público para viver essa imersão dramática.

“Pode esperar uma experiência intensa, sensorial e profundamente artística. Um espetáculo que atravessa culturas, que emociona com sua música ao vivo, encanta com a força do flamenco e instiga com uma história que, embora inspirada em uma obra clássica, fala diretamente com o presente. É um convite à emoção, à reflexão e ao encantamento”, antecipa o diretor.

Em tempos marcados por velocidade, exaustão e fragmentação dos afetos, La Ultima Torada incita celebrar a arte como gesto de resistência, em um palco onde desejo, liberdade e tragédia dançam no compasso da paixão.

 

SERVIÇO

La Ultima Torada

Dia: Hoje (19), em duas sessões: às 16h e 19h

Local: Centro de Convenções “Jornalista Nelson Camargo”

Entrada gratuita: acessar QR Code da imagem para reservas

Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos.