Camões já tentou responder à essa pergunta. Acredito que não tenha tido tanto sucesso, ou, talvez, essa fosse a intencionalidade por traz do poema. Seja como for, o importante é navegar pelas palavras, rimas e sonoridade, tentando desvendar um dos maiores mistérios do universo.
Seria cômico se eu, em completo anonimato literário, tentasse tal proeza. Ainda assim, abusada como sou, tentarei nesses pequenos parágrafos explicar o que é, para mim, o amor.
Amor. Substantivo masculino abstrato. Sim, aquele que não damos forma, nem sabemos desenhar, que não é palpável. A definição do dicionário é rasa: “sentimento que faz com que uma pessoa queira bem a outra”. Ora, na minha opinião, não basta querer bem, mas sim reunir em um só sentimento todos os sinônimos constantes desse verbete.
Sabemos o que é o amor quando sentimos afeto e amizade sincera. É possível amar os amigos? A resposta é sim. Tanto que um dos primeiros quesitos para um amor “amoroso” é a amizade.
É preciso ter devoção, adoração e zelo pelo ser amado. Não basta dizer que ama, é necessário cuidar daquele que adoramos. Os cuidados vão desde um cafezinho pela manhã, até uma massagem após um dia árduo de trabalho. A cinestesia é uma das formas mais óbvias de demonstração de amor. Não para todos, mas para a maioria. Quanto tempo você está dedicando para fazer algo que demonstre esse sentimento?
A ternura na voz, no tratamento e no olhar, além da afinidade de desejos, planos, metas é outra métrica bastante interessante para se saber amado ou que está amando. Quanto tempo você está usando para planejar um futuro conjunto? Quanto de você é dedicado a agradar ao outro?
Ah! A benquerença. Já ouviram essa palavra? Tenho certeza de que já ouviram na voz do maravilhoso cantor Djavan “Meu bem-querer, é segredo, é sagrado, está sacramentado em meu coração”. Quão sólido é o seu querer?
Quando se ama de verdade o mal não toma forma. Os pensamentos ruins, os momentos de raiva e cólera se dissipam com o encontro de costas na hora de dormir. Como disse meu finado tio Carlos, nos primeiros anos do meu casamento: “Vocês podem discutir durante o dia, mas, à noite, quando forem dormir, a cama não pode aceitar maus pensamentos. É pezinho com pezinho, joelhinho com joelhinho e pronto. Nunca durmam brigados, ouviram?!”.
Isso não quer dizer que devamos aceitar toda e qualquer tipo de humilhação e desaforo. É exatamente o contrário disso. Quer dizer que, se alguém te ama e se você também nutre esse sentimento, tais acontecimentos serão leves e logo encontrarão resolução com diálogo e carinho. Nunca serão constantes e sofridos. Se o forem…
E claro, não poderíamos deixar de falar da paixão, outro sinônimo muito usado, mas que não chega aos pés do amor. A paixão, a atração e o desejo fazem parte desse sentimento tão nobre e de difícil definição. É querer estar perto, sentir o entorpecimento de uma ressaca e um olhar “com olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, como já dizia Machado de Assis.
Só sei que o amor é mais que sinônimos. Amar é ato de dedicação constante. Impossível definir o amor em uma só palavra que não seja ela mesma. Indefinível e eterna. É algo que, como diz a música do Cidade Negra, “não se pede, não se mede, não se repete”.
Pablo Neruda traduziu em versos esse sentimento avassalador: “Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde; amo-te diretamente sem problemas nem orgulho: amo-te assim porque não sei amar de outra maneira”.
Como se vê, muitos tentaram, mas ninguém conseguiu definir este sentimento tão profundo e complexo. Um verdadeiro paradoxo que transpassa o tempo e a razão. Ora, mas quem usa a razão quando ama?
Alexandra A.S. Fernandes: Graduada em Letras – Português/Espanhol pela UNIP. Pós-graduada em Metodologia de Ensino das Línguas Portuguesa e Espanhola pela UCAM. Autora do livro – Autismo – Ensinar aprendendo e aprender ensinando. Diretora Social e Acadêmica da ACILBRAS. Funcionária pública e Professora de Análise Linguística do Piconzé Anglo e HF Cursos Jurídicos. Escritora, Terapeuta Integrativa, Astróloga e Artesã. Redes sociais: Instagram @profa_alexandra e @aora_terapias; Youtube Profa. Alexandra – Tirando dúvidas de português.