NEGÓCIOS – Olavo Tarraf fala sobre economia e sucessão familiar

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  • Elma Eneida Bassan Mendes Especial para Revista Vida&Arte –

Ele tem plena convicção da sua função nessa vida. Encontrar futuro no presente. Olhar adiante das barreiras. Mesmo quando um bilhão de pessoas estão confinadas no mundo como forma de evitar o contágio do novo coronavírus. Mesmo com perspectiva tão ruim, de recessão mundial e tantos desafios pela frente, ele não perde a fé, sua parceira de vida e de muitas histórias.

Neto de Nametallh Yussef e Elmaz El Nakhel e filho de Antonio Zaia e Danda, Olavo descende da família Tarraf, em Rio Preto sinônimo de negócios e prosperidade. Os avós que em 1920 desembarcaram no Brasil, fugidos da guerra no Líbano, trouxeram no sangue o espírito empreendedor que circula nas gerações dos Tarraf. No caso de Olavo, presidente da Tarraf Empreendimentos Imobiliários, os valores dos patriarcas se perpetuam em coragem, atitude. Mesmo que isso custe a cisão do grupo familiar original para alçar voo solo rumo ao sonho. De pequena e incipiente construtora, a empresa é hoje uma das mais tradicionais e inovadoras no segmento de incorporação imobiliária, com mais de 1,5 milhão de metros quadrados de área construída. O grupo empresarial que Olavo preside, com mais de 65 anos de história, também atua nos setores automotivo, agronegócio e administração de consórcios. Neste momento em que uma grave e séria crise se avizinha no Brasil e no mundo, e com tantos negócios e responsabilidades sob o seu comando, o que não lhe falta é otimismo. Diz ele: “o fogo vai passar e as árvores com boas raízes vão ficar, vão refazer suas folhas, flores e frutos. O que era apenas palha vai sucumbir. A fé reconstrói tudo, desde o início dos tempos.” Na entrevista a seguir, a visão de Olavo, de coragem e fé para além do caos.

 

V&A – Diante deste cenário tão inesperado, na sua opinião, como ficará a economia brasileira e mundial?

 

Olavo Tarraf – A tragédia é recente, traumática, violenta, mas não é a primeira nem será a última. Precisamos nos unir, baixar o tom populista, pensar grande e agir rápido. Mesmo assim, infelizmente as perspectivas são muito ruins. Nos Estados Unidos, por exemplo, que é a maior potência econômica do mundo, o buraco do desemprego que se estima é dos atuais 3 para 30%, ou seja, 27% a mais de desempregados. No Brasil estamos hoje com mais de 11 milhões de desempregados e as previsões estimam que haverá um aumento significativo desse número. É uma coisa absurda o que pode acontecer: empresas vão quebrar, podemos chegar a 20 milhões de desempregados e haverá um provável e consequente aumento da violência. Morrem assassinadas 60 mil pessoas por ano no Brasil com a violência; imagine se o desemprego duplicar até o final do ano! Muita gente vai ficar numa situação difícil, principalmente, claro, os mais pobres, os pequenos negócios e autônomos. Por essa ninguém esperava e, ao meu ver, o lockdown (bloqueio, em inglês) nos moldes que está sendo feito, não está certo. A crise econômica será mais devastadora do que o vírus. Muitas pessoas estão em pânico e ainda não perceberam que a diferença entre o remédio e o veneno é a dosagem. Uma grande parte da imprensa está jogando contra, levando o País para o abismo nessa onda de pessimismo. De alguma maneira temos que combater e mostrar que o melhor caminho não é binário, temos que ser protagonistas.

V&A – As medidas de isolamento deveriam ser menos abrangentes, então?

Olavo Tarraf – Eu acredito que sim. O que estamos vendo hoje são medidas impensadas, inconsequentes e populistas. Há um desalinhamento visível e desastroso das ações entre Federação, Estados e Municípios. O lockdown generalizado irá arruinar a economia e limitar a sobrevivência de milhões de pessoas. O plano deve ser rápido, urgente, mas estratégico e único. Coreia do Sul, Singapura, Japão e Israel fizeram o lockdown rígido do grupo de risco, não de toda a população. No Brasil também deveríamos estar fazendo isso. Isolar de forma rígida, eficaz os mais vulneráveis. As pessoas mais novas, saudáveis, continuarem na rua, trabalhando para a economia não parar. Assim, com o contágio mais rápido haveria a criação mais acelerada de anticorpos, mais chances de elevar mundialmente a resistência ao vírus. Posso citar um artigo publicado há poucos dias no The New York Times pelo Dr. David Katz, diretor do Centro de Prevenção e Pesquisa da Universidade de Yale e especialista em saúde pública e medicina preventiva. Ele diz que há três objetivos neste momento: salvar tantas vidas quanto possível, garantindo que o sistema de saúde não entre em colapso, mas também garantir que no processo de atingir os dois primeiros objetivos não destruamos nossa economia e, como resultado disso, ainda mais vidas.” Segundo o mesmo Dr. Katz, “uma abordagem cirúrgica e vertical focaria em proteger e isolar os que correm maior risco de morrer ou sofrer danos de longo prazo — isto é, os idosos, pessoas com doenças crônicas e com baixa imunidade — e tratar o resto da sociedade basicamente da mesma forma que sempre lidamos com ameaças mais familiares como a gripe.” É o que eu penso. Numa guerra como esta, os jovens e saudáveis vão para frente de batalha. Estes têm 99% de chance de criarem os anticorpos necessários, sem superlotarem as UTIs.

 

V&A – O sr. já se reuniu com outros empresários do setor imobiliário e dos outros setores de atuação do Grupo Tarraf para avaliar as consequências dessa crise extrema?

 

Olavo Tarraf – Com certeza. Os empresários brasileiros estão se reunindo e discutindo as saídas. Na verdade, vamos precisar de um novo Plano Marshall, que foi a estratégia montada pelos EUA para a reconstrução de países europeus devastados pela Segunda Guerra Mundial. Assim será possível salvar a economia brasileira do “caos social”. Serão necessárias ações de grande impacto por parte da União. O Federal Reserve (FED) já se adiantou e lançou medidas importantes de recuperação, com uma gama nunca vista de crédito para famílias, pequenas empresas e grandes empregadores. Eu acredito que os EUA puxarão esse tom único dos países aliados com dinheiro do FED. Existem grupos de empresários conversando e alinhando esse pensamento com o governo federal. Não há outra forma: precisamos manter a cadeia produtiva em movimento. Os empresários no Brasil e o mundo não podem parar. Criar uma empresa é difícil, mas ressuscitá-la é muito mais difícil.

 

V&A – Como o Brasil vai acordar depois do pesadelo?

 

Olavo Tarraf – O Brasil e o mundo vão entender que haverá o day after. Mas fica difícil demais hoje ter uma visão e atitudes responsáveis com o amanhã quando todos estão aterrorizados e políticos oportunistas sempre apostando na teoria do caos, do quanto pior melhor para suas popularidades. É hora de observarmos as árvores individualmente, sem perdermos a visão da floresta. Da forma como está, e o que poucos conseguem enxergar, é que haverá o day after e vamos precisar da força dos empresários e da visão estratégica do governo. Mas creio que vamos, sim, reconstruir o Brasil com competência estratégica. Somos uma influente Nação na economia global e vamos superar tudo isso!

 

V&A – A Tarraf mudou de casa, alma e coração para a Avenida JK. Por quê?

 

Olavo Tarraf – Tem a ver com a lógica dos nossos produtos e a continuação da nossa história. No começo éramos uma construtora, fazíamos até obras públicas. Mas não era o nosso sonho e paramos. Começamos a construir para outras empresas. Aí percebemos que era hora de erguer os nossos próprios empreendimentos. Essa metamorfose foi deixando a gente mais com a cara do mercado. Do Distrito Industrial mudamos para a Redentora e agora para o Duo JK, obra que revolucionou a cara da avenida. Essa sede abriga toda a equipe, anfiteatro e uma house de venda direta.

 

V&A – As previsões de crescimento do Brasil e da Tarraf parecem ter sido adiadas diante de todo esse cenário. Isso o entristece ou abate? Qual lição você, seu filho e seu grupo empresarial vão tirar desse momento?

 

Olavo Tarraf – Claro que me entristece, principalmente como cidadão brasileiro que está prestes a ver pessoas sofrendo próximas de si ou vendo sua nação desunida com oportunistas e corporativistas que não tomam atitudes realmente voltadas para a população. Mas, abater, jamais! Sou sempre grato a Deus por tudo que tenho e sou. Estaremos de cabeça erguida, prontos para trabalhar, ajudar e desenvolver todos os projetos que idealizamos. Não importa se serão adiados, mas vamos continuar sonhando e gerando empregos. Enquanto existir a fé, a esperança é viva, saudável e disposta a reconstruir e reaprender com os percalços.