Em artigo recente, alertei que a COP 28 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, de 30 de novembro a 12 de dezembro, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, seria decisiva para que os países passassem a cumprir o Acordo de Paris, limitando em 1,5 grau Celsius o aquecimento terrestre em relação ao período pré-industrial. Vencer esse desafio é uma responsabilidade dos governos, empresas, organizações da sociedade civil e todo cidadão.
Nesse contexto, é gratificante constatar que a indústria nacional vem fazendo sua parte, por meio de numerosas iniciativas voltadas à transição à economia verde. É o que demonstra pesquisa da CNI com empresários do setor de todo o Brasil: 90% adotam soluções para reduzir a geração de resíduos sólidos; 86% têm ações para otimizar o consumo de energia; e 83% implementam medidas para racionalizar o uso de água.
É interessante observar, por outro lado, as expectativas dos industriais quanto às ações prioritárias para que o setor ajude mais o País na jornada da descarbonização. Dentre os entrevistados, 27% apontam a modernização de máquinas; 23%, a utilização de energia proveniente de fontes renováveis; 19%, investimentos em tecnologias de baixo carbono; 14% priorizam o investimento em inovação; e 10% consideram relevante o acesso ao financiamento.
Todos esses fatores são fundamentais, conforme defendemos no estudo Diretrizes Prioritárias Governo Federal 2023-2026, elaborado pela Fiesp/Ciesp, que contém subsídios para adoção de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento. Sem dúvida, o crescimento sustentável do PIB passa, necessariamente, pelo fortalecimento e modernização da indústria, que já demonstra, com ações práticas, sua vocação para a governança ambiental, social e corporativa (ESG).
É notável o consenso entre os empresários e as entidades representativas do setor de que, além de repensar o papel da produtividade, a abordagem atual sobre o avanço da indústria está atrelada às estratégias de redução das emissões de carbono. A competitividade implica o uso eficiente dos recursos naturais e o progresso tecnológico. Assim, é crucial que o programa de neoindustrialização implementado pelo governo contemple esses requisitos.
O fomento industrial ancorado na sustentabilidade, além de gerar empregos em grande volume e qualificados, agregar valor à pauta de exportações e promover inovação e aporte tecnológico, representará um expressivo diferencial competitivo. Afinal, são imensas as potencialidades do País nas áreas da bioenergia, descarbonização, créditos de carbono e produção fabril limpa, atendendo aos anseios cada vez maiores da população mundial quanto aos bens e produtos com “selo verde”. Ou seja, ao mesmo tempo em que ajudaremos o planeta a respirar melhor, viabilizaremos a inclusão socioeconômica e a melhoria da vida de milhões de brasileiros. O futuro é, cada vez mais, verde e tecnológico.
*Rafael Cervone – engenheiro, empresário e presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).